Graça Freitas sublinhou que o regresso da Primeira Liga de futebol não tem “risco zero” e que “todos os autores têm nível de responsabilização”. Na habitual conferência de apresentação dos números diários da situação epidemiológica do país, a diretora-geral da Saúde respondeu principalmente às críticas de alguns jogadores, do FC Porto e do Sporting, que se mostraram contra o ponto do Código de Conduta da Direção-Geral de Saúde (DGS) para o futebol que refere que todos “assumem o risco de infeção”.

“Quanto à responsabilização, é óbvio que em qualquer processo em que o risco não é zero todos os autores têm nível de responsabilização. É um código aceite pelas partes envolvidas. É como quando vamos fazer uma cirurgia e damos o consentimento”, disse Graça Freitas. A titular da autoridade de saúde acrescentou ainda que o trabalho que está a ser feito com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem o objetivo de “minimizar o aumento de casos positivos” e que isso se alcança com “medidas de maior isolamento social possível”. A diretora-geral da Saúde recusou ainda comentar a possibilidade de a DGS acabar por desaconselhar o regresso do futebol, devido aos casos positivos detetados nos últimos dias, garantindo que se trata de “futurologia”.

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Também o secretário de Estado da Saúde comentou o tema do futebol, dando conta de um “trabalho muito próximo entre a DGS e a FPF”, onde os “níveis de responsabilidade estão muito bem definidos”. António Sales concluiu ainda que “obviamente que se cada uma das partes fizer o seu trabalho” tudo vai decorrer sem problemas”.

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“Sabemos que as creches são um sítio para brincar”

Outro dos tópicos abordados na conferência de imprensa foi a reabertura das creches — e o consequente impedimento da partilha de brinquedos. “Sabemos que são um sítio para brincar e que estas crianças são muito pequeninas e não é possível impor a estas crianças regras de comportamento”, explicou Graça Freitas, ressalvando que “devemos fazer tudo, mas tudo, o que for possível”.

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A diretora-geral da Saúde deu exemplos, como a possibilidade de se “desdobrar turmas”, de evitar que o “máximo número de meninos se juntem” e ainda a hipótese de “pedir que cada menino tenha o próprio colchão” na hora da sesta. “Não vamos impedir o normal desenvolvimento dos meninos. Não podendo os meninos utilizar uma máscara, os adultos devem fazê-lo sempre”, concluiu Graça Freitas.

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A diretora-geral da Saúde falou ainda sobre as evidências de sequelas que estão a ser detetadas noutros países.  “Há estudos internacionais que indicam que sim, que algumas sequelas a curto prazo já se podem verificar”, referiu Graça Freitas, que ressalvou que em Portugal “terá de ser feito um estudo ou vários estudos pelos clínicos com base nos relatórios de acompanhamento o destes doentes”. Estes estudos serão feitos pelos hospitais, “depois de resolvida a situação aguda em que os doentes continuam a ser acompanhados”, com a análise dos “casos que tiveram determinado tipo de gravidade”, para verificar se “os órgãos têm ou não outro tipo de lesões que, em princípio, poderão ser ou não permanentes”, explicou a diretora-Geral da Saúde, que detalhou depois que o acompanhamento aos doentes recuperados será efetuado em duas fases.

“Vão surgir protocolos de follow up destes doentes, com dois tipos: mais perto da saída do hospital, vão ser acompanhados pelos médicos dos hospitais que seguiram a patologia no hospital; depois, com o retorno à vida comunitária e dependendo das sequelas, serão seguidos pelos próprios médicos de medicina geral e familiar”, indicou Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde deixou também um apelo à vacinação das crianças, recordando que é necessário evitar “outras doenças infecciosas”, e um “agradecimento à Ordem dos Farmacêuticos e aos farmacêuticos em geral e às farmácias em Portugal”, que têm estado a incentivar a vacinação. Graça Freitas revelou ainda que a criança com sintomas compatíveis com a Doença de Kawasaki depois de ter contraído Covid-19 “está a evoluir bem”, sublinhando que é ainda “a única situação” de que há registo no país.

Por fim, António Sales deu atualizações sobre a capacidade de testagem nacional. “Desde dia 1 de março foram feitos 547 mil testes e de 1 a 10 de maio foram realizados mais testes do que durante todo o mês de março, numa média de 13.100 testes por dia”, disse o secretário de Estado.

Sales acrescentou ainda que “está previsto” que continuem a chegar “com regularidade” Equipamentos de Proteção Individual, tanto a partir do mercado externo como interno. “Esta semana devem chegar dois milhões de máscaras cirúrgicas e 1,2 milhões de respiradores”, detalhou António Sales, garantindo que isto assegura uma “certa estabilidade de renovação de stocks“.