Os Arquivos Municipais de Lisboa reabriram ao público esta semana com menos visitantes, com presenças marcadas e com regras de proteção devido à pandemia Covid-19, mas com leitores a preferirem deslocar-se ao espaço físico agora que já é possível.

A segunda fase de desconfinamento que teve início em 18 de maio permitiu a abertura dos arquivos municipais de Lisboa, que passaram a ter lotação máxima diária e cujos visitantes têm de marcar a ida à sala de leitura.

Na última sexta-feira, estiveram no polo do Bairro da Liberdade os cinco leitores previstos diariamente, estando já assegurados vários agendamentos para as próximas semanas, esgotando em cada dia a capacidade da sala.

A responsável do Arquivo Municipal do Bairro da Liberdade, Helena Neves, explicou à Lusa que o regresso tem decorrido com “alguma tranquilidade”, acrescentando que têm estado a contactar os leitores cujos pedidos ficaram cancelados aquando do fecho ao público devido à pandemia Covid-19, respeitando a antiguidade do pedido.

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“Tem havido bastante compreensão por parte dos leitores que nos procuram”, explicou a responsável, referindo que, nos casos mais urgentes, os próprios funcionários do arquivo fizeram a consulta dos leitores, procurando encontrar os processos, depois fizeram a reprodução e enviaram-lhes, permitindo que não fosse preciso a deslocação.

No entanto, Helena Neves reconheceu que, “quando não prescindem de fazer a sua própria consulta”, os leitores dirigem-se ao espaço e respeitam o tempo de espera, sublinhando a “tranquilidade” com que está a decorrer todo o processo, mesmo para os funcionários, não se notando “casos de ansiedade”.

De acordo com a responsável, o perfil dos leitores do Bairro da Liberdade “é diversificado”, passando por pessoas que procuram o espaço para fazer trabalhos de investigação, sobretudo em questões de arquitetura, do urbanismo e da história da arte.

Mas há também promotores imobiliários e pessoas relacionadas com matérias de construção, disse a responsável, justificando que são muitos os projetos de arquitetura naquela sala de leitura.

São projetos de obra da cidade, que tem o historial da construção e todas as alterações e licenças de uso necessárias para as transações imobiliárias para as alterações e estudo e conhecimento da cidade”, sublinhou.

No Bairro da Liberdade encontra-se uma “grande série documental de processos de obra” da cidade de Lisboa, como plantas, memorias descritivas, processos do licenciamento urbanísticos, mas também processos de jazigos “com toda a história dos cemitérios da cidade de Lisboa, e mesmo documentação medieval, desde o século XIII”.

De acordo com a responsável, existe atualmente no espólio arquivos particulares de arquitetos que a câmara adquiriu como é o caso de Cassiano Branco, Keil do Amaral ou José Jervis Atouguia.

Helena Salreta, arquiteta há 40 anos, foi até ao arquivo a pedido de uma amiga que pretende fazer obras numa casa que tem no centro do bairro de Carnide. Explicou à Lusa que é um hábito seu, “antes de começar qualquer trabalho de reabilitação, verificar o que existe na câmara para seguir o projeto de alterações”.

Tinha uma marcação na altura em que foi declarado o estado de emergência, em março. Foi consultada pelo arquivo para saber da urgência do pedido e algum tempo depois, com um novo telefonema e a reabertura do espaço, foi possível voltar a consultar o projeto.

“É precisamente igual ao que era antes da pandemia. Temos bastante silêncio, entregam sempre num carrinho dois ou três volumes, é muito fácil e rápido”, contou Helena Salreta, munida de luvas e máscara enquanto consulta os processos que tem em cima da mesa.

O espaço tem agora menos pessoas. Sob o olhar atento da funcionária que continua a prestar apoio, encontravam-se três leitores na sala enquanto a Lusa esteve no local.

À entrada é obrigatória a limpeza das mãos com álcool gel disponível e a colocação de máscara.

Nenhuma mesa é usada por duas pessoas sem que seja desinfetada primeiro. Ao final da manhã são higienizadas para que os funcionários da câmara possam utilizar o espaço, já que da parte da manhã só há um leitor por mesa.

No Arquivo Fotográfico, a lotação máxima é de quatro leitores em simultâneo e embora só tenham tido um leitor durante a primeira semana de reabertura, continuam a fazer contactos com o intuito de agendamento.

A responsável pelo Arquivo Fotográfico, Isabel Corda, revelou que a semana foi “muito tranquila”, explicando que o regresso foi preparado tendo em conta as normas para que as pessoas possam visitar o espaço “com toda a segurança”.

“Os horários são faseados para que o público não se cruze, a sala de leitura funciona das 10h às 13h30 e as exposições das 13h30 às 16h. Garantimos que não há contacto e que estão em segurança”, explicou.

O espaço está orientado para a fotografia mas, conforme explicou Isabel Corda, encontra-se agora em articulação com os restantes polos e com atendimento desconcentrado, sendo possível consultar também processos de obra no local, caso estejam digitalizados.

“Num dia normal antes da pandemia teríamos alguns leitores na sala, teríamos visitantes em simultâneo na sala de exposições e as 26 pessoas que aqui trabalham a circular pelos corredores e pelos dois edifícios”, contou Isabel Corda, reconhecendo que agora trata-se de “um edifício sossegado, sem barulho, sem o ritmo que teria há dois meses, mas com a mesma produção”.

A responsável adiantou que, mesmo quando estavam em teletrabalho, continuaram “sempre a responder a pedidos do público”.

Com um acerco de perto de 600 mil espécies fotográficas, do século XIX e XX, Isabel Corda contou que o último levantamento foi realizado agora no período de confinamento, com dois fotógrafos na rua a fazer o registo da nova realidade.

A sala de exposições, onde está patente a exposição Contos de Lisboa, de Mónica de Miranda, encontra-se de novo aberta ao público, com uma capacidade de cinco visitantes em simultâneo, e vai estar de portas abertas até outubro.