O Sindicato dos Funcionários Judiciais diz que os funcionários da Justiça podem recusar-se a regressar ao trabalho se o Governo não substituir as proteções acrílicas que mandou instalar nos balcões dos tribunais, que são considerados ineficazes, e nos quais o Estado gastou 65 mil euros, noticia esta sexta-feira o jornal Público.

As proteções em causa consistem num círculo de acrílico com cerca de um metro de diâmetro colocado frente a cada posto de trabalho. O formato circular já preocupa os funcionários, uma vez que está longe de ser uma proteção tão eficaz como as barreiras tradicionais, retangulares. Além disso, os círculos têm dezenas de furos que anulam o pouco efeito protetor que restava ao equipamento.

O jornal Público regista na sua edição desta sexta-feira várias manifestações de desagrado de juízes e funcionários judiciais perante as proteções. “Acho que é para o vírus passar”, disse um funcionário sobre os furos no acrílico. “Parecem bibelots“, considerou uma juíza. “Vejam lá se descobrem quem foi o engenheiro responsável pela escolha da proteção”, apelou um oficial de justiça indignado.

Em declarações ao mesmo jornal, o dirigente sindical António Marçal, do Sindicato dos Funcionários Judiciais, disse que já exigiu ao Governo a instalação de barreiras acrílicas tradicionais, que ocupem todo o comprimento dos balcões de atendimento, e deixou mesmo uma ameaça: se isso não for feito, os funcionários dos tribunais podem recusar voltar ao trabalho.

As proteções foram compradas pela Direção-Geral da Administração da Justiça a uma empresa de Proença-a-Nova, a Ambienti d’Interni, cujo responsável explicou ao Público que já recebeu as indicações relativamente ao design por parte do Estado. Segundo a firma, os furos na “rodela” de acrílico servem para que o equipamento seja mais leve.

Apesar de a eficácia das peças ser fortemente questionada quer pelos funcionários quer por especialistas (o epidemiologista Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, disse que “a preocupação estética parece ter-se sobreposto à proteção”), o Ministério da Justiça defendeu a compra: na área central do círculo, não há furos, logo, se os funcionários falarem diretamente para quem têm à sua frente, não há problema.

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