O setor do turismo de Timor-Leste sofreu uma queda de até 95% nas receitas devido à queda do consumo interno e nas chegadas ao país por causa da pandemia de Covid-19, segundo uma análise preliminar ao setor.

A estimativa é feita num estudo preliminar sobre o setor do turismo em Timor-Leste no contexto da pandemia de Covid-19, feito pelo programa Tourism for All, financiado pela USAid e que sugere algumas medidas para reativar o setor.

O programa conversou com proprietários e operadores de empresas do setor turístico nas principais cidades de Timor-Leste que apontaram uma “pressão sem precedentes em restaurantes, hotéis e empresas de viagens que têm grandes dificuldades em manter as portas abertas, manter empregos e pagar custos operacionais básicos (incluindo renda).

Quase metade das empresas ouvidas fechou as suas operações por completo e os ainda abertos estão com níveis bastante reduzidos de atividade, sendo que a quase totalidade referiu quebras de negócio elevadas.

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A falta de clientes e, por isso, de rendimento, o desafio em conseguir pagar salários, fraquezas na cadeia de fornecimento e incerteza sobre a retoma são alguns dos desafios apontados.

Uma situação que já era grave devido ao impasse político no país e que se agravou com a pandemia de covid-19, com a saída de muitos estrangeiros do país, o fecho das fronteiras e as medidas do estado de emergência.

“Desde 2016, 2017 que a economia de Timor-Leste está a lutar devido a sucessivas incertezas política, refletindo fortes restrições nos investimentos públicos, o que contraiu a economia”, refere uma porta-voz de uma associação empresarial de mulheres, citada no estudo.

“A covid-19 está a piorar as coisas. Tornará a situação insuportável se nenhuma ação imediata for tomada”, disse, referindo-se à desaceleração do setor público, principal motor da economia, e a falta apoios ao setor privado.

Responsáveis hoteleiros, por seu lado, referem os desafios do país, incluindo a burocracia, agravadas pelo que diz ser um desadequado entendimento sobre as medidas do estado de emergência, inclusive por parte dos agentes policiais.

“Em alguns casos a polícia tentou impor regularmente condições fora do decreto. Mais clareza nas regras ajudaria empresas como a nossa a adaptar-se de acordo com as medidas”, referiu.

Opinião ecoada por um proprietário de um restaurante que pediu ainda “informações e comunicações mais rápidas e consistentes sobre as medidas de resposta económica à covid-19” que ainda não foram implementadas.

Um operador local no setor do mergulho – um dos mais procurados por residentes locais e visitantes estrangeiros a Timor-Leste, aponta queda de 100% no negócio, referindo que se agravou o que já era um mercado difícil, com “preços exorbitantes de voos, investimentos públicos mínimos em infraestruturas, mesmo os de pequena escala como cais para as pessoas embarcarem em barcos, e até regulamentos”.

Um fornecedor e comerciante do setor do artesanato explica que as lojas estão fechadas e que artesãos comunitários em todo o país tiveram de parar as suas atividades.

“Mesmo que o estado de emergência dure só um ou dois meses, na realidade, a recuperação da nossa atividade pode demorar muito mais, porque depende do retorno à atividade económica normal e ao regresso dos residentes e visitantes”, disse.

“Isso vai demorar e não vai acontecer imediatamente após o estado de emergência. A capacidade da nossa empresa de cobrir os salários dos funcionários, quando estamos sem rendimentos, vai-se esgotar rapidamente”, notou.

Operadores confirmam que as visitas de grupo que estavam previstas para este ano estão todas canceladas, afetando o que é tradicionalmente a época mais alta para o setor.

“Estamos a fechar escritórios, porque não temos marcações e não vamos poder renovar os contratos de trabalho”, explicou um operando, referindo que é quase como “colocar o negócio em hibernação para que ele possa ser reativado quando a crise acabar”.