O aparecimento de novos clusters de casos levou as autoridades de Wuhan a uma decisão radical: testar todos os 11 milhões de habitantes da cidade. O The New York Times explicava esta quinta-feira os bastidores dessa missão quase hercúlea tendo em conta a dimensão e o prazo temporal do plano mas os números continuam a crescer, com alguns receios de poder haver contaminações nas filas para testagem por parte das pessoas e a crença por parte dos responsáveis de saúde que será possível até dia 20 cumprir o objetivo. Mas será isso suficiente?
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Para Zhong Nanshan, consultor médico sénior do governo chinês e uma das principais figuras do país na luta contra a pandemia, talvez não. E Wuhan é apenas mais uma das cidades que estão à mercê de uma segunda vaga. Mais: em entrevista à CNN, o especialista assume mesmo que alguns pormenores chave sobre o momento em que o surto inicial teve lugar (o primeiro caso foi conhecido em dezembro) foram mesmo escondidos.
A maioria dos chineses está neste momento suscetível a ser infetada com Covid-19 por falta de imunidade. Estamos a enfrentar uma grande desafio, que não é melhor do que aquele que os países estrangeiros têm neste momento”, referiu o médico conhecido também como “o herói da SARS” que anunciou pela primeira vez na TV chinesa, em janeiro, que o vírus se transmitia entre humanos.
“As autoridades locais de Wuhan não gostaram muito de dizer a verdade naquela altura. No início ficaram em silêncio e foi aí que disse que era provável que um número largo de pessoas possa ter sido infetado”, salientou, assumindo as suas suspeitas quando viu o número de 41 infetados manter-se durante dez dias seguidos. “Não acreditei nos números, questionei que tinham de dar os números reais. Estavam relutantes em dizer”, disse.
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“Penso que alguns países da Europa e talvez os EUA consideraram que este tipo de doença era mais ou menos uma gripe, e isso é errado”, acrescentou ainda Zhong Nanshan, refutando as teorias de Donald Trump a propósito da criação do vírus num laboratório de Wuhan: “Ela [Shi Zhengli, virologista que lidera o Instituto de Virologia de Wuhan] disse que isso era totalmente ridículo, que nunca fez algo do género. Com base no equipamento e nas instalações que têm, era impossível fabricar de forma artificial este tipo de vírus”.