O paralelo entre as populações confinadas por causa da pandemia de Covid-19 e os personagens de “Snowpiercer”, fechados num comboio devido às alterações climáticas, elevou a audiência da série, disseram os responsáveis pela produção.

As pessoas estão a viver isto muito atentas ao que se está a passar, especialmente visto que o clima melhorou um pouco com a redução das emissões de dióxido de carbono”, explicou o produtor executivo Marty Adelstein.

O responsável falava numa sessão do festival Banff World Media, que este ano decorre inteiramente online, sobre a série do canal TNT que, fora dos Estados Unidos, está disponível através da plataforma Netflix.

De acordo com o vice-presidente global de televisão da Netflix, Larry Tanz, a pandemia obrigou a alterações na forma como o serviço encarou o lançamento nos mercados internacionais, incluindo Europa.

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“Mudou a forma como promovemos a série, porque quando as pessoas estão confinadas é preciso fazer as coisas de maneira diferente”, disse o executivo. “Provou ser atual e acessível para as pessoas. Nalgumas partes mostra aquilo pelo qual as pessoas estão a passar”, considerou. Tanz reconheceu que “é difícil avaliar”, mas considerou que a série teria uma “excelente” receção com ou sem pandemia.

Nos Estados Unidos, o primeiro episódio foi visto por 3,3 milhões de espectadores, o que significa que esta foi a estreia mais vista da televisão por cabo desde 2018. No resto dos mercados não há números oficiais, sendo que a Netflix não divulga audiências.

“Era uma das questões que tínhamos quando tudo começou: Como é que a série seria recebida? Seria algo que as pessoas queriam ver?”, indicou Adelstein. A série estreou-se a 17 de maio nos EUA, e chegou à Netflix na passada segunda-feira, numa altura em que ainda há muitos países em confinamento parcial. “Descobrimos que sim”, referiu o produtor.

“Snowpiercer” baseia-se numa história escrita nos anos oitenta em novelas de banda desenhada e transformada em filme, em 2013, por Bong Joon-ho, o premiado realizador de “Parasitas”. Mostra o universo distópico de uma nova idade do gelo, em que o que resta da humanidade vive num comboio de alta tecnologia que circula à volta do mundo sem parar.

As pessoas olharam para isto e não o viram como um roteiro para o futuro mas definitivamente foi algo a que responderam bem e abraçaram”, afirmou Marty Adelstein. “Vimos isso nas audiências e nas respostas das pessoas”.

No início de abril, de acordo com o estudo de uma equipa internacional de cientistas publicado no boletim científico Nature Climate Change, registou-se uma redução de 17% nas emissões globais de dióxido de carbono, em resultado das medidas de mitigação da Covid-19.

“Nós não tentámos fugir da questão, abraçámo-la – os efeitos, o que as alterações climáticas são na história”, afirmou Marty Adelstein. “Não fugimos de todo, sabendo o que se está a passar no mundo”.

A narrativa enquadra-se no género que o showrunner Graeme Manson chamou de “ficção climática” durante a mesma sessão do Banff World Media Festival. “É difícil dramatizar as alterações climáticas”, afirmou, “mas é possível mostrar os seus efeitos nos personagens, a perda das pessoas e do mundo que conheciam”.

Os atores Daveed Diggs (Andre Layton) e Jennifer Connelly (Melanie Cavill) protagonizam a série, que teve uma génese atribulada com vários problemas de produção e divergências criativas. A produção conta com a maquilhadora portuguesa Rosalina da Silva, uma veterana de Hollywood.

Quando a pandemia obrigou à suspensão de todas as atividades da indústria do entretenimento, a equipa já tinha gravado a maioria da segunda temporada, disse Adelstein.

No dia em que soubemos que íamos ter de encerrar tudo conseguimos pegar em cenas suficientes para completar o episódio 8 e, agora, precisamos de completar o 9 e 10, quando regressarmos para filmar a terceira temporada”, avançou o responsável.

Adelstein, presidente do Tomorrow Studios, afirmou que as restrições provocadas pela pandemia têm sido “desafiantes”, mas não tão difíceis de contornar quanto se poderia esperar.

“Temos a sorte de a maior parte das nossas séries não regressarem antes do final de agosto, início de setembro”, disse. “Estamos espalhados pelo mundo e algumas séries estão localizadas na Nova Zelândia, onde as coisas estão completamente sob controlo”.

Em termos de vendas, a equipa tem usado sobretudo a plataforma Zoom. “Não são a pior coisa do mundo e penso que as pessoas estão a habituar-se”, considerou. “Estamos a preparar-nos para voltar à produção”.