Insistindo na necessidade da TAP ser pública, a coordenadora do BE, Catarina Martins, apontou esta quinta-feira que “uma empresa que precisa tanto de apoio público” não pode estar a decidir coisas contra o que o próprio Governo pede, dando o exemplo das rotas. “Não pode ser pagar e não mandar. Para Novo Banco, já basta um”, sintetizou.

Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, a líder do BE avisou também esta quinta-feira que a resposta à crise no orçamento suplementar “não pode significar um recuo do que se fez nos últimos anos” nem cortes nos rendimentos ou direitos.

Catarina Martins foi questionada sobre a possibilidade de o BE viabilizar o orçamento suplementar que o Governo vai apresentar na sequência da crise gerada pela pandemia de Covid-19, tendo respondido que os bloquistas estão “a estudar” e que têm “muita vontade de construir soluções”.

Há algo aqui que é determinante: a resposta à crise não pode significar um recuo do que se fez nos últimos anos, não pode significar cortes nem nos rendimentos nem nos direitos. Vai ser preciso um novo patamar de medidas sociais e económicas para suportar o país”, avisou.

Questionada sobre as linhas vermelhas do BE para esta aprovação, a líder do BE recusou esta forma de negociação por parte dos bloquistas, cujo objetivo é “definir princípios de progressão”.

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Dando o exemplo da crise no turismo e do alojamento local, Catarina Martins defendeu que a resposta de emergência para este setor “tem que ser estrutural”, ou seja, “colocar estas casas no mercado de arrendamento de longa duração com preços compagináveis com os salários que são pagos em Portugal”.

Outro exemplo: temos muita necessidade de pessoas para os cuidados a idosos e há quatro mil desempregados que se voluntariaram nos centros de emprego para irem apoiar estes cuidados. Mas, em vez de terem um contrato de trabalho, têm uma bolsa. O Estado deve apoiá-las, mas não é para as manter na situação de desemprego. É para lhes garantir o emprego e um contrato de trabalho”, propôs.

Sobre a possibilidade de um “consenso alargado que englobe BE e PSD”, a coordenadora bloquista considerou que isso “será difícil”, evidenciando as diferenças entre os dois partidos e o “desfasamento entre o discurso do PSD e a ação do PSD” que existe por vezes.

“O PSD tem um discurso um bocadinho moralista sobre a economia mas vota onde sempre votou, vota à direita e vota ao lado dos grandes interesses económicos”, criticou.

Catarina Martins condenou ainda que a posição da UGT em relação ao aumento de 0,3% da função pública, considerando “absolutamente desastroso que comece por falar na dificuldade de aumentos” porque já se sabe que “sempre que se corta de um lado, acaba a cortar-se em todos os trabalhadores”, ou seja, “o mesmo discurso da troika”.

Questionada sobre se uma eventual candidatura a Belém de Ana Gomes não assusta o Bloco, Catarina Martins manifestou “um enorme respeito” pela socialista “que se está a posicionar num debate interno do PS em nome da democracia”.

“Depois vejo alguns apoiantes de Ana Gomes que dizem uma coisa do género ‘toda a esquerda deve unir-se em torno de Ana Gomes para fazer uma candidatura contra uma pessoa que tem 4% nas sondagens’. Acho isso esquisito. Não se combate a extrema-direita, o populismo e o ódio com falta de programas ou frentes vazias de conteúdo. Combate-se com a esquerda tendo uma resposta para o país”, advertiu.