A Iniciativa Liberal recusou esta sexta-feira liminarmente participar na proposta do Chega para confinamento específico da população cigana devido à pandemia, considerando que o verdadeiro objetivo deste desafio de André Ventura aos outros partidos “é o de obter vantagens eleitorais”.

Numa carta, a que a agência Lusa teve acesso, assinada pelo deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, os liberais respondem ao também deputado único do Chega, André Ventura, que propôs ao PSD, CDS e Iniciativa Liberal que apresentassem uma iniciativa conjunta para traçar um “plano específico para as comunidades ciganas em matéria de saúde e segurança”.

“O facto de a questão ter sido colocada da forma que foi e dirigida apenas aos partidos da área não-socialista, leva a Iniciativa Liberal a concluir que o verdadeiro objetivo do desafio é o de obter vantagens eleitorais à custa destes partidos e não o de combater as forças socialistas e estatizantes no parlamento”, acusou.

Em relação “ao fundo da questão”, a Iniciativa Liberal “recusa liminarmente participar na definição de um ‘plano específico para as comunidades ciganas em matéria de saúde e segurança'”.

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“Percebemos pela forma como foi publicamente anunciada que a designação utilizada na carta se traduz num “plano de confinamento”, o que nos remete para momentos da história que a todos devem unir na recusa. Quem conhece os nossos princípios entenderá facilmente os motivos desta nossa rejeição, mas, para que não haja quaisquer equívocos, convirá repeti-los”, justifica.

Para os liberais, “cada pessoa é individualmente responsável pelos seus atos” e, por isso, o partido não vê “grupos, e muito menos etnias”, quando discute “legislação que se aplica a todos os portugueses”.

“A Iniciativa Liberal aspira a criar uma sociedade em que cada pessoa se sinta livre de aproveitar as oportunidades que deverão estar disponíveis para todos, responsabilizando-se individualmente pelas suas opções. Uma sociedade de pessoas capazes de aproveitar as oportunidades, e não de pessoas oportunistas”, afirma.

João Cotrim Figueiredo começa a sua resposta por estranhar o facto de os liberais terem sido “desafiados publicamente e só posteriormente, por carta, a tomar posição numa matéria que nunca tinha sido abordada pessoalmente”, apesar de ocuparem “gabinetes no mesmo corredor do parlamento”.

Na quarta-feira, André Ventura, garantiu que “não voltará atrás” na proposta para um plano específico de “abordagem e confinamento” para as comunidades ciganas, e que apresentará essa iniciativa mesmo sem apoio de outros partidos.

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, em Lisboa, o presidente demissionário do Chega afirmou que “não voltará atrás nesta proposta” e que já estava a estabelecer contactos com PSD, CDS e Iniciativa Liberal “para que esta proposta vá avante, visto que considera que é necessário uma abordagem específica ao caso da comunidade cigana em Portugal”, tendo pedido reuniões aos líderes dos três partidos.

Questionado sobre o que fará se não tiver o apoio das outras forças políticas, André Ventura respondeu que “vai avançar com esta proposta sozinho”.

No debate quinzenal, um dia depois, Catarina Martins disse ao deputado do Chega que “as ideias racistas” como o confinamento de ciganos “hão de ir parar ao caixote de lixo de onde nunca deviam ter saído”.

Depois, foi a vez do primeiro-ministro, António Costa, que salientou que “não há nenhum problema” com a comunidade cigana e criticou o deputado André Ventura, que “foi de trivela” e levou “um baile do Quaresma”, em referência à resposta do jogador.

Várias associações e figuras públicas, incluindo Francisco Louçã, Ana Gomes e Ricardo Quaresma, subscreveram um abaixo-assinado a repudiar as declarações do deputado do Chega sobre a comunidade cigana.

Através de uma publicação na sua conta oficial da rede social Facebook o futebolista Ricardo Quaresma criticou que “o populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder, que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”.