O antigo presidente do CDS-PP Paulo Portas advertiu na terça-feira à noite que “gestos partidários” como a Festa do Avante! podem criar “um contraste” nas normas de combate à covid-19 que não seja aceite pela sociedade.

“Se nós formos uma só nação, as pessoas aceitam os sacrifícios em nome do bem comum, se começarem com gestos partidários as pessoas não aceitam o contraste”, afirmou o também ex-vice-primeiro-ministro.

Num debate promovido pela distrital de Braga do CDS-PP, liderada pelo eurodeputado Nuno Melo, Paulo Portas foi instado a dar a sua opinião sobre a realização de iniciativas que juntam um grande número de pessoas, como a manifestação do 1.º de Maio, ou a Festa do Avante!, em tempos de pandemia.

“Vivemos três estados de emergência […] e se isso existe é porque a questão da saúde pública prevalece sobre quaisquer outras”, salientou o antigo ministro, assinalando que “qualquer manifestação coletiva corre um risco enorme de se transformar num centro de contágio”.

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Segundo Paulo Portas, estas iniciativas — que também já foram criticadas pelo atual líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, — contrapõem-se “inexplicavelmente às medidas de confinamento, quarentena e distanciamento que as sociedades estão obrigadas a respeitar” durante esta pandemia provocada pela covid-19.

Depois de o Governo ter decidido a proibição de festivais de música até ao final de setembro, o primeiro-ministro, o socialista António Costa, admitiu a realização da Festa do Avante!, iniciativa que marca a ‘rentrée’ do PCP, desde que sejam cumpridas as orientações sanitárias da Direção-Geral da Saúde, porque a atividade política dos partidos “não está proibida”.

Outros dos temas no debate, que contou com uma média de 200 espetadores, foi a crise económica e social provocada pela pandemia.

Neste ponto, o antigo líder do CDS considerou que a Europa “agiu genericamente tarde” em termos económicos, observando que em meados de maio “ainda não há plano de ajuda aos estados aprovado em definitivo e está para junho o plano de recuperação”.

“Não me admirava que a economia americana caísse mais que a europeia, mas se levantasse mais depressa”, estimou, justificando que os norte-americanos “estão a tomar medidas de relançamento mais depressa e mais pragmaticamente do que os europeus, sem discussões ideológicas”.

Segundo o antigo governante, é possível que a “Europa saia disto ainda mais dividida entre ‘os que podem’ e ‘os que devem'”, sendo que “‘os que podem’ podem investir mais intensamente e recuperar mais depressa, enquanto ‘os que devem’ têm de pensar muito bem na fatura que chega, não amanhã, mas daqui a um ano”.

“A tradição anglo-saxónica é decidir mais depressa, fazer chegar o dinheiro mais depressa à economia e recuperar mais depressa, enquanto o modelo europeu é muito mais assente em empréstimos e créditos e é difícil negociar, é difícil pôr 27 estados de acordo”, o que atrasa o processo, considerou.

O debate transmitido através das redes sociais contou com também com a presença do deputado europeu e vice-presidente da bancada do PPE, eleito pelo PP espanhol, Esteban González Pons, que apontou que “o maior problema que a Europa enfrenta é que o nacionalismo tenha voltado”.

Na sua ótica, “todos os governos europeus tiveram uma reação nacionalista perante o vírus, porque fecharam fronteiras, negaram ajuda e no Eurogrupo puxa cada um para o seu interesse, ninguém pensa no interesse europeu”.

Assim, o eurodeputado espanhol adverte que o projeto europeu possa vir a estar ameaçado, uma vez que “líderes dos Estados-membros fazem um discurso antieuropeu” e “Bruxelas é a desculpa de todos os políticos nacionais”.

Para contrariar esta ameaça, Estaban González Pons espera que seja iniciado “um processo de refundação e de recuperação do espírito europeísta e do projeto europeu”.