Depois de ganhar três Mundiais, depois de ser o protagonista de um dos acidentes mais arrepiantes da história da Fórmula 1, depois de se tornar um dos nomes incontornáveis do desporto automóvel, Niki Lauda morreu a 20 de maio de 2019, há precisamente um ano. Diretor não executivo da Mercedes até ao último dia, o antigo piloto austríaco foi crucial na contratação de Lewis Hamilton por parte da equipa, foi o grande mentor do inglês e tinha uma relação especial com o hexacampeão. Esta quarta-feira, precisamente um ano depois da morte de Lauda, Hamilton não esqueceu um dos primeiros que a acreditar que seria ele o futuro da modalidade.
Numa mensagem para o site da Fórmula 1, o piloto inglês confessou que sente “profundamente” a falta de Lauda. “É um assunto sobre o qual me é difícil falar. Alguém de quem eu gostava tanto, que o mundo também perdeu, e de quem só tenho as melhores memórias”, explicou Hamilton, que passou a detalhar que as recordações que guarda com mais carinho são das primeiras conversas que teve com o austríaco — quando ainda ficava algo surpreendido por estar a falar com um tricampeão mundial. “Começámos a falar em 2012 e só me lembro de um dia estar em casa, receber uma chamada do Niki e de ele me tentar convencer a juntar-me à equipa [a Mercedes]. Era sempre tão fixe receber uma chamada de um campeão do mundo e um ícone como ele”, recordou.
Morreu Niki Lauda, tricampeão mundial de Fórmula 1, aos 70 anos
“Ele era um tipo tão positivo, tão engraçado, tão divertido. Tinha sempre as melhores histórias para contar. Era um corredor nato. Estava sempre a pensar em formas de poder melhorar. O melhor sinal que podíamos receber do Niki era, se cumpríssemos, ele tirar o boné. Era a maneira dele de dizer: ‘Muito bem!'”, revela Lewis Hamilton, desvendando que esta era a maneira que Lauda encontrou para felicitar os pilotos quando as coisas corriam bem. O austríaco passou a usar sempre boné depois do grave acidente de 1976, no Grande Prémio da Alemanha, quando o Ferrari em que seguia se incendiou depois de embater nos rails de proteção. Lauda ficou vários dias em coma e perdeu a orelha esquerda, grande parte do cabelo, as sobrancelhas, as pestanas e as pálpebras. Só perdeu duas corridas e seis semanas depois estava de regresso às pistas.
O dia de 1976 em que Niki Lauda pôs a vida antes da meta e perdeu um campeonato
Na mensagem, Lewis Hamilton conta também que Niki Lauda lhe perguntava constantemente o que poderia melhorar, como se estivesse sempre “a perseguir alguma coisa”. “Se há coisa que aprendi com ele, foi isso. Como piloto e dentro de uma equipa, é claro que temos de trabalhar em conjunto, mas também temos de liderar. Temos de liderar a equipa, temos de questionar coisas, temos de escavar bem fundo e impulsionar toda a gente”, conta o inglês de 35 anos que esta temporada, que ainda não arrancou devido à pandemia, ainda vai atrás da sétima vitória em Mundiais que o equiparia a Michael Schumacher enquanto pilotos com mais títulos na história da Fórmula 1.
“Estou grato pela oportunidade e vou sempre adorar o Niki. Sei que ele está connosco, em espírito, em todas as corridas”, termina Lewis Hamilton, numa homenagem sentida ao ícone do automobilismo que um dia lhe ligou para o convencer a juntar-se à Mercedes.