O presidente da Câmara de Ponta Delgada sublinhou esta sexta-feira que o “caráter identitário, cultural e religioso” das festas do Santo Cristo “não está suspenso” devido à covid-19 e pediu celebrações “com serenidade e sentido de responsabilidade”.

“Confrontados que estamos com a pandemia da covid-19, a nossa Diocese suspendeu – muito a propósito – a celebração presencial da maior festa da cidade de Ponta Delgada, manifestação indelével do caráter profundamente religioso do povo açoriano e principal evento do turismo religioso, em São Miguel e nos Açores. Mas o seu caráter identitário, cultural e religioso não está suspenso”, lê-se numa mensagem do autarca social-democrata Humberto Melo, a propósito do feriado municipal que, desde 1953, está associado à segunda-feira do Santo Cristo.

As festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, as maiores festividades religiosas dos Açores, que têm por referência a imagem do “Ecce Homo”, começariam esta sexta-feira na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, mas não se irão realizar na data prevista, pela primeira vez em 320 anos, devido à pandemia da covid-19.

Na sua mensagem, o autarca micaelense sublinha que, “com serenidade e sentido de responsabilidade individual e coletiva, pela primeira vez, desde 1700”, esta festa será vivida nas casas dos cidadãos.

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“Por mais penoso que seja, ninguém deve dirigir-se para o Campo de São Francisco, contribuindo, assim, decisivamente, para a salvaguarda da nossa saúde e da saúde pública”, pede o autarca do PSD.

Humberto Melo salienta ainda que “a multissecular devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres não conhece fronteiras” e “projeta a açorianidade para um patamar que ultrapassa a geografia do concelho e das ilhas, levando” a “identidade religiosa e cultural a todo o mundo, em especial junto da diáspora” açoriana.

O presidente da câmara lembra que, desde 1953, Ponta Delgada associa, “com orgulho”, o seu feriado municipal à segunda-feira do Santo Cristo.

“Também este ano, como sempre, vamos respeitar a observância do feriado, mas não procederemos à sua comemoração presencial, dando bom exemplo do devido cumprimento das recomendações sanitárias. Como boa alternativa, no próprio dia 18 de maio (segunda-feira), estreamos a difusão ‘online’ do programa municipal «A Cultura em sua Casa»”, diz ainda o autarca.

A câmara já tinha anunciado que iria respeitar a observância do feriado municipal.

Num tempo em que se “perspetiva uma lenta e difícil recuperação da pandemia”, Humberto Melo reforça que “importa não esquecer que todos — pessoas, instituições, famílias” são “frágeis, iguais e preciosos”, e “em momentos difíceis”, como os atuais, “o caráter ilhéu”, marcado pela “fé e crença”, dá “força e capacidade de resistir, para viver e fazer história”, aliando “a tarefa prioritária de salvaguarda da saúde publica” ao “dever coletivo da recuperação socioeconómica”.

“Ponta Delgada – habituada a acolher, especialmente por ocasião das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres – continuará a ser um bom exemplo”, conclui a mensagem do autarca.

As Festas do Senhor Santo Cristo atraem todos os anos a Ponta Delgada milhares de peregrinos, oriundos de todas as ilhas do arquipélago e de vários pontos do país, mas também das comunidades de emigrantes espalhadas pelo mundo.

A imagem do Santo Cristo permanece no Convento da Esperança, em Ponta Delgada, durante todo o ano, só saindo à rua no quinto fim de semana a seguir à Páscoa.

O ponto alto é a procissão, que se realiza desde 1700 no quinto domingo depois da Páscoa, percorrendo as ruas da cidade com uma imagem do ‘Ecce Homo’ oferecida às freiras Clarissas pelo Papa Paulo III.

O programa das festas contempla também anualmente a Procissão da Mudança da Imagem do Santo Cristo, que sai na tarde de sábado do Coro Baixo do Convento da Esperança para a igreja anexa, cumprindo um trajeto à volta do Campo de S. Francisco.

Portugal contabiliza 1.190 mortos associados à covid-19 em 28.583 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

Relativamente ao dia anterior, há mais seis mortos (+0,5%) e mais 264 casos de infeção (+0,9%).

Das pessoas infetadas, 673 estão hospitalizadas, das quais 112 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados é de 3.328.

Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.