Há um novo objeto a que deve estar atento antes de sair de casa para enfrentar o novo normal. Chaves, carteira, telemóvel, e agora também uma máscara. Podem ser cirúrgicas ou comunitárias, mas se vai andar de transportes públicos ou frequentar sítios fechados, elas são obrigatórias.
Pode até ser que já as tenha à mão: comprou-as numa farmácia, no supermercado do costume ou então ao vizinho que tem jeito para a costura. O teste do isqueiro — sim, aquele que diz que as boas máscaras não deixam a chama apagar caso a acenda mesmo à frente do rosto — até funciona, mas tem a certeza que está realmente protegido?
É que nem todas as máscaras servem. Há normas indicadas pela União Europeia e pelo próprio governo para aumentar o equipamento de proteção individual em tempos de pandemia viral. Já explicámos como pode fazer a máscara em casa, mas a DECO acrescentou alguns pontos ao que deve estar atento na hora de comprar uma proteção para a boca e o nariz. Ei-las aqui em baixo.
Com ou sem costuras, como fazer uma máscara em casa e que materiais são mais eficazes
As máscaras cirúrgicas devem ser vendidas em caixas com um símbolo com as letras “CE”, um indicativo obrigatório em produtos comercializados no Espaço Económico Europeu. Se a caixa tiver essa marca, significa que as máscaras cumprem as regras de segurança, higiene e proteção ambiental da União Europeia. Se não a tiver, no entanto, não significa que as máscaras não sejam verdadeiras: para acelerar a chegada de equipamento de proteção individual em plena crise sanitária, a União Europeia permitiu a venda de produtos mesmo sem esta certificação. Por isso deve estar atento a outras indicações.
Mesmo que as embalagens das máscaras cirúrgicas não tenham a certificação “CE”, devem cumprir a norma EN 14683:2019, sobre o desempenho dos vários tipos de máscara cirúrgica no mercado. Há três tipos — a I, II e IIR — e cada uma tem determinadas características de eficiência na filtração bacteriana, pressão diferencial, a resistência a infiltração de água e o nível de limpeza microbiana. Eis o desempenho que devem ter:
TESTE | TIPO I | TIPO II | TIPO IIR |
Filtração bacteriana | Superior ou igual a 95% | Superior ou igual a 98% | Superior ou igual a 98% |
Pressão diferencial | Inferior a 40 Pa/cm2 | Inferior a 40 Pa/cm2 | Inferior a 60 Pa/cm2 |
Infiltração de água | Não é requerido | Não é requerido | Superior ou igual a 16 kPa |
Limpeza microbiana | Inferior ou igual a 30 cfu/g | Inferior ou igual a 30 cfu/g | Inferior ou igual a 30 cfu/g |
Os respiradores — mais conhecidos como máscaras FFP1, FFP2 e FFP3 — devem cumprir a norma EN 149:2001+A1:2019. Segundo esta norma, a máscara FFP1 tem uma baixa eficiência em filtrar partículas (20% do material filtrante entra através da máscara), a FFP2 tem uma filtração média (entra 6% do material) e a FFP3 tem uma capacidade de filtração alta (entra 1% do material), pelo menos de acordo com os testes de laboratório. A norma deve estar explícita na embalagem dos respiradores.
Nos casos das máscaras sociais, confirme se foi testada por um laboratório com competência técnica reconhecida, como o CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias do Têxtil e do Vestuário), que acrescenta um símbolo verde-água com o desenho do coronavírus nas embalagens.
Uma máscara social de nível 2 tem um mínimo de filtração de 90% e é a mais adequada para contactos frequentes com o público. As máscaras sociais de nível 3 têm um desempenho mínimo de filtração de 70% e apenas devem ser utilizadas para contactos menos frequentes com o público. Tanto podem ser de utilização única (nesse caso devem ser descartadas assim que as retirar) ou reutilizável.
No caso das máscaras sociais reutilizáveis, a informação sobre a lavagem, secagem, conservação e manutenção, assim como o número de utilizações durante o qual a eficácia é garantida, devem constar do folheto informativo. Por serem feitas de diferentes materiais, todas podem ter uma forma mais correta de serem limpas e guardadas até nova utilização.
Máscaras falsas ou fora de validade no mercado
Estas regras tornaram-se especialmente importantes depois de, tanto em Portugal como no estrangeiro, terem sido detetadas no mercado máscaras e outros equipamentos de proteção individual inválidos, fora de validade ou falsos. No domingo passado, uma investigação do Público revelou que três milhões de máscaras de proteção FFP2 foram vendidas à DGS com um certificado “inválido ou falso”.
As máscaras foram vendidas pela Quilaban, a empresa de João Cordeiro, ex-presidente da Associação Nacional de Farmácias. Em declarações ao Público, Sérgio Luciano, diretor-geral da Quilaban, admitiu problemas mas sublinhou a “aparente qualidade” do material. Já o Ministério da Saúde respondeu que as máscaras em causa “não foram distribuídas e até ao esclarecimento cabal não será efetuado qualquer pagamento”.
Três milhões de máscaras vendidas à DGS com certificado falso ou inválido
Questionada pelo Público sobre este caso, a ASAE admite ter encontrado irregularidades que podem indiciar “fraude sobre mercadorias” e autos por “falta de conformidade em equipamento de proteção individual/máscaras”. Mas nem Infarmed, nem a Autoridade Tributária e Aduaneira dizem ter detetado os mesmos problemas.
Em Espanha, já depois de se ter noticiado o isolamento de mais de mil profissionais de saúde que tinham utilizado equipamentos defeituosos, soube-se que o ministério da saúde aprovou uma diretiva em março e abril que admite a utilização de equipamento de proteção individual fora de validade, incluindo máscaras, em caso de falta de material.
De acordo com a diretiva, os profissionais mais expostos a uma possível contaminação pelo novo coronavírus devem utilizar uma “máscara EPI”, enquanto os menos expostos podem usar uma “máscara cirúrgica”. Se este material faltar, há três hipóteses: “utilizar outros equipamentos EPI para as vias respiratórias”, “o uso prolongado da máscara” ou “máscaras auto-filtrantes ou filtros fora do prazo de validade”.
Governo espanhol aprovou uso de máscaras fora de validade em caso de emergência