Nos interrogatórios ao pai e à madrasta de Valentina Fonseca, ambos suspeitos da morte da criança de nove anos, os dois arguidos optaram por prestar declarações e responder às perguntas do juiz de instrução, apesar de terem o direito de não o fazerem. A madrasta da criança foi ouvida em primeiro lugar e abandonou logo de seguida as instalações do Tribunal de Leiria, rumo à Polícia Judiciária. O pai foi interrogado depois e só saiu do tribunal por volta das 18h30.

Os suspeitos da morte da criança de nove anos começaram a ser interrogados por volta da hora do almoço. A essa hora ficou a saber-se que as medidas de coação só serão conhecidas esta quarta-feira, pelas 12h00, segundo informou a oficial de justiça num comunicado lido aos jornalistas à porta do tribunal. O magistrado é o mesmo que conduziu a fase de instrução do processo que investigou eventuais crimes por negligência nos incêndios de Pedrógão Grande.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Os dois suspeitos chegaram ao Tribunal de Leiria às 10h42 desta terça-feira.  À chegada dos dois carros da Polícia Judiciária (PJ) às instalações do tribunal, algumas dezenas de pessoas que aguardavam o casal começaram a correr para se aproximarem dos suspeitos, gritando insultos. A polícia teve de intervir para afastar o grupo.

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Uma vez que os arguidos optaram por prestar declarações e contar ao juiz de instrução a sua versão dos factos, serão ouvidos à vez e em separado. Antes disso, a fase que é obrigatória e à qual não podem recusar responder: a identificação, que já decorreu durante a manhã. Aqui, terão de fornecer ao juiz os seus dados pessoais, como nome, idade, morada, profissão e estado civil. Terminado o interrogatório, o juiz irá decidir se o casal se mantém detido, ficando a aguardar os próximos passos judiciais em prisão preventiva — a medida de coação mais grave —, ou se pode ser libertado com outras medidas de coação. Uma decisão que só será conhecida esta quarta-feira.

Sandro e Márcia Bernardo foram detidos no domingo por suspeitas dos crimes de homicídio qualificado e profanação de cadáver. Isto porque, segundo a investigação, terão matado a filha e enteada no interior da casa, na Atouguia da Baleia, na tarde de quarta-feira. Depois, terão abandonado o seu corpo a cerca de oito quilómetros, tapado com uns ramos, num eucaliptal a cerca de oito quilómetros. Os resultados preliminares da autópsia ao corpo da criança apontam para uma morte violenta.

Da serenidade durante a buscas à postura derrotista na reconstituição do homicídio da filha. O comportamento do pai de Valentina

Nos dias que se seguiram, o casal simulou o desaparecimento de Valentina, tendo mesmo sido levadas a cabo buscas para a encontrar. Três dias depois de terem alertado as autoridades para o seu desaparecimento, foram detidos, suspeitos de envolvimento na morte da criança.

Já durante a tarde de domingo o pai da criança terá dado informações à PJ sobre o local onde se encontrava o corpo, mas não confessou o homicídio. Ainda assim, na conferência de imprensa dada nesse dia, a PJ recusou a hipótese de Valentina ter morrido em consequência de um acidente. O pai e a madrasta foram indiciados pelos crimes de homicídio e profanação de cadáver, embora sejam responsáveis em “graus diferentes” dos crimes de que são indiciados, segundo disse ao Observador fonte da PJ.

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Ainda de acordo com a investigação, a morte “à partida” não terá sido acidental. A menina terá sido morta em casa, na tarde de quarta-feira, e o corpo transportado para o local onde foi encontrado nessa mesma noite, “possivelmente de carro”. Não há quaisquer indícios de que Valentina fosse vítima de maus tratos por parte do pai ou da madrasta, garantiu ainda Fernando Jordão, coordenador no da PJ, no Departamento de Investigação Criminal de Leiria.

Na origem do crime, segundo a PJ, terão estado “questões internas do funcionamento da família”. A criança estava em casa do pai “há algum tempo” durante o isolamento social necessário em virtude da pandemia da Covid-19. Na casa onde ocorreu o crime, estariam ainda mais três crianças uma com cerca de “11/12 anos, uma de quatro anos e outra de meses”, acrescentou Fernando Jordão, não detalhando se as crianças assistiram ao momento em que Valentina morreu.

Valentina teve uma morte violenta, com lesões na cabeça e indícios de asfixia, indica o resultado preliminar da autópsia

Entretanto, foi conhecido o resultado preliminar da autópsia à criança que aponta para uma morte violenta, com lesões na cabeça e indícios de asfixia. Segundo o documento, embora haja indícios de asfixia, Valentina terá sofrido agressões em várias partes do corpo, o que lhe causou diversas lesões, incluindo na cabeça.