Na tabela classificativa, quatro pontos separavam Bayern Munique e Borussia Dortmund à entrada para o Der Klassiker desta terça-feira. Na contabilidade dos últimos anos, diversos títulos dão superioridade ao Bayern Munique em relação ao Borussia Dortmund. E nas ambições europeias, a vantagem do Bayern Munique em relação ao Chelsea nos oitavos de final da Liga dos Campeões e a eliminação do Borussia Dortmund às mãos do PSG criam um fosso entre as duas equipas. Mas existem pontos de contacto entre os dois gigantes do futebol alemão.

À cabeça, as referências ofensivas. Na antecâmara do clássico desta terça-feira, Lewandowski e Haaland já eram os únicos jogadores na Europa que marcaram mais de 40 golos em todas as competições esta temporada. Os números, aliás, são iguais para ambos: 35 jogos, 41 golos. A diferença entre um e outro surge principalmente na Bundesliga, onde o norueguês chegou apenas em janeiro e soma 10 golos em 10 jogos. Só na liga alemã, o avançado polaco já marcou 27 vezes e está empatado com Ciro Immobile, da Lazio, na corrida pela Bota de Ouro europeia. Apesar das semelhanças entre Lewandowski e Haaland, o treinador do Bayern garante que ainda não é altura para comparar o jovem de 19 anos ao polaco.

“É a primeira temporada dele na Bundesliga, é demasiado cedo para os comparar agora. O Robert [Lewandowski] tem estado a um nível de classe mundial nos últimos anos. Mas o Haaland é um grande talento”, explicou Hansi Flick na antevisão do encontro entre as duas equipas. Outra das semelhanças entre Bayern e Borussia são as jovens promessas — se de um lado atua Alphonso Davies, um dos nomes mais promissores do futebol europeu, do outro está Jadon Sancho, no topo da listas de pretensões de Manchester United e Chelsea. E depois existem dois sidekicks perfeitos, uma espécie daquilo que Robin é para Batman ou Chewbacca para Han Solo: em Munique, está Müller, com 17 assistências no campeonato esta época; em Dortmund, joga Julian Brandt, com participação em metade dos golos que o Borussia marcou na Bundesliga em 2019/20.

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Mas acima de tudo isso, e à entrada para o grande jogo que poderia colocar o Borussia a apenas um ponto da liderança da Bayern em caso de vitória, existia um tópico fulcral que ligava as duas equipas: o regresso triunfante depois de dois meses de paragem. Nas duas jornadas disputadas desde o recomeço da competição, ambos os clubes somaram duas vitórias inequívocas e apresentaram níveis físicos e exibicionais muito acima dos dos adversários. Esta terça-feira, era o dia do verdadeiro teste.

No Signal Iduna Park, Lewandowski, Müller e Davies eram todos titulares, a par de Coman e Gnabry, e o Borussia tinha Haaland e Brandt no onze, assim como o português Raphaël Guerreiro, que já marcou três vezes desde o recomeço. Sancho começava no banco e era Thorgan Hazard quem atuava de início; Witsel, que falhou os dois jogos anteriores por lesão, estava recuperado e era suplente. Nos primeiros minutos, o Borussia mostrou alguma superioridade — aliada à noção de que estava mais pressionado do que o adversário, a depender da vitória para se aproximar do primeiro lugar — e Haaland ficou perto de marcar logo no minuto inicial, depois de um erro de Neuer, mas Boateng evitou o golo em cima da linha.

Com o avançar da primeira parte, o Bayern cresceu na partida e foi empurrando o Borussia para trás, refreando o ímpeto inicial da equipa de Lucien Favre. Kimmich criou uma situação de perigo para Muller (11′), já depois de Lewandowski ser o primeiro a surgir com a bola nos pés dentro da grande área, e Gnabry ficou muito perto de abrir o marcador mas Piszczek evitou o golo (19′). Num jogo muito equilibrado, o controlo da partida foi trocando de mãos em formato pingue-pongue — se de um lado, o Bayern parecia não querer arriscar muito nem desequilibrar os setores para não se expor na defesa, o Borussia estava com dificuldades em encontrar a largura necessária para chegar com perigo à baliza de Neuer. Haaland estava algo isolado — e abaixo no nível que tem demonstrado — e teve a melhor oportunidade já depois da meia-hora: desembaraçou-se de dois adversários, ficou apenas com Neuer pela frente mas foi desarmado por Alphonso Davies, que chegou aos 35 km/h na recuperação para roubar a bola ao norueguês.

Num altura em que tanto Hansi Flick como Lucien Favre já pensavam no intervalo, Kimmich tirou da cartola um momento brilhante: na sequência de um lance de insistência por parte do Bayern, com a bola a ressaltar várias vezes e a passar por vários intervenientes à entrada da grande área, Kimmich aproveitou a posição algo adiantada de Bürki para soltar um chapéu perfeito que só parou no fundo da baliza do Borussia (43′) — com esse pormenor de as regras de distanciamento social terem ficado totalmente esquecidas nos festejos. No final da primeira parte, o Bayern estava a ganhar e tinha sete pontos de vantagem na liderança graças a um momento de total inspiração do alemão.

Na segunda parte, Favre tirou Brandt e Delaney para lançar Sancho e Emre Can — ou seja, uma tentativa de oferecer criatividade ao ataque, face a um primeiro tempo algo desinspirado de Brandt, e fortalecer a posse de bola, com a entrada do médio alemão. As duas substituições, porém, pouco ou nenhum impacto tiveram na equipa e o Borussia parecia algo desmotivado, sem a velocidade dos minutos iniciais e sem o perigo que apresentou a espaços durante o primeiro tempo. Goretzka ficou mesmo perto de aumentar a vantagem com um remate de fora de área, que Bürki defendeu (54′), e a melhor oportunidade da equipa de Dortmund surgiu com um remate de Haaland que Boateng desviou pela linha de fundo (58′).

Ao longo da segunda parte, o Bayern acabou por entregar a iniciativa ao adversário, preferindo solidificar o setor defensivo e segurar a vantagem, mas o Borussia pouco conseguia criar: Guerreiro estava apagado, Haaland estava sozinho na frente, Hakimi corria muito mas tinha pouca ligação a Hazard e Sancho não conseguiu implementar a rebeldia que o caracteriza. A equipa de Favre, que é de longe o conjunto que melhor aplica a estratégia de três centrais no futebol europeu, não estava a conseguir aproveitar a largura das alas — onde a velocidade de Hakimi e Guerreiro é instrumental, a preencher todo o corredor — e parecia sempre muito congestionada na faixa central.

Haaland saiu a 20 minutos do fim com problemas físicos, substituído pelo jovem Gio Reyna, e passou Hazard para uma posição de falso ‘9’. O Borussia teve o mérito de lutar pelo resultado até ao apito final mas já não conseguiu evitar a derrota que colocou o Bayern Munique com sete pontos de vantagem no topo da Bundesliga. A equipa de Hansi Flick apresenta atualmente uma maturidade muito acima da média, uma qualidade que nos últimos anos tem faltado na aliança aos títulos conquistados e um equilíbrio perfeito entre a jovialidade de nomes como Davies com a experiência de outros como Müller. E a jogar assim, a ganhar ritmo antes dos principais adversários europeus e a poder confiar desde já na conquista da oitava liga alemã consecutiva, o Bayern Munique é nesta altura o principal candidato à vitória na Liga dos Campeões.

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