“E se todos ficássemos sem cultura?” é a pergunta que dá o mote a uma vigília organizada por atores, técnicos e gestores culturais, tendo como objetivo mostrar que o trabalhos das artes “continuam a existir”, apesar dos espaços culturais estarem atualmente encerrados e com a sua programação suspensa desde março.

 

“Esta vigília cultural pretende dar um rosto, uma voz e um corpo a todos os profissionais da cultura e das artes que ficaram sem qualquer fonte de rendimento e que não encontraram soluções imediatas nas magras e escassas medidas implementadas pelo Estado e pelo Ministério da Cultura, não obstante as boas intenções, e junta-se a todos os movimentos que exigem uma estratégia a curto, médio e longo prazo para a cultura”, poder ler-se no manifesto na página do Facebook.

Para estes profissionais, o contextual atual veio “desmascarar a realidade laboral do setor cultural em Portugal, que se caracteriza por uma intermitência constante, e amplamente agravada por conta da pandemia Covid-19, aquando do cancelamento de toda a atividade laboral”. Segundo eles, as ajudas tardam em chegar e “mostram-se fracas e insuficientes”, por isso, defendem, “é hora de repensar, reestruturas e a reajustar as condições laborais”.

A Vigília Cultura e Artes quer dar visibilidade algumas propostas e reivindicações como a criação do estatuto do profissional da cultura, atribuição da devida legislação de todas as profissões que compõe o setor cultural, reformulação da lei referente ao regimes dos contratos de trabalho dos profissionais de espetáculos, para que melhor se adeque à realidade do setor e repensar a taxação de impostos numa política cultural ajustada, onde os artistas de rua estejam também incluídos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não iremos entregar nenhum documento, pretendemos que os vários ministérios dialoguem com os vários grupos de trabalhos, formais e informais, e sindicatos, que estão há meses a trabalhar em questões que têm de ser discutidas”, explica a atriz Anaísa Raquel, um dos elementos da comissão organizadora da iniciativa, ao Observador. A atriz sublinha que “nenhum profissional é capaz de sobreviver” às normas impostas pelo Governo de reabrir as salas de espetáculos com 25% da lotação e acrescenta que o encontro “não se trata de uma manifestação”, mas de uma “ação simbólica”, sendo “a primeira de muitas”, promete.

“Queremos contar com o apoio de todos, profissionais do setor cultural e/ou membros que formam o público da cultura e das artes, e se revejam na luta que está na base desta vigília”, sublinha a comissão organizadora compostas pelas atrizes Anaísa Raquel, Erica Rodrigues, Joana Saraiva e Tânia Leonardo, os produtores André Imenso Cruz, Bárbara Rocha e Célia Pires, a gestora cultural Cláudia Matos e o ator e técnico de palco Luís Pimenta, entre outros.

Além de Lisboa, a organização explica que foram criadas comissões de trabalhadores para que aconteçam vigílias semelhantes no Porto, Funchal, Faro, Caldas da Rainha, Setúbal, Almada, Aveiro, Évora, Vila do Conde, Coimbra e Santa Maria da Feira. Na prática, o encontro será silencioso e irá realizar-se por grupos de no máximo 10 pessoas, em turnos de 30 minutos, de forma a garantir o cumprimento do distanciamento social e das regras de seguranças e higiene exigidas pelas autoridades.

Em resposta ao cancelamento e suspensão da atividade cultural para conter a pandemia da Covid-19, o Governo criou uma linha de apoio de emergência, com uma dotação inicial de um milhão de euros, reforçada entretanto com 700 mil euros, e que vai apoiar 311 projetos, em 1.025 pedidos recebidos. Foi ainda anunciado um apoio de 400 mil euros na área do livro e agilização de procedimentos no acesso a concursos de apoio ao cinema.

O plano de desconfinamento, aprovado a 30 de abril pelo Governo, depois de o país ter estado sob estado de emergência, prevê que as livrarias abrissem a 4 de maio, e os museus, monumentos e palácios no dia 18. Já os cinemas, teatros, auditórios e salas de espetáculos abrem a partir de 1 de junho, “com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico”. No entanto, ainda não foram anunciadas as regras para essa reabertura.