O músico, psicólogo e investigador Vítor Reino, fundador da Ronda dos Quatro Caminhos, morreu na “noite de sexta-feira para sábado”, em Almada, disse este domingo à Lusa fonte da Associação Nacional para a Inclusão dos Cidadãos com Deficiência Visual.

Natural da aldeia de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, Castelo Branco, onde nasceu, em 1956, Vítor Reino destacou-se na recolha, divulgação e recriação de tradições musicais portuguesas, tendo promovido a criação de grupos como Almanaque, Ronda dos Quatro Caminhos e Maio Moço.

Cego desde a infância, era formado em Psicologia, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa, sendo autor de uma obra de investigação na área das deficiências visuais.

A música surgiu no seu percurso em 1974, primeiro como orientador e intérprete de projetos ocasionais, depois com o propósito de uma abordagem mais sistematizada da música tradicional portuguesa, a que os primeiros grupos, Almanaque e Ronda dos Quatro Caminhos, deram forma.

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Com Maio Moço, fundado em 1985, Vítor Reino e os músicos que o acompanhavam contruiram uma discografia premiada, que envolve álbuns como “Inda Canto Inda Danço”, com danças de raiz popular, “Amores Perfeitos”, sobre poemas de autores como Camões e Fernando Pessoa, “Estrada de Santiago”, viagem musical pelo país, e “Canto Maior”, reunião de romances, danças, cantigas infantis, de trabalho, de amor e de matriz religiosa, de inspiração tradicional.

Com “Cantigas de Marear”, uma abordagem do mar e dos Descobrimentos, no cancioneiro tradicional português, o grupo Maio Moço venceu o Grande Prémio do Disco, da Rádio Renascença, em 1989.

Vitor Reino trabalhou na recolha etnomusical com o investigador José Alberto Sardinha, promoveu registos de campo, em diferentes regiões do país, publicou ensaios sobre o património musical português, e promoveu a notação musicográfica em partitura, de canções e melodias recolhidas.

Resgatou também o uso de instrumentos tradicionais, muitos deles quase desconhecidos e em extinção, como o rajão, a viola de arame e a viola toeira, que combinou com intrumentos e formações clássicas, como o oboé e o quarteto de cordas, no contexto de recriação da música tradicional portuguesa.

Como psicólogo e funcionário do Ministério da Educação, desde 1983, trabalhou no Centro de Recursos para a Deficiência Visual e interveio na formação de professores do Ensino Especial. Fez ainda parte da Comissão de Leitura para Deficientes Visuais, que o elegeu em 1998 representante na Comissão de Braille.

O seu trabalho de investigação, nesta área, foi por diversas vezes distinguido com o Prémio Branco Rodrigues, administrado pela Biblioteca Nacional de Portugal, nomeadamente os ensaios “A Palavra Cegueira: Um Estudo sobre as Reações de Três Grupos Diferentes” e “Algumas considerações de ordem histórica, sociológica e psicopedagógica sobre o Sistema Braille”.

Trabalhou com o grupo Notas e Voltas do Banco de Portugal, e dinamizou o coro da Escola Secundária José Afonso, do Seixal.

O investigador musical João Carlos Calixto lamentou a morte de Vitor Reino na sua página no Facebook, descrevendo-o como “um dos músicos fulcrais na recriação das nossas tradições”.

VÍTOR REINO (1956-2020): muito triste começar o dia com a notícia da morte ontem de um dos músicos fulcrais na recriação…

Posted by João Carlos Callixto on Sunday, May 24, 2020

O velório de Vitor Reino realiza-se na segunda-feira, a partir das 11h00, na Igreja de Vale na Figueira, no Feijó, em Almada, de onde o corpo partirá para o cemitério local, de Vale de Flores, no Feijó, às 14h00, onde será cremado, indicou a Associação Nacional para a Inclusão dos Cidadãos com Deficiência Visual, a que o músico pertencia.