O dia começou no CEiiA – Centro de Engenharia e Investigação Automóvel e Aeronáutica, em Matosinhos, onde o Primeiro-Ministro viu ventiladores 100% portugueses, desenvolvidos em 45 dias, prontos a serem estreados no Hospital de Santo António, no Porto. Atravessou a ponte para Vila Nova de Gaia e por lá foi recebido, pouco depois das 12h, pelo autarca Eduardo Vítor Rodrigues, o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e muitos populares.

De máscara reutilizável no rosto, mesmo a condizer com o fato azul escuro, António Costa cumprimentou as pessoas à distância, incluindo bombeiros e elementos da polícia municipal. Ouviu queixas de falta de máscaras, parabéns e elogios, não apenas à sua máscara, mas também ao seu papel político.

Recusou selfies para cumprir o distanciamento social, mas no interior do metro essa preocupação parece ter sido completamente esquecida. Faltavam dois minutos para um veículo com destino ao Hospital de São João abrir as portas. Rodeado pela comitiva, jornalistas e forças de segurança, o líder do Executivo fez a curta viagem de pé e surpreendeu muitos passageiros que, em bicos de pés, tentavam perceber o que se estava a passar.

Ao chegar à estação da Trindade, já do outro lado da ponte, Costa é recebido por Rui Moreira, autarca do Porto, que horas antes tinha ido cortar o cabelo ao seu barbeiro habitual. Juntos visitam várias lojas do comércio tradicional, a maioria abertas desde esta segunda-feira, primeiro na Rua Fernandes Tomás e depois em Santa Catarina.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Primeiro-Ministro entrou em lojas de roupa interior, mercearias e sapatarias, cumprimentou comerciantes com o cotovelo, uns mais animados do que outros, ouviu o feedback dos primeiros dias de negócio, certificou-se que as normas de segurança e higiene estão a ser cumpridas e até fez compras na loja portuguesa Parfois. O laço no saco fechado deixa adivinhar que será um presente.

Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, recebeu António Costa na baixa da cidade

O aparato foi grande e a distância social voltou a não ser cumprida, mas o Primeiro-Ministro tinha uma mensagem “muito clara” para passar. “Os comerciantes estão a precisar de ânimo, é muito importante as pessoas irem ganhando confiança”, disse, sublinhando a ideia de que todos “podem viajar em segurança nos transportes públicos e podem ir com segurança ao comércio local”.

Há mesmo quem tenha vindo à varanda de casa perguntar a razão de tanto movimento, uma agitação justificada por Costa. “É importante que todos vamos vencendo o receio legítimo que temos relativamente à situação que se vive.” Até porque, segundo o líder do Governo, só assim a economia avançará. “A melhor forma que temos para ajudarmos a economia é começar a dar os primeiros passos.”

António Costa aproveitou a visita ao Porto para reforçar a ideia de que a austeridade não será um caminho a seguir na resposta a esta crise. “As crises não se vencem com a austeridade. Ora a austeridade já provou que não é boa forma de tratar crises e, seguramente, o que esta crise precisa não é de austeridade.” Aos jornalistas, Costa defendeu que colocar a austeridade em cima desta crise seria aprofundá-la. “Não vale a pena terem essa obsessão do regresso a austeridade, creio que não deixou saudades a ninguém.”

Houve quem pedisse máscaras ao Primeiro-Ministro e fosse atendido

São muitas as pessoas que se cruzam com o líder do Governo no passeio, fazem questão de o abordar e é ele próprio que as ajuda a ajustar a máscara “como deve ser”. “Sr. Primeiro Ministro quer um cafezinho?”; “Não, obrigada, já tomei.”; “Sabe o que é que eu queria mesmo? Uma máscara.” Perante este pedido, Costa tira imediatamente uma das máscaras que tem embaladas no bolso e oferece-a com um sorriso.

Na Casa Navarro é a vez de João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, fazer compras e escolher um cinto reversível. “É ótimo para ir de viagem”, confidencia a Rui Moreira, que responde bem humorado: “agora é que vamos apertar o cinto”. Ao entrar numa Rua de Santa Catarina praticamente vazia, o presidente da Câmara Municipal do Porto afirma que “aqui é que se nota uma grande diferença”. Não precisava de o dizer, a paisagem fala por si.