As autoridades americanas prenderam dois homens, esta quarta-feira, procurados no Japão por, alegadamente, terem orquestrado a fuga do ex-CEO (presidente executivo) da Nissan, Carlos Ghosn, para Beirute, no Líbano, cidade onde passou a infância.

Os procuradores de Massachusetts comunicaram que os detidos – o ex-boina verde Michael Taylor e o seu filho, Peter Taylor (juntamente com um terceiro elemento, George-Antoine Zayek) – ajudaram Ghosn, em dezembro de 2019, a fugir para o Líbano para, dessa forma, evitar um julgamento no Japão por “irregularidades financeiras”, segundo o jornal The Guardian.

No entanto, detalhes do suposto envolvimento dos Taylors na fuga de Carlos Ghosn ainda não são claros. As autoridades japoneses avançam que os dois homens se encontravam no Japão na data da fuga e ajudaram Ghosn a evitar as medidas de segurança em vigor no aeroporto. A acusação alega ainda que Peter Taylor esteve com Ghosn sete vezes – desde julho de 2019 até à sua fuga, a 29 de dezembro.

Tudo indica que Michael Taylor e Zayek voaram de jato privado do Dubai para o Japão com caixas de transporte de equipamento de áudio e vídeo, tendo informado as autoridades de imigração que eram músicos. Mais tarde, Ghosn terá viajado com os dois para Osaka, servindo-se depois de uma das caixas (que não foram verificadas na segurança do aeroporto) para se esconder e fugir do país.

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Aos dois suspeitos, pai e filhos, foi-lhes negada a liberdade mediante o pagamento de uma fiança, para evitar o risco de fuga. A embaixada japonesa em Washington, assim como a Nissan, ainda não comentaram as detenções.
Também no início deste mês, mas na Turquia, sete pessoas foram acusadas de estarem envolvidas na fuga do ex-CEO. Os suspeitos são quatro pilotos, duas comissárias de bordo e um executivo de uma companhia aérea.

Fuga planeada durante meses

Ghosn foi detido no Japão por acusações de fraude fiscal, em 2018. Apesar de estar em prisão domiciliária e monitorizado 24 horas por dia, conseguiu a proeza de voar para Beirute, no Líbano, via Turquia, no dia 29 de dezembro. A fuga do ex-CEO para Beirute foi meticulosamente planeada durante várias semanas ou meses, segundo testemunhas próximas de Ghosn.

A cadeia de televisão japonesa, NHK, teve acesso às imagens das câmaras de vigilância desse dia, onde se via Ghosn a sair de casa, durante a tarde de 29 de dezembro, e a caminhar cerca de 800 metros até ao hotel mais próximo. Foi ali que se juntou a Michael e Peter Taylor, os dois homens agora detidos, segundo os procuradores de Massachusetts.

De seguida, de acordo com a investigação, os três apanharam um comboio com destino a Osaka e, mais tarde, ficaram instalados num hotel perto do aeroporto internacional de Kansai. Duas horas depois, só dois homens foram vistos a sair das instalações do hotel, carregando duas volumosas caixas de equipamento de áudio e vídeo, segundo ainda a NHK. Como nenhuma câmara de vigilância captou a saída de Carlos Ghosn do hotel, a acusação acredita que ele ia escondido numa dessas caixas.

O Wall Street Journal avança que a equipa foi cuidadosamente escolhida para concretizar o golpe. O grupo teria cúmplices no Japão que facilitaram a viagem de Ghosn num jato particular com destino a Istambul. Lá, o ex-CEO continuou a sua jornada até Beirute, onde chegou na madrugada de 30 de dezembro. Detalhes da fuga nunca foram totalmente explicados.

Ghosn, que possui nacionalidades brasileira, francesa e libanesa, era chairman e CEO da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, e foi detido por suspeita de evasão fiscal, juntamente com o diretor representante Greg Kelly. Uma denúncia interna deu início a uma investigação que levou meses a revelar que tanto Ghosn como Kelly declararam à Bolsa de Valores de Tóquio, durante anos, valores de compensação inferiores ao montante real, de modo a evitarem o pagamento de impostos. “Outros atos numerosos e significativos de má conduta foram revelados, como o uso pessoal de bens da empresa, confirmando também o envolvimento profundo de Greg Kelly”, segundo um comunicado divulgado pela empresa na altura.

Ghosn foi uma das figuras incontornáveis e mais influentes na indústria automóvel. Após assumir o cargo de liderança na Renault, em 1996, trouxe a empresa de volta aos lucros, salvou a Nissan da ruína, formando uma aliança entre os dois construtores em 1999, o que originou um dos maiores  gigantes automóveis — que cresceu em 2017 com a adição da Mitsubishi.

Depois do escândalo, a Nissan deu entrada com um pedido de indemnização no valor de 90 milhões de euros, na esperança de “recuperar uma parte significativa dos danos monetários infligidos à empresa, por parte do ex-presidente, como resultado de anos de má conduta e atividade fraudulenta”, pode ler-se ainda no comunicado que foi revelado pela equipa jurídica na Nissan.