Os primeiros doentes com covid-19 foram anunciados em Portugal há três meses, depois de mais de meia centena de casos suspeitos terem dado negativo e numa altura em que o mundo unia esforços para combater um vírus desconhecido.

O primeiro caso foi comunicado pela ministra da Saúde, Marta Temido, em 2 de março, cerca de três meses depois de terem sido anunciados os primeiros casos na China, onde começou o surto num mercado em Wuhan que rapidamente se propagou pelo mundo, paralisou a economia dos países e levou a “uma guerra” para obter máscaras cirúrgicas e outros equipamentos essenciais para conter a sua disseminação.

Três meses passados, Portugal regista 1.396 mortos e 32.203 casos de infeção resultantes da covid-19, declarada no dia 11 de março pela Organização Mundial da Saúde como pandemia pelos “níveis alarmantes de propagação e inação”.

Os números colocam Portugal no 14.º lugar a nível mundial no número de óbitos por um milhão de habitantes, à frente de países como o Brasil ou a Alemanha, e no 19.º no número de casos, com 3.043 casos por milhão de habitantes, mais do que, por exemplo, a França, segundo dados da plataforma EyeData Covid-19, um projeto da agência Lusa e da Social Data Lab, referentes a 27 de maio.

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Dez dias após o anúncio dos primeiros casos foi noticiado o primeiro doente recuperado no Hospital de São João, no Porto. Atualmente, 19.186 foram dados como curados em Portugal e cerca de 2,2 milhões no mundo.

A luta contra esta doença pôs o mundo em suspenso e obrigou os países a tomarem medidas de emergência. Os portugueses foram obrigados a ficar em casa, as escolas e universidades encerraram, muitas empresas colocarem os funcionários em teletrabalho, outras recorreram ao lay-off, o turismo parou e a maioria dos voos foi anulada.

As visitas a instituições de saúde, lares e prisões foram cortadas e os hospitais tiveram de se reorganizar para acolher os doentes com covid-19. Cancelaram consultas e cirurgias não urgentes e recorreram à teleconsulta para continuar a acompanhar os doentes.

Cerca de 540 mil consultas hospitalares e 51 mil cirurgias ficaram por realizar entre 16 de março e o final de abril, face ao mesmo período de 2019, bem como 840 mil consultas nos centros de saúde e cerca de 400 mil episódios de urgência, um trabalho que os hospitais já começaram a recuperar, mas com uma dificuldade acrescida: o medo dos doentes em regressar.

Também o número de vacinas administradas em Portugal caiu quase para metade em abril, comparativamente ao mesmo mês do 2019, o que levou a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a fazer vários apelos para a vacinação.

Apesar de algumas vozes críticas às medidas de confinamento impostas pelo Governo em 19 de março, especialistas da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) consideram que foram essenciais para o SNS adquirir equipamentos de proteção individual, aumentar a capacidade de testar e lidar com o aumento da procura hospitalar e de cuidados intensivos causada pela pandemia.

Para os especialistas, “Portugal atuou cedo” ao decretar o confinamento quando ainda só tinha registado 62 casos e nenhum óbito e os portugueses aderiram às medidas, reduzindo a sua mobilidade em cerca de 80%.

As medidas de confinamento contribuíram para que, na primeira quinzena de abril, Portugal tivesse registado menos 5.568 casos (-25%), menos 146 mortes (-25%) e menos 519 (-69%) internamentos em cuidados intensivos do que seria de esperar se não tivessem sido decretadas, salienta.

Durante este período acentuaram-se as desigualdades sociais. Em Portugal, tal como noutros países, aumenta o desemprego e o número de pessoas com fome. As instituições sociais registam um grande aumento da procura.

Na política, a crise causada pela covid-19, que já matou cerca de 365 mil pessoas e infetou cerca de seis milhões em 196 países e territórios, abriu um período de tréguas. “Esta é uma luta pela nossa própria sobrevivência”, disse em março o primeiro-ministro, António Costa, sublinhando que “não há o partido do vírus e o partido do antivírus”.

A situação mais preocupante neste momento é na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde tem crescido o número de infetados, uma situação já comentada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: A “fotografia” da situação do país “é favorável”, “não há uma situação de descontrolo” nesta região, mas sim de “atenção e preocupação”.