Luís Marques Mendes não tem dúvidas: “Mário Centeno vai sair do Governo até ao verão”. No habitual espaço de do Jornal da Noite da SIC, o comentador abordou um cenário traçado mas que não se deveu à recente crise política vivida. “Centeno há muito que quer sair do Governo por razões estritamente pessoais, não por razões políticas. E a saída está combinada com o primeiro-ministro António Costa desde pelo menos o início do ano”, referiu, antes de acrescentar que o primeiro-ministro acabou por aceitar num segundo momento por estar “politicamente farto”.

“É provável que Centeno vá para o Banco de Portugal mas ele queria mais, um cargo internacional de relevo que não há. Depois, vai ser um problema para António Costa porque Centeno vai fazer a vida negra ao Governo, está ferido no seu orgulho e debaixo da sua aparente bonomia está uma pessoa difícil e com instintos vingativos. Por fim, para António Costa, do ponto de vista político, é uma perda enorme. Suceder-lhe é fácil, substituí-lo é mais difícil”, salientou, dizendo que “Mourinho Félix não tem qualquer hipótese” e recordando que a escolha de Siza Vieira seria um misturar Economia (“e um bom ministro”) com Finanças – que no passado correu mal.

“Este conflito público só me surpreende ter acontecido agora. Desde que Mário Centeno foi para presidente do Eurogrupo, ambos andam em rota de colisão. É uma guerra de poder. Centeno porque lhe subiu o poder à cabeça, António Costa porque não suporta este desafio. Ambos estiveram mal, não tiveram sentido de Estado, mas as responsabilidades não são iguais. Centeno é o maior culpado: não é preciso qualquer auditoria para pagar os 850 milhões ao Novo Banco mas perdeu a razão que tinha ao ser desleal duas vezes com o primeiro-ministro”, disse.

Marques Mendes abordou também o episódio na Autoeuropa, frisando que o local e o momento foram pouco ortodoxos e até criticáveis mas realçando que o objetivo de António Costa foi conseguido: dar o apoio pessoal a Marcelo Rebelo de Sousa. “Há muito que tinha essa ideia na cabeça, fê-lo agora porque lhe dava jeito para desviar as atenções do caso Centeno, para sair-se bem aos olhos dos portugueses, para matar a ideia de qualquer candidato presidencial da área do PS como era o caso de Ana Gomes e reduzir ao mínimo qualquer tensão no PS em torno da questão presidencial. Não é ainda a posição do PS mas a partir de agora não é muito relevante”, comentou, entre a recordação do ano de 1991 com Cavaco Silva no Governo e Mário Soares na Presidência.

Abordando ainda as muitas dúvidas existentes em relação ao caso de Valentina, a menina de nove anos morta na semana passada, Marques Mendes revelou a preocupação com os números do PIB no primeiro trimestre e revelou o porquê de esta ser “uma crise ainda mais séria do que a anterior”: “Falei com responsáveis da Caritas, do Banco Alimentar, outras instituições. Foi uma crise repentina, que surgiu de um dia para o outro, uma crise de uma intensidade brutal, uma crise transversal que toca a todos e uma crise que fomenta uma pobreza envergonhada. Ao contrário da crise anterior, o que as pessoas mais pedem agora já não é um emprego, é alimentação”.

Por fim, e após uma primeira fase de desconfinamento “muito contida”, o comentador destacou que “a partir de amanhã é que vai ser a sério”. “Há que dizer que estamos no fio da navalha. Temos de reativar a economia, porque a quebra económica foi muito maior do que se previa, mas temos de fazer este regresso com muita cautela porque a epidemia está controlada mas não está ultrapassada e temos de combater o medo”, salientou, entre elogios ao Governo em relação às medidas para as creches, para os lares e nos acessos às praias.

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