A Associação Empresarial de Portugal (AEP) alerta o Governo para as “claramente insuficientes” medidas de apoio à economia em curso, apelando ao reforço do financiamento às empresas, nomeadamente às micro, e a uma aposta na sua capitalização.

Numa carta enviada na quinta-feira ao ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, refletindo as “preocupações que muitas empresas (de todos os setores de atividades, em especial de micro, pequenas e médias empresas) fazem diariamente chegar à associação”, o presidente da AEP apela “à necessidade de o Governo continuar a reforçar o financiamento às empresas, que enfrentam uma carência séria de liquidez”.

Na carta, a que a agência Lusa teve esta sexta-feira acesso, Luís Miguel Ribeiro refere que, “face ao enorme (e expectável) volume de candidaturas, e apesar do reforço da dotação para 6,2 mil milhões de euros”, algumas das linhas de crédito com garantia do Estado “foram já encerradas”.

“Na AEP temos recebido muitos relatos de empresas com pequenos negócios, do comércio, da indústria ou dos serviços, que não conseguem aceder a estas linhas, mesmo cumprindo os requisitos”, sustenta, alertando o ministro Pedro Siza Vieira para que, “se esta situação não for resolvida, porá em causa a sua sobrevivência e a manutenção de centenas ou milhares de postos de trabalho”.

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Destacando que “as microempresas constituem 96% do tecido empresarial, são responsáveis pela maior fatia do emprego (45%) e do investimento (34% da FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo empresarial), o líder da AEP defende que, para efetivamente se defender o emprego, “a dotação a atribuir a este segmento empresarial deveria corresponder, pelo menos, ao peso que representa no emprego”.

“Significaria que, dos 6,2 mil milhões de euros, cerca de 2,8 mil milhões de euros deveriam ser canalizados para as microempresas”, quando atualmente “apenas cerca de 2,4 milhões se dirigem ao conjunto das micro e pequenas empresas – longe da representatividade que ambos assumem na variável emprego”.

De acordo com as contas da AEP, “uma aplicação proporcional corresponderia a afetar 3,98 mil milhões de euros de linhas de financiamento”.

Embora reconhecendo “a enorme importância das medidas de apoio à economia criadas pelo Governo português na resposta à crise provocada pela covid-19”, a associação diz que “outro problema” que lhe vem sendo reportado pelos empresários tem a ver com as garantias do Estado na extensão dos limites do seguro de crédito, que “está a colocar sérios constrangimentos a empresas que vendem para o mercado internacional”.

“A este propósito, transcrevo aqui as palavras de alguns empresários: ‘Se nada for feito com alguma celeridade, corremos o risco de ter de reduzir a nossa atividade e recorrer a soluções mais drásticas, tais como iniciar processos de despedimento e layoff'”, lê-se na carta.

Finalmente, Luís Miguel Ribeiro alerta o ministro da Economia “para a importância da implementação de instrumentos complementares ao financiamento bancário, nomeadamente no âmbito da capitalização das empresas”, recordando a este propósito o programa Capitalizar, “onde foram desenhadas várias medidas que [a AEP considera que] importa colocar no terreno”.

Como profundo conhecedor das dificuldades da nossa economia, em particular do nosso tecido empresarial, estou certo que Sua Excelência olhará com redobrada atenção para estes constrangimentos e apelos dos nossos empresários”, remata a associação.

“De outro modo – avisa – será muito difícil as empresas e o país caminharem no rumo certo, isto é, no sentido da criação sustentada de riqueza e da manutenção do emprego”.

Segundo adiantou à agência Lusa fonte oficial da AEP, Pedro Siza Vieira agradeceu já os contributos da associação e agendou “para breve” uma reunião.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 302 mil mortos e infetou quase 4,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 1,5 milhões de doentes foram considerados curados.

Portugal regista esta sexta-feira 1.190 mortes relacionadas com a Covid-19, mais seis do que na quinta-feira, e 28.583 infetados, mais 264, segundo o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano passou agora a ser o que tem mais casos confirmados (1,92 milhões contra 1,82 milhões no continente europeu), embora com menos mortes (cerca de 115 mil contra mais de 162 mil).

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), paralisando setores inteiros da economia mundial, num “grande confinamento” que vários países já começaram a aliviar face à diminuição dos novos contágios.