Galerias de arte em Lisboa, abertas desde segunda-feira, já com algum movimento de clientes, falam com “otimismo” no regresso gradual à normalidade, após um confinamento “insustentável” durante o estado de emergência, devido à pandemia Covid-19.

Museus, palácios, monumentos e galerias de arte tiveram permissão para reabrir na segunda-feira, no quadro da segunda fase do plano de desconfinamento decretado pelo Governo, com regras de higiene reforçadas, uso obrigatório de máscaras, distanciamento social e limitação de entradas.

Em Lisboa, a histórica Galeria 111, nas novas instalações, mas sempre perto da Cidade Universitária e do Campo Grande, reabriu esta terça-feira as portas a mais de duas dezenas de clientes durante a manhã, e espera ainda mais ao longo da tarde, muitos deles com marcações.

“Estamos muito otimistas. Este período não foi assim tão mau porque os contactos com os clientes continuaram online“, disse à agência Lusa o galerista Rui Brito, comentando que “as pessoas estão bastante cautelosas, mas com vontade de recuperar a normalidade”.

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Desde fevereiro no novo espaço, a direção não receia as limitações impostas pelo combate à pandemia, porque os mil metros quadrados “são amplos o suficiente para receber artistas e clientes”.

Logo na primeira hora da manhã, após as 10h, entraram dez pessoas, que, no interior, poderão ver, a partir desta terça-feira, as obras de pintura na nova exposição de Rui Miguel Leitão Ferreira.

Temos todas as condições de segurança garantidas, com as máscaras, desinfetantes, viseiras e distanciamento“, descreveu o galerista, confiante em que as medidas possam dar tranquilidade aos visitantes.

Noutra zona de Lisboa, a Galeria Arte Periférica reabriu já na segunda-feira, nas suas instalações, no Centro Cultural de Belém, por coincidência, no dia em que completava 29 anos de existência, celebrados com a apresentação de uma nova exposição de pintura de Paulo Damião, intitulada “Como sobreviver numa ilha”.

“Embora não fosse uma inauguração, para não criar ajuntamentos, passaram por aqui quase 100 pessoas ao longo do dia, no interior e no átrio ao ar livre, onde cabe muita gente”, disse o galerista Pedro Reigadas, contactado pela agência Lusa.

“A vida tem de regressar ao normal, até porque este anormal é insustentável. Do ponto de vista financeiro é mesmo muito insustentável”, desabafou o galerista.

Sobre o período do confinamento em estado de emergência, desde 14 de março, Pedro Reigadas disse ter aproveitado o tempo em remodelações e reorganização da empresa, mas esteve sempre disponível online para o contacto com artistas e clientes.

Também manteve a oficina de molduras em atividade, e deu continuidade às vendas de material de belas artes — “que cresceu muito nesta altura” –, num sistema de entregas.

“Praticamente não deixei de trabalhar, excepto no espaço físico”, apontou.

Em São Bento, perto da Assembleia da República, a sede do Centro Português de Serigrafia (CPS) reabriu esta terça-feira com horário reduzido e escalonamento dos funcionários, para não se cruzarem durante muito tempo.

Reabriram a galeria própria e a adjacente Galeria António Prates, acolhendo, nas primeiras horas, algumas dezenas de visitantes.

“No primeiro dia é normal que sejam poucas, até porque fazemos uma reabertura limitada, com um máximo de quatro pessoas no interior“, disse à Lusa o diretor, João Prates, que espera “um regresso gradual à normalidade”.

Enquanto esteve encerrado o CPS continuou os contactos online com os seus associados, que fizeram encomendas de obras de arte por via digital.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 318 mil mortos e infetou mais de 4,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 1.247 pessoas das 29.432 confirmadas como infetadas, e há 6.431 casos recuperados, de acordo os números divulgados esta terça-feira pela Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano passou agora a ser o que tem mais casos confirmados (cerca de 2,1 milhões contra 1,9 milhões no continente europeu), embora com menos mortes (cerca de 127 mil contra mais de 167 mil).

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), paralisando sectores inteiros da economia mundial, num “grande confinamento” que vários países já começaram a aliviar face à diminuição dos novos contágios.