O pediatra angolano Luís Bernardino considerou esta quarta-feira que foram feitos “muito poucos” testes de despistagem da Covid-19.

Até agora, “pouco mais de cinco mil testes” foram feitos em Angola, disse Luís Bernardino, numa intervenção durante um “webinar” [seminário online] promovido pela Fundação Rui Cunha e pelo jornal Plataforma, ambos de Macau, subordinado ao tema “Vamos desconfinar? Saúde Pública Opções Privadas”.

“Há casos locais, mas só foram detetados 45”, disse o médico, para salientar a “grande discrepância” entre os países africanos, recorrendo ao exemplo vizinho da República Democrática do Congo, onde estão contabilizados mais de mil casos.

O sistema de saúde angolano é “menos organizado” e com a epidemia “o pessoal de saúde foi desmobilizado” e “trabalha dia sim, dia não”, indicou, durante o ‘webinar’, que contou com a participação dos médicos Mónica Pon (Macau) e Mário Freitas (Portugal).

A mão de obra já foi reduzida, mas não deve ficar em casa (…) deve procurar enquadrar-se noutros serviços e necessidades”, alertou Luís Bernardino, acrescentando que a população tem medo de ir aos hospitais devido à Covid-19.

Sobre o desconfinamento em Angola, numa altura em que vários países atingidos pela pandemia começam a pôr fim ao confinamento social, o pediatra salientou que “ainda não é palpável qual é a epidemia”.

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Já o médico português Mário Freitas defendeu que Portugal “foi uma espécie de milagre”, quer em número de casos, como na taxa de letalidade. “Temia-se o pior”, sobretudo devido às situações de Espanha e de Itália.

O confinamento é uma espécie de bomba atómica da Saúde Pública”, usado quando não há tratamentos nem vacinas, como acontece com esta doença, pois funciona “de uma forma relativamente rápida, tendo em atenção o comportamento natural do vírus, que tem um período de incubação de 14 dias”, destacou o também delegado de Saúde de Braga.

Quanto ao processo de desconfinamento, este tem de ser “sustentado epidemiologicamente”, alertou. “O grande problema é que as pessoas nos primeiros dias podem não ver um reflexo de comportamentos menos cívicos”, mas entre “15 a 20 dias” os serviços de emergência estarão sobrelotados, acrescentou.

“A segunda vaga ou próximas vagas serão aquilo que nós cidadãos fizermos”, advertiu Mário Freitas, para quem a Covid-19 é “a última pandemia antes da próxima, uma realidade que vai continuar”.

Para a médica de Macau, que só registou 45 casos da Covid-19 e onde há 35 dias não são identificadas novas infeções, “desconfinar não significa relaxar”.

Abrir fronteiras significa que podem surgir pequenos surtos de infeção na comunidade, como está a acontecer” em Wuhan, cidade chinesa onde a Covid-19 foi identificada em dezembro passado, ou na Alemanha, afirmou Mónica Pon.

Por isso, a internista do Centro Hospitalar Conde São Januário defendeu a necessidade de manter o distanciamento social, o uso de máscaras de proteção e a lavagem frequente das mãos, bem como “rastrear contactos, testar e manter alerta” em relação à doença.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 292 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Em Portugal, morreram 1.175 pessoas das 28.132 confirmadas como infetadas, e há 3.182 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, vários países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.