O Senado brasileiro aprovou na segunda-feira a convocação do ministro da Educação para explicar declarações feitas numa reunião ministerial, em abril, em que defendeu a prisão dos juízes do Supremo.

Na reunião e na presença do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, Abraham Weintraub afirmou que os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) deviam ser presos e que há muita corrupção em Brasília.

“O povo está gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que estamos a perder. O povo está querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, disse Weintraub, durante a reunião gravada em vídeo, e cuja divulgação foi decretada pelo STF na semana passada.

“Eu não quero ser escravo nesse país. E acabar com essa porcaria que é Brasília. Isto é um cancro de corrupção, de privilégio. Eu não quero ser escravo de Brasília. Eu tinha uma visão negativa de Brasília e vi que é muito pior do que eu imaginava”, acrescentou o ministro no encontro, cujo sigilo foi levantado devido a um inquérito sobre a alegada interferência de Bolsonaro na polícia.

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Os requerimentos para a audição de Weintraub, ainda sem data definida, foram apresentados pelos senadores Randolfe Rodrigues e Rose de Freitas. Na defesa do requerimento, a senadora Rose de Freitas afirmou querer “respeito aos poderes constituídos, à população, ao Congresso Nacional, ao Senado”. Rose de Freitas também tinha apresentado pedido para a convocação dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

No vídeo da reunião ministerial, Salles sugeriu ao executivo que aproveitasse o foco da imprensa na Covid-19 para aprovar “reformas infralegais de desregulamentação” na área ambiental. Já Damares defendeu a prisão de governadores e prefeitos por medidas tomadas face à pandemia.

Contudo, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, pediu que o requerimento ficasse restrito ao ministro da Educação, ao considerar que as declarações de Weintraub “cruzaram a linha do respeito”.

Na sexta-feira, o Supremo Tribunal Federal brasileiro divulgou o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, na sede da Presidência, em Brasília, apontada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como prova da alegada interferência do Presidente na Polícia Federal.

O vídeo está marcado por palavrões e injúrias por parte de Bolsonaro e ministros, e pela ameaça de “demissão generalizada” feita pelo Presidente a quem não adotasse a defesa de assuntos defendidos pelo Governo.

Além das questões relacionadas com Bolsonaro, o juiz do STF Celso de Mello, responsável pelo caso, indicou que, após assistir ao vídeo, descobriu “prova da aparente prática, pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, de possível crime contra a honra dos juízes do Supremo Tribunal Federal”.