Na conferência de imprensa desta quarta-feira, Graça Freitas voltou a fazer um ponto de situação da evolução do novo coronavírus na região de Lisboa e Vale do Tejo, atualmente o principal foco da pandemia em Portugal. A diretora-geral da Saúde classifica o cenário como “multivariado”, fala em “pequenos surtos em bairros e em fábricas”, mas também em “casos esporádicos disseminados entre a população”.

“Há situações diferentes. Há zonas onde os casos são dispersos, há depois a questão da Azambuja, que foi de contágio em meio laboral”, referiu em resposta a uma das perguntas dos jornalistas.

Numa avaliação do surto do Seixal, onde na última terça-feira a DGS anunciou ter identificado 32 casos de infeção, Graça Freitas sublinhou a existência das “interações necessárias a nível local”, depois de a própria autarquia ter vindo dizer que soube do surto pela comunicação social. Deixou ainda informações quanto à evolução do surto no Bairro da Jamaica.

“Em relação ao Seixal há boas notícias. Num dos bairros onde houve 16 casos positivos, quatro já foram dados como curados e não apareceram novos casos. Por outro lado, apareceram no Seixal situações familiares, focos muito pequenos e ligados à coabitação”, esclareceu Graça Freitas.

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Noutra zona, já no distrito de Santarém, deu conta de um surto num lar de idosos, em Pernes, garantindo que este foi “rapidamente resolvido”. Nesse estabelecimento, 18 utentes e seis profissionais testaram positivo.

Graça Freitas reforçou a articulação local entre autarquias, Santa Casa da Misericórdia, Segurança Social e Proteção Civil. “O que está a acontecer em Lisboa já aconteceu noutras zonas do país. Há circulação do vírus e essa circulação é diferente conforme as localidades”, rematou.

“Não me parece que haja razões para se fazerem testes em bairros sociais, a não ser no âmbito de um surto e de uma investigação epidemiológica — aí sim, haverá a necessidade de fazer testes, de acordo com o que é a estratificação do risco. Não me parece que seja por estar num bairro social por si só que se deva testar. Este vírus é um vírus democrático. Pode atingir qualquer um de nós, independentemente da condição social”, afirmou o secretário de Estado da Saúde sobre a testagem em bairros sociais.

Graça Freitas completou: “Não é por se tratar de um bairro social, que se confina ou não todo o bairro. A avaliação do risco é feita igualmente para qualquer tipo de população”, adicionou.

O números desta quarta-feira

No dia em que registou 14 mortes e 285 novos casos de infeção, Francisco Lacerda Sales fez um ponto de situação referente aos testes feitos em Portugal. Desde o dia 1 de março, foram realizados mais de 770 mil testes à Covid-19, sendo que no dia 15 de maio foi ultrapassada a barreira dos 20 mil testes diários. Na última segunda-feira, 7% dos testes positivos foram feitos na região de Lisboa e Vale do Tejo.

O secretário de Estado avançou que há casos positivos da Covid-19 em 14 unidades da rede nacional de cuidados continuados integrados, num universo de 359. “São 39 doentes positivos. Felizmente, não se registam mortes nestas unidades desde o dia 22 de abril”, explicou. “Foram transferidos cerca de 4.250 doentes dos hospitais para as unidades da rede nacional de cuidados continuados integrados, desde o dia 9 de março”, acrescentou.

No boletim divulgado esta quarta-feira, 97% dos novos casos estão na região de Lisboa e Vale do Tejo, enquanto que os números no resto do país continuam estáveis, o que faz com que seja a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se registaram 277 novos casos desde ontem, a única onde a evolução da pandemia não está a estabilizar.

Esta é a distribuição dos casos por região:

  • Norte: 16.703 casos — mais 6 do que ontem
  • Centro: 3.690 casos — os mesmos que ontem
  • Lisboa e Vale do Tejo: 10.055 casos — mais 277 do que ontem
  • Alentejo: 256 casos — mais 2 do que ontem
  • Algarve: 363 casos — os mesmos que ontem
  • Açores: 135 casos — os mesmos que ontem
  • Madeira: 90 casos — os mesmos que ontem

Há atualmente 1.886 pessoas a aguardar o resultado dos testes laboratoriais, enquanto 27.141 estão sob vigilância das autoridades de saúde por serem contactos diretos dos casos confirmados. Houve até ao momento 283.186 pessoas que surgiram como casos suspeitos e que acabaram por testar positivo.

Sobre a “grande maioria” que recupera da doença em casa (apenas 1,6% estão hospitalizados), Graça Freitas defendeu que “tem de haver um conjunto mínimo de habitabilidade”. “As situações domiciliárias são sempre avaliadas pelo conjunto das autoridades de saúde e de outras instituições que possam intervir”, concluiu. Contudo, questionado sobre a possibilidade de acionar o hospital de campanha da região para proporcionar condições de isolamento aos pacientes, o secretário de Estado garantiu não haver essa necessidade.

Os testes do pré-escolar e os campos de férias

Sobre os testes do pré-escolar, a diretora-geral da Saúde explica que “a política de testes de forma preventiva” tem sido “em função daquilo que se considera que é o risco ou da própria população que é rastreada ou da população com quem vai lidar”.

“Portanto, foi nesse sentido que se privilegiaram as creches porque são meninos muito pequeninos que não podem cumprir, pela sua idade, regras nenhumas, e têm direito a brincar. Os resultados, conforme a região do país desse rastreio aos educadores foram diferentes. Houve sítios onde se encontraram mais pessoas positivas e houve sítios onde se encontraram muito menos — o que é, também lógico porque, se olharmos para o mapa, a infeção não é igual em todo o país”, disse ainda.

Sobre a reabertura de campos de férias e de ATL, a diretora-geral da Saúde referiu que, ainda esta quarta-feira, sairá um conjunto de recomendações elaborado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude e pela DGS — “terá algumas das recomendações que já fizemos para as escolas e para creches”.