A doença respiratória covid-19, causada por um novo coronavírus, detetado em dezembro na China, disseminou-se pelo mundo, tornando-se numa pandemia, e foi diagnosticada em Portugal em 2 de março.
Eis o que se sabe (e não se sabe) sobre a covid-19, com base em informação divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, Direção-Geral da Saúde (DGS), especialistas e estudos científicos:
O que é a covid-19?
É a doença respiratória provocada pelo SARS-CoV-2, um coronavírus que nunca tinha sido identificado em humanos. Covid-19 significa doença causada por um coronavírus descoberto em 2019, o coronavírus-2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2).
A nova doença infecciosa apresenta sintomas semelhantes à gripe sazonal e a duas outras doenças respiratórias provocadas por coronavírus: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV), que apareceu pela primeira vez na China em 2002, e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS-CoV), detetada em 2012 na Arábia Saudita.
O que é um coronavírus?
É uma família de vírus (com a forma de uma coroa) que circulam entre os animais, como morcegos, camelos e aves, sendo que alguns infetam pessoas. Até à data, segundo a DGS, são conhecidos oito coronavírus que infetam e podem provocar doença nos humanos. Normalmente, estes vírus afetam o sistema respiratório, podendo a infeção ser semelhante a uma constipação ou evoluir para uma doença grave como a pneumonia.
Os morcegos são considerados os reservatórios naturais destes vírus, transmitidos habitualmente aos humanos através de outro animal. O coronavírus que causou a MERS foi transmitido por camelos às pessoas, enquanto o coronavírus que provocou a SARS passou de gatos-de-algália (civetas) para os humanos.
No caso do coronavírus da covid-19, não é claro ainda qual o animal que serviu de hospedeiro ao vírus e o transmitiu às pessoas. Vírus muito semelhantes foram identificados em morcegos e pangolins, mas não é seguro, ainda, qual o envolvimento destes animais no aparecimento do SARS-CoV-2 nos humanos.
Quando é que foi detetado o novo coronavírus?
Em dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan, tendo-se espalhado rapidamente ao resto do mundo. Os primeiros casos de covid-19 foram associados a um mercado de venda de animais vivos, que foi encerrado em 1 de janeiro de 2020.
Em 11 de janeiro, cientistas chineses divulgaram a sequenciação genética do SARS-CoV-2, uma informação importante para o avanço do estudo do novo coronavírus e da nova doença infecciosa.
O que é uma pandemia?
É uma doença infecciosa que se propagou pelo mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a covid-19 uma pandemia em 11 de março de 2020. Além de ser uma pandemia, a covid-19 é, desde 30 de janeiro, uma emergência de saúde pública internacional.
Como se transmite a infeção?
Transmite-se entre pessoas, possivelmente através de gotículas que são expelidas do nariz ou da boca quando uma pessoa infetada tosse, espirra ou fala. As gotículas podem ser inaladas, mas também cair em superfícies, como mesas, maçanetas de portas e corrimões. As pessoas podem ficar infetadas ao tocarem com as mãos nestas superfícies e depois no nariz, na boca ou nos olhos.
O SARS-CoV-2 pode sobreviver em diferentes materiais algumas horas, como cobre e cartão, ou poucos dias, como plástico e aço inoxidável. Contudo, a quantidade de vírus viável para causar infeção vai diminuindo com o passar do tempo.
A transmissão do vírus pode ocorrer cerca de dois dias antes de uma pessoa infetada manifestar sintomas. Contudo, a pessoa é mais infecciosa no período em que apresenta sintomas, mesmo que ligeiros.
Qual o período de incubação do coronavírus?
Estima-se que o período de incubação, entre a exposição ao vírus e o aparecimento de sintomas, ronde 1 a 14 dias.
Qual o período de infeção?
Estima-se que dure, em média, entre 7 e 12 dias em casos moderados e até duas semanas nos casos graves.
Como se manifesta a covid-19?
Na maioria dos casos, a infeção apresenta sintomas ligeiros a moderados ou é assintomática (sem sintomas). Os sintomas mais comuns são tosse, febre e dificuldade em respirar. Menos frequentes são a fadiga, dores musculares, dores de cabeça e garganta, congestão nasal, conjuntivite, diarreia, perda de olfato e paladar e irritação cutânea.
A covid-19 pode surgir como uma simples constipação ou evoluir, de forma mais grave, para uma pneumonia com insuficiência respiratória aguda, falência dos rins ou de outros órgãos e levar à morte. O agravamento da situação clínica pode acontecer rapidamente, em regra durante a segunda semana da doença. Grande parte das pessoas recupera, no entanto, sem necessitar de cuidados hospitalares e, aparentemente, sem ficar com sequelas.
Sendo uma infeção assintomática, isto é, uma pessoa pode infetar-se e infetar outras pessoas sem o saber, o controlo da propagação da covid-19 é mais difícil quando comparado com as infeções respiratórias semelhantes MERS (2012 e 2015) e SARS (2002 e 2003).
Como se diagnostica a covid-19?
Através de uma análise às secreções do nariz e da garganta que confirmará ou não a presença de material genético do vírus.
Quem fica infetado?
O vírus infeta desde crianças a idosos, mas não de igual modo. Nas crianças, a covid-19 é, em geral, menos severa. Os especialistas admitem como possíveis explicações o facto de terem uma imunidade inata mais forte e menos recetores para o vírus entrar nas células do sistema respiratório.
Em contrapartida, as pessoas com mais de 70 anos e ou com doenças crónicas, como doenças cardiovasculares, renais, respiratórias, diabetes e cancro, apresentam maior risco de desenvolver manifestações mais graves da doença, que podem conduzir à morte, por terem as defesas do organismo mais debilitadas.
Não há evidência de que as mães transmitam o novo coronavírus aos filhos na gravidez, no parto ou na amamentação.
Quem foi infetado fica protegido contra uma nova infeção?
À partida uma pessoa que é infetada por um vírus e recupera fica imune a uma nova infeção causada por esse mesmo vírus, uma vez que ganhou anticorpos contra o vírus. Sendo a infeção provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2 recente, não se sabe ainda quais os níveis de anticorpos adquiridos e se são efetivamente protetores, se neutralizam o vírus.
Além disso, uma vez adquirida essa imunidade, não se sabe se é duradoura ou não. A imunidade a outros coronavírus não é duradoura, ronda entre ano e meio e três anos, de acordo com virologistas.
Os testes serológicos, que na prática consistem na recolha de uma amostra de sangue, são importantes para aferir o grau de imunidade a uma doença, ao permitirem detetar, no soro sanguíneo, os níveis de anticorpos específicos para um vírus como o SARS-CoV-2.
Existe tratamento para a covid-19?
Não existe tratamento, apenas medicação dirigida para sintomas, sinais e infeções secundárias desencadeadas pela própria doença. Equipas de cientistas e laboratórios farmacêuticos estão a testar vários medicamentos para a covid-19.
Enquanto não surge um fármaco direcionado para a doença, usam-se experimentalmente medicamentos que foram concebidos para combater outras patologias. O uso hospitalar de medicamentos para a malária, provocada por um parasita, e para a doença do vírus Ébola foi autorizado para tratar os doentes com covid-19 mais graves, mas a sua eficácia e segurança têm sido questionadas em diversos estudos.
Recentemente, a revista médica britânica The Lancet divulgou um estudo que concluiu que os antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina, que se revelaram promissores para o novo coronavírus em testes laboratoriais, podem aumentar o risco de morte de doentes com covid-19.
Na sequência do estudo, França, Itália e Bélgica interromperam o uso de hidroxicloroquina em doentes com covid-19 por razões de segurança. Portugal aconselhou a suspensão do tratamento de doentes com covid-19 com este medicamento, que está aprovado também para doenças autoimunes, como a artrite reumatoide. Por sua vez, a OMS suspendeu os ensaios clínicos em curso até nova avaliação em junho.
Estudos contraditórios referem, por um lado, que o antiviral Remdesivir, desenvolvido originalmente para combater infeções causadas pelo vírus Ébola e pelo coronavírus da MERS, tem ajudado na recuperação de alguns doentes com covid-19 hospitalizados e, por outro, que a sua eficácia não está suficientemente comprovada.
O tratamento, igualmente experimental, com soro sanguíneo de doentes recuperados tem sido aplicado a outros pacientes, em situações muito específicas e graves, e não é isento de riscos, como a intolerância. Antibióticos são administrados para combater infeções oportunistas causadas por bactérias.
E vacina, há?
Não existe vacina para a covid-19, nem para outras doenças humanas provocadas por coronavírus. Das 125 vacinas candidatas para a covid-19, à data de 27 de maio, 10 estavam a ser testadas em pessoas, ainda em fases iniciais, segundo a OMS. Não se sabe, por isso, quão seguras e eficazes são para prevenir a doença e qual o grau de proteção que conferem, se duradouro ou não.
A primeira vacina candidata começou a ser testada em humanos, com uma rapidez considerada sem precedentes, em 16 de março, nos Estados Unidos. Outras se seguiram, e com a promessa de estarem prontas em prazos cada vez mais curtos: ano e meio, início do próximo ano e segundo semestre deste ano.
O desenvolvimento de uma vacina — que induz a produção de anticorpos específicos contra um agente infeccioso, neste caso o SARS-CoV-2 — demora tempo porque tem de passar por sucessivos testes de segurança e eficácia. Depois de descoberta, uma vacina terá ainda de ser produzida, distribuída e administrada em larga escala, como é o caso para a covid-19, o que dilata mais os prazos.
Em média, uma vacina demora 10 anos a ser produzida. Na pior das hipóteses, pode-se não conseguir uma vacina segura e eficaz para a covid-19. Ou então, a conseguir-se, poderá não ser dada a toda a gente, priorizando-se as pessoas em maior risco.
Não havendo vacina, como se evita a infeção?
A melhor forma de uma pessoa evitar ser infetada ou infetar outras pessoas é manter a distância física, entre um e dois metros, lavar frequentemente as mãos com água e sabão ou solução alcoolizada, desinfetar objetos e superfícies, tossir e espirrar para o antebraço ou um lenço descartável e usar máscara em espaços públicos fechados, embora a sua utilização, de forma generalizada, não seja consensual.
Vai haver uma segunda vaga pandémica de covid-19?
É uma incógnita, apesar de a Organização Mundial da Saúde considerar cada vez mais improvável essa possibilidade a partir dos modelos de previsão com que trabalha.