O pedido de desculpas está feito e a ilustração foi retirada. Vinte e quatro horas depois das acusações de racismo, a autarquia de Martinica — ilha nas Pequenas Antilhas, no Caribe, e região ultramarina da França — anunciou a sua decisão no Twitter.

A polémica começou quando, na mesma rede social foi publicado um cartaz a apelar ao distanciamento social. Até aqui, tudo bem, o problema é que o metro de distância era ilustrado como correspondendo a cinco ananases. Isso levou a uma onda de críticas no Twitter e de acusações ao autarca Stanislas Cazelles de racismo e de revivalismo do colonialismo francês.

“Acabámos de remover a ilustração publicada ontem sobre o distanciamento físico. Pedimos desculpas se atingiu algumas pessoas. O único objetivo era mostrar a importância do distanciamento da epidemia”, lê-se na publicação.

Entre os vários críticos, surge Jean-Luc Mélenchon, líder do partido de extrema esquerda França Insubmissa, que considerou o cartaz uma vergonha. “O autarca dirige-se aos habitantes da Martinica e o estado publica este cartaz?”, escreveu no Twitter.

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Uma outra publicação é do jornalista Taha Bouhafs, nascido na Argélia, e conhecido militante antirracista franco-algeriano. “Isto é uma piada ?! Portanto, a autarquia de Martinica aconselha os martinicanos a respeitar uma distância social de 5 ananases entre eles??”, escreveu na mesma rede social.

A maioria das publicações que surgiram no Twitter de naturais de Martinica são contra o conteúdo do cartaz, mas também há quem não tenha encontrado qualquer problema na imagem.

“Explicam-me onde está o problema, por favor? É apenas uma maneira divertida de passar a mensagem. E eu sou de Martinica antes que alguém venha dizer que sou racista ou algo assim”, escreve um utilizador.

Já outra utilizadora ironiza e escreve que “aparentemente os habitantes de Saint Etienne desconhecem o racismo e o neocolonialismo dos quais são vítimas”. A ilustrar a publicação, utiliza uma imagem de um cartaz onde a distância de um metro e meio é medida exatamente em ananases.

Sobre a escolha dos ananases, um outro utilizador argumenta que esse não é o problema fundamental. “O problema não é tanto o ananás (perguntei a um amigo de Martinica). Vejam a diferença para este poster da Polinésia. Reparem também que 23 de maio não é uma data trivial nas Antilhas.”

Na ilha, a data de 23 de maio está relacionada com a abolição da escravatura.

A um jornal francês, a autarquia argumentou que várias regiões personalizaram os seus cartazes com o ambiente local, sem qualquer polémica.

Por exemplo, na Austrália há vários cartazes oficiais com a distância em cangurus e na Flórida, EUA, usaram-se jacarés. No Canadá, a distância é ilustrada com um taco de hóquei, e na Alemanha com 18 copos de vinho.

Em Portugal, nos Açores, o Partido Socialista ilustrou a distância com uma vaca.

Cartas do PS Açores