– Eu ouvi a história. Ouviu também? Um barbeiro em Kingston continuava a trabalhar, a desafiar as medidas de restrição e a infetar uma dezena de pessoas…

Andrew Cuomo, governador do estado de Nova Iorque, estava na habitual conferência de imprensa diária sobre os números da pandemia na região. Nessa altura, respondia a uma jornalista norte-americana. Tudo em direto, na TV e em streaming. Num ápice, uma história local ganhou uma dimensão maior e chegou a milhões de americanos.

O barbeiro chegou às notícias de diferentes jornais a nível nacional e o seu caso ganhou proporção por ser também representativo. Mas que história afinal era esta? A história de um homem de 76 anos com uma barbearia. Mas também a história de outros tantos que desafiaram as regras impostas para não perder a forma de sustento por causa da pandemia. Joseph LaLima continuava a fazer cortes cabelo quando todos os estabelecimentos de Nova Iorque não essenciais tinham de estar encerrados e acabou ele próprio infetado com o novo coronavírus.

Em contacto com as suas mãos, teriam estado dezenas de pessoas que também continuaram a querer ter novos cortes de cabelo, sabendo que não o podiam fazer. No entanto, encontrar o barbeiro Joseph LaLima não pareceu ser tão fácil quanto se esperaria. Conta o New York Times que à boleia de uma denúncia feita no mês passado por um vizinho, as autoridades resolveram investigar mas nas três passagens pelo estabelecimento nunca encontraram sinais de que estaria a funcionar.

O caso ficou resolvido quando o norte-americano precisou de ser hospitalizado devido à infeção e as suspeitas começaram a fazer sentido. O barbeiro estava a trabalhar a partir de divisões em casa, e não na barbearia, onde recebia os diversos clientes. Contactado pelo britânico DailyMail, colocou as culpas na interpretação do anúncio feito pelo governador de Nova Iorque: Cuomo tinha pedido o encerramento das lojas e o barbeiro acreditava poder continuar a trabalhar a partir de casa, já que a sua loja partilhava a mesma morada da sua residência.

Não se sabe quantos foram contagiados, mas as autoridades de saúde fizeram um apelo: todos os que passaram pelas mãos do barbeiro nas últimas três semanas devem procurar fazer testes à Covid-19. Segundo o proprietário do negócio, tratavam-se principalmente de agentes da polícia e bombeiros, a quem cortava o cabelo gratuitamente. Por saber está o facto de o barbeiro ter ou não recebido uma multa por operar em estado de emergência, num valor previsto de mil dólares.

Com 20 milhões de habitantes e quase 358 mil casos, Nova Iorque foi o estado mais afetado pelo coronavírus e vai ficar em confinamento até, pelo menos, 13 de junho, segundo o decreto assinado por Andrew Cuomo. Há, no entanto, cinco regiões menos povoadas que estão autorizadas a reabrir determinadas atividades a partir desta sexta-feira, permanecendo incerta a data de abertura de lojas de maior dimensão, restaurantes e cafés.

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