Há o Saturn V, que levou as missões Apollo até à Lua. Há o Soyuz, o confiável foguetão que neste momento leva astronautas americanos, russos e europeus até ao espaço. E, agora, também o Falcon 9 entra na lista dos mais importantes foguetões da História, ao ser o primeiro veículo espacial privado a transportar uma missão tripulada.

Com 83 lançamentos, 44 aterragens e 31 reutilizações, o Falcon 9 promete ser o futuro dos lançamentos comerciais para o espaço. Já levou carga até à Estação Espacial, agora encaminhou a missão tripulada da SpaceX para a Estação Espacial e, no futuro, pode ser o foguetão de eleição para levar turistas ao espaço. Isto é o que precisa de saber sobre ele.

“Liftoff!”. Missão histórica da SpaceX já descolou a caminho da Estação Espacial. Siga aqui

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O Falcon 9 é o único foguetão reutilizável da História da exploração espacial. Depois do lançamento de um módulo para o espaço, as duas partes do Falcon 9 separam-se, mas o primeiro estágio regressa ao solo e aterra de nariz para cima numa plataforma móvel instalada no oceano. É uma segunda parte do espetáculo logo a seguir à descolagem: ver o primeiro estágio a aterrar é como assistir ao vídeo de um lançamento de trás para a frente.

Este foguetão da SpaceX foi batizada em homenagem ao Millennium Falcon, a nave espacial fictícia dos filmes “A Guerra das Estrelas” pilotada por Han Solo e por Chewbacca. O resto do nome é uma referência aos motores que incorporam o foguetão — nove motores Merlin no primeiro estágio, precisamente aquele que é reutilizável. O segundo estágio também tem motores Merlin, mas apenas um.

 Um lançamento do Falcon 9 pela SpaceX custa uma média de 62 milhões de dólares caso todas as componentes do foguetão sejam novas; e cerca de 50 milhões de dólares quando o primeiro estágio do foguetão seja reutilizado. O desenvolvimento do Falcon 9 foi apoiada não só por investimento de Elon Musk, mas também pela própria NASA. O motivo é simples: sem estas parcerias público-privadas, os Estados Unidos dependem da Rússia para voar para a Estação Espacial Internacional. E cada lugar custa 90 milhões de dólares.

O primeiro estágio do Falcon 9 pode ser recuperado através de duas plataformas da SpaceX desenvolvidas especialmente para esse efeito. Um deles chama-se “Of Course I Still Love You”, é utilizado em lançamento feitos através do Cabo Canaveral, na costa do Oceano Atlântico. Outro chama-se “Just Read the Instructions” e é montado no Pacífico para lançamentos. Ambos foram batizados em homenagem às obras de ficção científica de Iain M. Banks.

O Falcon 9 já pode ser considerado um foguetão ultrapassado para a SpaceX. O Falcon Heavy, o foguetão mais poderoso do mundo — em toda a História, só o Saturn V continua a ser mais poderoso do que ele —, utiliza dois Falcon 9 para ladear este veículo espacial, também ele parcialmente reutilizável e testado em fevereiro de 2018. O Falcon 9 é capaz de levar humanos até ao espaço, mas o Falcon Heavy poderá levá-los à Lua.

Um dia, qualquer um de nós poderá entrar num Falcon 9 para viajar até ao espaço — desde que tenha um milhão de euros postos de parte. Pelo menos é esse o plano delineado por Elon Musk para a SpaceX: usar este foguetão como autocarro espacial para levar turistas para fora da Terra, quiçá até mesmo para a Estação Espacial Internacional, caso esta venha a ser transformada numa espécie de resort de férias.

Todos, mas mesmo todos os componentes do Falcon 9, desde a fuselagem do foguetão até aos mais pequenas parafusos e incluindo o design, foram feitos nos Estados Unidos. Essa é parte da importância da missão iniciada este sábado: é a primeira missão tripulada desde 2011, há nove anos, feita completamente por tecnologia americana e a partir para o espaço a partir dos Estados Unidos.

Um minuto e 10 segundos após a descolagem, o Falcon 9 atinge a velocidade supersónica, ou seja, mais de 1.234,8 quilómetros por hora. Ao chegar a essa velocidade, o veículo passa pela área de pressão aerodinâmica máxima – os especialistas chamam a esse momento Q Max, em que o foguetão chega ao ponto de maior stress mecânico. É também a fase mais crítica da segurança do Falcon 9.

Desde 2006, cinco anos antes da reforma do programa Space Shuttle, que a NASA investiu na SpaceX para o desenvolvimento deste foguetão. Foi a primeira vez que a agência espacial norte-americana abriu as portas da exploração espacial com assinatura nacional às empresas privadas. Até agora, mais nenhuma agência espacial demonstrou este interesse.