Uma centena de manifestantes nos arredores de Santiago do Chile desafiaram o confinamento decretado pelo governo na sexta-feira para protestar contra a fome, uma ação que acabou em confrontos com a Polícia.

Com máscaras e capuzes, os residentes de El Bosque, uma localidade nos arredores da capital chilena, protestaram contra a pobreza e a escassez de alimentos provocada pela quarentena obrigatória na zona metropolitana, decretada em 15 de maio pelo Executivo chileno.

Não é contra a quarentena, é contra a fome”, disse um dos manifestantes a um canal de televisão nacional. “Há muita gente desempregada e que não tem que comer”, queixou-se outro residente, exigindo mais apoios da autarquia.

Segundo a agência de notícias espanhola Efe, os manifestantes cortaram o trânsito de várias ruas, atiraram pedras e incendiaram barricadas. A Polícia tentou dispersar os protestos com gás lacrimogéneo e canhões de água, uma resposta criticada pela autarquia da localidade, que denunciou em comunicado a deterioração “da qualidade de vida dos habitantes” de El Bosque, criticando a falta de apoio do poder central em relação aos mais pobres.

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São estes habitantes que, ao fim de mais de um mês sem poderem trabalhar, nem terem recebido uma medida concreta do Estado, estão a protestar”, escreveu o autarca de El Bosque, Sadi Melo.

El Bosque, tal como outras localidades a sul da capital chilena, é uma das autarquias com menos recursos na zona metropolitana, e a crise iniciada com a pandemia do novo coronavírus agravou o desemprego e a pobreza.

Antes da crise sanitária, o Chile, com 18 milhões de habitantes, já atravessava há vários meses um período de agitações sociais e violência, iniciados em outubro do ano passado, com a subida do preço dos bilhetes de metro, em Santiago.

Estes foram os primeiros confrontos com a Polícia desde que o Governo de Sebastian Piñera decretou o confinamento de toda a população na região da capital, que concentra 80% dos casos da Covid-19 no país, após um elevado número de infeções, que já ultrapassam os 46 mil casos.

Ao contrário de outros países da região com menos casos, como a Argentina ou a Colômbia, o Governo do Chile rejeitou desde o início decretar o confinamento nacional e fechar completamente a economia, optando antes por “quarentenas seletivas e estratégicas”.

Esta é a primeira vez, desde o início da pandemia no Chile, que a chamada zona da “Grande Santiago”, composta por 32 comunas (bairros), entra em quarentena ao mesmo tempo, já que as áreas orientais foram inicialmente confinadas. A medida afeta cerca de 8 milhões de pessoas e foi solicitada por diferentes autarcas e organizações médicas.

O Chile está em estado de emergência, com um toque de recolher obrigatório a partir das 22h, desde meados de março, com escolas, universidades e fronteiras fechadas, bem como a maioria das empresas não essenciais.

O Presidente chileno anunciou no domingo cinco medidas de apoio para as pessoas “mais vulneráveis”, incluindo a entrega de 2,5 milhões de cabazes de alimentos às famílias mais pobres do país.