Uma equipa de investigadores australianos desenvolveu uma técnica com recurso a microalgas que permite que os corais fiquem mais tolerantes ao aquecimento dos oceanos, provocado pelas mudanças climáticas, tendo a descoberta sido esta quarta-feira anunciada.

“As mudanças climáticas reduziram a cobertura dos corais, e os corais sobreviventes estão sob pressão crescente à medida que as temperaturas da água aumentam, e que sobem a frequência e a gravidade dos eventos de branqueamento de corais”, realçou em comunicado Patrick Buerger, da Organização para a Investigação Científica e Industrial da Commonwealth (CSIRO), acrescentando que “os bancos de corais estão em declínio em todo o mundo”.

Os corais com maior tolerância ao calor têm o potencial de reduzir o impacto do branqueamento dos recifes causado pelas ondas de calor marinhas, que são cada vez mais comuns devido às alterações climáticas, de acordo com as conclusões da investigação que, além da agência científica australiana também envolveu investigadores do Instituto Australiano das Ciências Marinhas (AIMS) e da Universidade de Melbourne.

Os cientistas tornaram os corais mais tolerantes ao branqueamento induzido pelas crescentes temperaturas do mar através do reforço da tolerância ao calor de microalgas, numa tentativa bem-sucedida de aumentar a resistência do coral ao calor.

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As microalgas do coral foram isoladas e cultivadas em laboratório, usando a técnica da “evolução direcionada”, através da qual eles expuseram as microalgas a temperaturas cada vez mais quentes ao longo de quatro anos, o que as ajudou a adaptar e sobreviver a condições mais quentes.

“Quando as microalgas foram reintroduzidas em larvas de coral, a simbiose recém-estabelecida entre algas e corais foi mais tolerante ao calor em comparação com a original”, assinalou Patrick Buerger.

As microalgas foram expostas a temperaturas comparáveis às temperaturas do oceano durante as atuais ondas de calor marinhas do verão, que têm causado o branqueamento dos corais na Grande Barreira de Corais, localizada no nordeste da Austrália, e que é o maior organismo vivo da Terra, sendo visível até do espaço.

Com cerca de 2.300 quilómetros de extensão, a Grande Barreira é composta por milhares de recifes e centenas de ilhas feitas de mais de 600 tipos de corais duros e macios, abrigando inúmeras espécies de peixes, moluscos e estrelas-do-mar, além de tartarugas, golfinhos e tubarões.

“Descobrimos que as microalgas tolerantes ao calor são melhores na fotossíntese e melhoram a resposta ao calor do animal coral”, adiantou a professora Madeleine van Oppen, da AIMS e da Universidade de Melbourne, salientando que “estas descobertas empolgantes mostram que as microalgas e o coral estão em comunicação direta entre si”.

Segundo o grupo de investigadores, o próximo passo da investigação é testar ainda mais as linhagens de algas em colónias adultas numa variedade de espécies de corais.

“Este avanço fornece uma ferramenta nova e promissora para aumentar a tolerância ao calor dos corais e é uma grande vitória para a ciência australiana”, rematou Cláudia Vickers, professora da CSIRO.