A atriz Regina Duarte, atual secretária especial de Cultura do Brasil, vai deixar o cargo, depois de ter sido convidada para assumir a Cinemateca brasileira, em São Paulo, avançou Bolsonaro esta quarta-feira.

Num vídeo publicado no Twitter, Regina Duarte, que assumiu este cargo a 4 de março, e o presidente brasileiro comunicaram a saída da atriz. Bolsonaro escreveu que, “nos próximos dias, durante a transição, será mostrado o trabalho já realizado nos últimos 60 dias”.

A atriz revela que foi convidada para a Cinemateca, em São Paulo. “É um presente duplo: a Cinemateca e também estar próxima da minha família, que é uma coisa que desejo muito”, disse. “Sinto muito a falta dos meus netos, dos meus filhos, da minha família”, acrescentou a secretária especial de Cultura.

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Apesar de “chateado” porque a atriz se vai afastar do “convívio em Brasília”, Bolsonaro mostrou-se feliz pela atriz. “O que eu mais quero é o seu bem, pelo seu passado e tudo aquilo que representa para todos nós. Indo para a cinemateca (…) você vai ser feliz e produzir muito mais. Eu fico muito feliz com isso.

No fim de abril, Jair Bolsonaro chegou a queixar-se do facto de Regina Duarte passar pouco tempo em Brasília, sede do Governo Federal.

A atriz Regina Duarte, conhecida pela sua participação em muitas novelas famosas produzidas no Brasil, assumiu no início de março o cargo de secretária da Cultura do país e, no discurso de posse, ofereceu-se para “pacificar” a relação do governo com o setor.

Entre os seus papéis mais reconhecidos como atriz estão o da viúva Porcina, em “Roque Santeiro” (1985), e a jornalista Malu, da série “Malu Mulher” (1979), um enredo que abordava questões como sexo, aborto e drogas.

Contudo, na semana passada, mais de 500 artistas brasileiros repudiaram publicamente as suas declarações concedidas numa entrevista à CNN Brasil, em que minimizou a tortura e a ditadura militar, quando foi interrogada sobre a necessidade de uma política de ajuda aos artistas durante a pandemia da Covid-19.

Os artistas, incluindo Caetano Veloso e Chico Buarque, assinaram um manifesto defendendo a democracia, “a independência das instituições” e rejeitaram a “tortura” praticada durante o regime militar que governou o país de 1964 a 1985.

Criticada também por não ter emitido nenhuma nota de pesar em relação a várias personalidades da Cultura brasileira que morreram nas últimas semanas, Regina Duarte disse que não queria tornar a secretaria da Cultura num “obituário”.

Vocês estão desenterrando mortos, vocês estão carregando um cemitério nas costas”, afirmou, dirigindo-se ao entrevistador e aos ‘pivots’ da emissão da CNN Brasil.

As declarações da secretária geraram uma enxurrada de críticas de vários setores da sociedade, culminando na publicação do manifesto. “Somos parte da maioria que não aceita ataques repetidos à arte, ciência e imprensa, e que não admite a destruição do setor cultural ou qualquer ameaça à liberdade de expressão”, enfatizaram os artistas no manifesto.

Desde que o Presidente, Jair Bolsonaro, tomou posse, em janeiro de 2018, o Governo brasileiro está a mudar as diretrizes da política cultural do país e escolheu pessoas que se autodeclaram conversadoras para gestão do setor.

Antes de Regina Duarte assumir a Secretaria de Cultura, a tutela foi entregue a Roberto Alvim, um encenador que tinha o apoio do Governo brasileiro, mas acabou demitido depois de citar parte de um discurso do ex-ministro nazi Joseph Goebbels em um vídeo criado para anunciar as regras de um prémio.