O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo acusou esta quinta-feira o Financial Times e o The New York Times de espalharem “desinformação”, após ambos terem escrito que o número de casos e de mortes de Covid-19 na Rússia é bastante superior.

Segundo a porta-voz, Maria Zakharova, o governo russo enviou, na noite de quarta-feira, cartas aos diretores dos dois jornais a exigir a correção das notícias.

Os dois artigos baseiam-se na ideia de uma subida em flecha no total de casos de mortalidade reportados pelas autoridades sanitárias russas.

Moscovo registou cerca de 1.800 mortes mais em abril do que a média mensal e o Financial Times também realçou um aumento similar de óbitos reportados pelas autoridades sanitárias de São Petersburgo e concluiu que a Rússia deveria ter mais 70% de casos mortais do que os que tem apresentado.

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As autoridades russas têm insistido que a baixa taxa de óbitos associados ao novo coronavírus é explicado pela rápida interdição de viajar para a China, medida imposta no início do ano e que antecedeu a aplicação de restrições mais vastas, permitindo rastrear mais rapidamente os contágios.

O âmbito dos testes tem aumentado significativamente nas últimas semanas, permitindo também descobrir e controlar rapidamente novas infeções, sustentam as autoridades russas.

Até esta quinta-feira, a Rússia reportou cerca de 250 mil casos associados à Covid-19, de que resultaram 2.305 mortes.

Comparativamente ao Ocidente, o número de óbitos é muito baixo, com vários países ocidentais a admitirem que o total deverá ser muito maior.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo também criticou a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) na Europa, UNESCO e Nações Unidas, argumentando que os artigos do Financial Times e do The New York Times são “exemplos da ‘infodemia’” que o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para ser travada.

Após a declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, o deputado Vasily Pskaryov exigiu às autoridades de Moscovo para retirar a acreditação dos correspondentes dos dois jornais na Rússia, o que permitiria pôr imediatamente termo ao seu trabalho no país.

Zakharova disse ainda que as medidas contra os dois órgãos de comunicação social “vão depender da resposta” do Financial Times e do The New York Times.

Já esta quinta-feira, o The New York Times manteve o artigo publicado. A vice-presidente para as Comunicações do NYT, Danielle Rhoades Há, disse às agências noticiosas russas que o artigo está “correto” e que foi baseado nos dados divulgados pela agência oficial russa.

Até agora o Financial Times ainda não se pronunciou.

O departamento de Saúde moscovita rejeitou, por seu lado, as alegações sobre a subavaliação do total de óbitos, salientando que as autópsias estão a ser realizadas em 100% dos casos suspeitos do novo coronavírus.

“É por isso que os diagnósticos post mortem em Moscovo e as causas de mortes são extremamente precisos e os números da mortalidade absolutamente transparentes”, referiu o departamento, em comunicado.

No documento, é referido que mais de 60% das mortes de pessoas contaminadas com o novo coronavírus em Moscovo foi provocada por “outras causas”, como acidentes cardiovasculares cancros terminais, doenças sistémicas envolvendo as incuráveis.

As linhas gerais dos relatórios sobre mortes associadas ao novo coronavírus, divulgadas pela organização Mundial de Saúde (OMS), referem que “as mortes por Covid-19” devem ser consideradas com tal, “a menos que exista uma clara alternativa à causa da morte que não pode ser associação” à vírus.

“O primeiro objetivo é identificar todas as mortes associadas à Covid-19”, lê-se nos sucessivos documentos da OMS.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 297 mil mortos e infetou mais de 4,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 1,5 milhões de doentes foram considerados curados.