A líder do Bloco de Esquerda considera “preocupante” que o ministro das Finanças, Mário Centeno, tenha autorizado um empréstimo no valor de 850 milhões de euros ao Novo Banco sem informar o primeiro-ministro e “inadmissível” que esta injeção do Fundo de Resolução tenha sido feito antes de ser concluída a auditoria ao banco. Em entrevista à TSF, Catarina Martins revelou que o Bloco de Esquerda vai voltar a levar ao Parlamento uma proposta — que já tinha apresentado no Orçamento do Estado para 2020 — que impõe uma “norma que qualquer injeção no Novo Banco tem de ser previamente aprovada pelo Parlamento”.

Na primeira vez em que o Bloco de Esquerda tentou aprovar esta proposta, a mesma acabou chumbada com os votos contra do PSD. Os sociais-democratas apresentaram, no entanto, uma proposta em que os empréstimos superiores a 850 milhões de euros tinham de ser aprovados. Ora, foi precisamente esse o valor que agora foi transferido. “Agora vejo como o PSD está chocado, mas tem oportunidade de rever a sua posição”, diz Catarina Martins, que espera que os sociais-democratas aprovem, desta vez, a norma. E acrescenta: “Não podemos ter injeções como esta que nem o primeiro-ministro sabia.”

A líder bloquista diz que acredita na palavra do primeiro-ministro e tentou ainda desvalorizar o trabalho de Mário Centeno à frente do ministério das Finanças ao dizer que “se as contas públicas melhoraram deve-se à economia estar muito melhor por motivos internacionais e por medidas tomadas no país”. E ainda acrescentou: “No Bloco preferimos equilíbrio das contas públicas a longo prazo (…) e o facto de Mário Centeno ter [abrandado] o investimento levou-nos a não estar tão preparados nesta crise”.

Bloco disponível para negociar orçamento suplementar com governo

Na mesma entrevista Catarina Martins disse que PS “terá alguma tentação” para se juntar à direita para aprovar o orçamento suplementar, mas diz que o Bloco de Esquerda estará disponível para negociá-lo à esquerda: “Não será por falta de disponibilidade do BE que o PS procurará a direita para obter a maioria de que necessita”. Catarina Martins adverte, no entanto, que, em algumas circunstâncias o “PS tem preferido o PSD”.

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Sobre a TAP, Catarina Martins regista que o “Governo tem dado sinais contraditórios”. A líder bloquista diz que “a direita quer que o Estado injete todo o dinheiro possível nas empresas privadas, mas não mandem nada”. Ora, para Catarina Martins, “se é o Estado a pagar, deve ser o Estado a mandar”. Durante a última crise, recorda a líder bloquista, foi aprendida a lição de que não se podem “nacionalizar os prejuízos para depois os lucros serem privatizados. E avisa: “Portugal não pode ficar sem a TAP”.

Festa do Avante deve realizar-se? Catarina Martins diz que é preciso “seguir a ciência”

Catarina Martins não tem dúvidas que a Festa do Avante! é uma “ação política”, mas é também “um festival” e, por isso, “toda a gente reconhece o Avante como uma grande festa, um grande festival”. Sobre se deve ou não realizar-se a líder bloquista diz que tem “dificuldade em perceber quem já sabe hoje como vai ser o primeiro fim-de-semana de setembro”. E por isso deixa um conselho: “Nesta questão, como em todas as outras, é preciso seguir a ciência.

Relativamente ao crescimento do Chega de André Ventura, Catarina Martins diz que “existe um fenómeno” de populismo “em toda a Europa” e que “o Chega parece estar a substituir o espaço do CDS”. A líder do BE diz que “quando há precariedade, o desespero é grande”, o que torna “fácil o discurso populista que põe os pobres contra os miseráveis” E atira: “É um discurso mentiroso.” O discurso de Ventura, adverte Catarina Martins, é um “discurso que a Europa conhece muito bem e que levou à II Guerra mundial”.