Três jogos, um ponto. Desde que a Bundesliga recomeçou, o Eintracht Frankfurt ainda não ganhou, somou duas derrotas e um empate, sofreu 11 golos e marcou seis. Se fizermos as contas, na verdade — e mesmo com a devida ressalva da pandemia e dos dois meses de interrupção da competição –, o Eintracht não ganha desde o início de fevereiro, quando goleou o Augsburgo. Por isso mesmo, a equipa que está ainda na Liga Europa e que é presença assídua nas competições europeias está bem abaixo na tabela e vai realizar esta reta final do campeonato a lutar para não descer.

Talvez por isso, pela temporada difícil que está a realizar, o Eintracht tem sentido ainda mais a ausência dos adeptos e a falta de apoio vindo das bancadas. No início da semana, o treinador Adi Hütter confessou isso mesmo, num desabafo durante uma conferência de imprensa. “Os nossos adeptos estiveram sempre lá, quando precisávamos. Agora, que precisamos, não podemos contar com eles… É uma situação que afeta mais uns clubes do que outros. Nas equipas grandes não faz diferença, mas o resto precisa do apoio do público”, disse o austríaco. E a verdade é que, depois da confissão de Hütter, o Eintracht acabou mesmo por realizar o melhor jogo desde o recomeço, obrigando o Friburgo a um empate a três golos.

Ainda sem Gonçalo Paciência, que permanece lesionado, o Eintracht Frankfurt visitava este sábado o Wolfsburgo, que está no sexto lugar e na jornada passada alcançou uma importante vitória no terreno do Bayer Leverkusen. Bas Dost começava no banco e Adi Hütter voltava a apostar em André Silva no onze inicial — o avançado português marcou contra o Friburgo a meio da semana e era titular pelo terceiro jogo consecutivo, tendo arrancado como suplente apenas na primeira partida depois da retoma. Além do golo na jornada anterior, que acabou por motivar o Eintracht a lutar pelo resultado e a arrancar o empate, André Silva tem estado alguns furos acima de Dost e tem aproveitado a mobilidade que oferece ao jogo para ganhar espaço na ausência de Paciência.

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Num jogo que serviu para a Bundesliga continuar a experimentar a utilização de sons de adeptos gravados nas transmissões — sons que não se ouvem no próprio estádio, apenas nas televisões de cada telespectador –, o Wolfsburgo tentou assumir o controlo logo a partir do minuto inicial. O Eintracht mantinha o problema que tem demonstrado desde o início da temporada: a falta de capacidade para chegar à baliza adversária com a bola jogável e através de lances de qualidade. A equipa de Adi Hütter parece sempre algo dispersa, com os setores muito espaçados e sem ligação, a depender de passes longos sem grande objetivo prático ou das subidas de Hinteregger e Abraham pelos corredores.

De forma natural, foi o Wolfsburgo a criar a primeira oportunidade de golo. Brekalo surgiu sem marcação na grande área depois de um lance pela esquerda e atirou de primeira, para uma enorme defesa de Kevin Trapp (20′). Porém, e numa das primeiras aproximações do Eintracht à baliza adversária, André Silva foi carregado em falta por Pongracic no interior da grande área e acabou por ser o próprio português a converter a grande penalidade (27′). O avançado marcava pelo segundo jogo consecutivo, confirmava o bom momento individual e deixava a equipa a ganhar ainda antes da meia-hora — criando uma hipótese capital para o Eintracht voltar a ganhar, mais de três meses depois, e conquistar três importantes pontos nas contas do campeonato.

Até ao intervalo, Schlager ficou muito perto de assinar um grande golo para o Wolfsburgo, com um remate de muito longe que passou ao lado (31′), e o Eintracht quase aumentou a vantagem, por intermédio de Gacinovic (40′), depois de um bom lance individual de Kostic na esquerda. Apesar de estar a ganhar, permanecia a ideia de que a equipa de Adi Hütter teria de sofrer até ao fim para segurar a vitória: o Wolfsburgo joga melhor futebol, é muito mais esclarecido e a qualidade individual de Brekalo, o avançado croata de 21 anos, estava a tornar o lado esquerdo do ataque uma autêntica dor de cabeça para a defesa do Eintracht.

Na segunda parte, depressa se percebeu que a lógica seria apenas uma: o Wolfsburgo a procurar o golo e a baliza do Eintracht, o Eintracht a baixar todas as linhas e a aproximar os setores para segurar o resultado. A primeira lógica demorou 13 minutos a dar frutos, assim como a segunda só sobreviveu durante 13 minutos. Na sequência de um livre batido na perfeição por Max Arnold, o lateral Mbabu apareceu ao primeiro poste a desviar para o interior da baliza e para o empate (58′). Arnold já leva envolvimento em 12 golos do Wolfsburgo esta época, dado conjugado com oito assistências, e tentou aumentar os números logo depois, com mais um livre que Pongracic desperdiçou com um remate por cima (63′).

Se o Eintracht chegou ao intervalo com apenas um remate enquadrado, o do golo, as coisas pouco ou nada se alteraram no segundo tempo. A equipa de André Silva, que por esta altura já andava muito isolado na frente de ataque, acusou todas as discrepâncias que já tinham ficado evidentes na primeira parte e não soube resistir à superioridade do Wolfsburgo, que continuava a ter em Arnold e Brekalo as principais referências. O avançado português acabou por sair a cerca de 15 minutos do final, para a entrada de Bas Dost, e a verdade é que o domínio do Wolfsburgo foi desvanecendo com o aproximar do fim do jogo.

Mesmo na reta final da partida e numa altura em que, graças às múltiplas substituições em ambas as equipas, o jogo estava algo irracional e sem uma tendência clara, Bas Dost apareceu no sítio certo para assistir Kamada para o golo da vitória. Cruzamento largo a partir da esquerda, o avançado holandês amorteceu de cabeça e Kamada, que acelerou vindo de trás, rematou de primeira para bater Casteels (85′). O médio ofensivo, que nem sequer estava a realizar uma grande exibição, acabou por valer a primeira vitória do Eintracht Frankfurt em três meses e um balão de oxigénio na luta pela manutenção.

O Eintracht conquistou três pontos mais do que valiosos, num resultado surpreendente que deixou o Wolfsburgo aquém das expectativas, principalmente depois da retumbante vitória perante o Bayer Leverkusen na semana passada — a equipa de Oliver Glasner jogou mais, jogou melhor, controlou quase sempre mas não foi eficaz e falhou no setor defensivo. André Silva marcou pelo jogo consecutivo, Bas Dost assistiu numa das primeiras vezes em que tocou na bola e uma partida que envolvia o 6.º e o 14.º classificados da Bundesliga acabou por ser uma das mais emocionantes desde que o futebol voltou na Alemanha.