O homem acusado de matar a ex-companheira e o seu namorado, em maio de 2019, em Amarante, admitiu esta quinta-feira ter disparado um tiro de caçadeira contra a vítima masculina, mas disse não se lembrar de um segundo disparo.

“Lembro-me de dar o tiro e mais nada”, disse ao tribunal de Penafiel, onde começou a ser julgado, sublinhando não ter memória de um segundo disparo que, segundo a acusação, foi efetuado pelo arguido e vitimou a ex-companheira, chamada Sónia.

“Só soube da morte [dela] quando ouvi no rádio, no carro”, acrescentou.

O homem de 48 anos, dono de uma oficina de pneus em Felgueiras, que se encontra em prisão preventiva, contou hoje ao coletivo de juízes a sua versão dos factos ocorridos no dia 28 de maio do ano passado, junto a uma pastelaria de S. Gens, Amarante.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O arguido indicou que no dia do crime saiu de casa com a intenção de se suicidar, depois de a ex-companheira, com quem mantivera uma relação extraconjugal, ter começado a sair com outro homem.

Ao tribunal, afirmou que a relação com Sónia durava há nove anos, da qual resultou um filho de três anos. Algumas semanas antes do crime, prosseguiu, a ex-companheira começou a evitar os contactos com o arguido e a impedir que, “sem explicação”, visse o filho de ambos. “Não estava bem por perder o meu filho cada vez mais”, comentou.

Com o desgosto, contou, decidiu pôr fim à vida, deslocando-se, armado, em direção a um parque de Amarante. A meio do caminho, quando passava por S. Gens, viu o carro de Sónia estacionado e decidiu parar para, referiu ao tribunal, “tentar ver pela última vez o filho”, julgando que a mulher estaria numa pastelaria. “Eu nunca tive a ideia de fazer mal a ninguém”, vincou.

Estacionando a sua viatura junto ao estabelecimento, aguardou a saída da mulher, o que não aconteceu. Alguns minutos depois viu chegar um automóvel onde estavam Sónia e o seu novo companheiro.

“Eu estava [dentro do meu carro] descontrolado, olhando para eles”, exclamou.

O arguido acentuou que as duas vítimas perceberam a sua presença no local e que o alegado novo namorado de Sónia o insultou duas vezes, exibindo gestos com os dedos.

Fiquei perturbado e disparei em direção a ele”, contou, sublinhando ter ficado, naquele momento, “cego e perdido”. O disparo foi feito já fora do seu carro, a cerca de 10 metros da viatura onde estava o casal, precisou.

Ao coletivo, insistiu não se lembrar de mais nada e que, daquele dia, só se recorda do momento em que se dirigiu à sua oficina, na Longra, Felgueiras, onde trocou de carro e partiu em direção a Paredes, onde tinha uma casa, com a intenção de se suicidar.

Pelo caminho, através de telefone, contou a um filho e à esposa que acabara de fazer “asneiras” e “feito mal a uma pessoa”.

Já em Paredes, abandonou a ideia de se matar, porque se lembrou da família, e seguiu em direção ao Porto e depois a a Viana do Castelo, “sem saber bem porquê”, onde esteve dois a três dias, dormindo no carro, junto à estrada.

Acabou por regressar a Felgueiras com a intenção de conversar com um amigo que o aconselhou, durante a noite, a entregar-se às autoridades. Na manhã seguinte, saindo de casa do amigo com a intenção de se deslocar ao Porto para se entregar, acabou detido poucos minutos depois, quando estava no carro, por agentes da Polícia Judiciária, nas proximidades da casa do amigo.

No final, quando respondia a um dos advogados, chorou, dizendo sentir-se “um criminoso”.

“Nunca vou perdoar a mim próprio”, concluiu, sublinhando o seu amor pelo filho que partilhava com Sónia, o qual, lamentou-se, nunca mais pôde ver.

O julgamento vai prosseguir na tarde desta quinta-feira e na sexta-feira com a audição das testemunhas arroladas pela acusação, começando por agentes da PJ.