“Cinemateca Brasileira pede socorro”. É assim que começa a petição que circula na internet a pedir que seja prestada atenção à instituição, com sede em São Paulo, e que já conta com 12.486 assinaturas, entre elas de antigos conselheiros da própria Cinemateca (como Lygia Fagundes Telles e Carlos Augusto Calil) mas também de várias personalidades do cinema brasileiro, como o realizador Kleber Mendonça Filho (autor do filme “Aquarius”, candidato à Palma de Ouro em Cannes em 2016).

Publicação do cineasta Kleber Mendonça Filho sobre a petição, partilhada este domingo (FACEBOOK)

Na petição, pode ler-se que desde o início deste ano que a Cinemateca “não recebeu ainda nenhuma parcela do orçamento anual, cujo montante é da ordem de 12 milhões de reais” — o equivalente a cerca de dois milhões de euros. O texto alerta ainda para a destruição do acervo audiovisual, que é atualmente o maior da América do Sul, e que tem sido afetado por uma série de incêndios e, mais recentemente, por umas cheias.

A petição, publicada já há mais de uma semana, ganhou novo fôlego com a notícia de que a Cinemateca iria ter uma nova diretora: a atriz Regina Duarte, demitida da secretária de Estado da Cultura pelo Presidente Jair Bolsonaro, mas reencaminhada para a Cinemateca. “Acabo de ganhar um presente que é um sonho de qualquer pessoa de comunicação, de audiovisual, de cinema, de teatro”, classificou a atriz, citada pelo G1. “Obrigado, Presidente”.

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A Cinemateca Brasileira está num estado incerto desde 2013, altura em que o diretor foi exonerado pela minista da Cultura, Marta Suplicy, e uma auditoria interrompeu a transferência de dinheiro para a Sociedade de Amigos da Cinemateca, como conta a BBC Brasil. Desde aí, o organismo tem estado à deriva, muitas vezes sem diretor, com trabalhadores sem receber salários e o laboratório de preservação e restauração parado.

Atualmente, a Cinemateca é gerida por uma organização contratada pelo governo com um contrato extraordinário, de emergência. E os fundos não estão, aparentemente, a chegar ao organismo.

Para além disso, os danos no acervo sucedem-se. O edifício em São Paulo já teve quatro incêndios desde que a Cinemateca foi fundada. O mais recente, em 2016, destruiu 500 obras. Agora, em fevereiro de 2020, pelo menos 113 mil cópias de DVD ficaram danificadas por cheias, segundo confirmou a própria instituição à BBC Brasil, depois de inicialmente não ter divulgado o número de obras afetadas. Na petição, os subscritores alertam para o facto de as autoridades não terem tomado “nenhuma providência de reparação ou de prevenção de novos acidentes”, na sequência destes acontecimentos.

“Sem os cuidados dos técnicos e as condições de conservação, todo o acervo se deteriorará de modo irreversível”, avisam os signatários. A petição pede uma atitude por parte dos poderes públicos e alerta para “um processo contínuo de enfraquecimento institucional que culmina na atual ameaça de total paralisia” da instituição se nada for feito.