Há oito dias que a região de Lisboa e Vale do Tejo (que abrange 52 concelhos) representa mais de 85% dos novos casos de infeção por covid-19 no país. Numa altura em que as atenções do Governo se voltam para este ponto geográfico, Marta Temido admite que foi tomada a opção de permitir que a retoma da atividade assistencial do SNS na região possa ser mais lenta devido ao aumento de procura. A  LVT conta com 99 especialistas de saúde pública e um conjunto de outros recursos, incluindo técnicos variados.

Outras iniciativas em cima da mesa, apresentadas na habitual conferência de imprensa, passam pela alocação de agentes da saúde pública de outros pontos da região, além de poderem contar com a disponibilidade de profissionais de saúde de outras zonas do país. Há ainda a possibilidade de se recorrer às próprias escolas que trabalham na área da saúde pública em Lisboa e Vale do Tejo, as quais “têm técnicos qualificados”. “Há contactos nesse sentido”, garantiu este domingo a ministra da Saúde.

Marta Temido referiu várias vezes que está a ser feito um trabalho muito focado na região de Lisboa e Vale do Tejo relativamente aos focos de doença. Desde meados de maio que a região mantém uma incidência de mais de cerca 180 novos casos por dia.“Estamos agora focados em termos de atuação nos agrupamentos dos centros de saúde de Loures, Odivelas, Amadora, Lisboa e Sintra associados a surtos específicos”.

O plano de intervenção do Governo em Lisboa e Vale do Tejo inclui seis etapas:

  1. investimento no rastreio da infeção em atividades onde que se têm verificado surtos de covid-19, sobretudo nas áreas associadas à construção civil e cadeias de abastecimento;
  2. testagem de todas as pessoas que tenham contacto com casos associados aos focos de doença;
  3. confinamento obrigatório destas pessoas e garantia do mesmo, “fazendo intervir sempre que necessário o apoio das forças de segurança”, mas também das comunidades e atores locais através de contactos telefónicos e de visitas regulares;
  4. identificação de locais domiciliários alternativos caso necessário;
  5. acompanhamento clínico das autoridades de saúde pública;
  6. “inviabilidade de nestas áreas termos uma retoma da atividade assistencial ao nível do SNS da mesma dimensão daquela que poderemos já ter noutros sítios em que a situação epidemiológica local o permita”.

A ministra da Saúde disse estar convicta de que, nos próximos dias, se proceda à redução do número de contágios nesta região. Compete ao Instituto Nacional de Emergência Médica fazer a colheita de amostras, sendo que uma das sete equipas dedicadas a esta atuação consegue colher por dia “entre 200 a 300 amostras de material biológico”. O foco principal remete para as equipas de colheita, complementadas por outras estruturas específicas.

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Lisboa e Vale do Tejo tem uma capacidade instalada para realizar “cerca de 4 mil análises por dia em ambiente público e cerca de 3 mil em ambiente privado e noutros parceiros com quem temos trabalhado”. Os testes vão focar-se nos próximos dias nas atividades de construção civil.

Sobre as condições de habitabilidade, a ministra assegurou que existem várias estruturas que podem ser utilizadas por quem precisa, referindo-se a pousadas da juventude, centros do INATEL e até estruturas de campanha, que estão disponível para acolher estas pessoas. A Cruz Vermelha tem cerca de uma centena de camas para este efeito. Marta Temido confirmou que já existem pessoas nessa situação, mas não apresentou números.

Governo rejeita “disparidade de tratamento” entre Azambuja e Bairro da Jamaica

A ministra da Saúde também recusou a ideia de uma “disparidade de tratamento” entre o Bairro da Jamaica (Seixal) e o surto da covid-19 na Sonae da Azambuja, considerando que são fenómenos diferentes.

“Não existe nenhuma disparidade de tratamento. O trabalho de saúde pública conta com a proporcionalidade e adequação de respostas àquilo que são as necessidades. Temos aqui fenómenos de natureza diferente”, afirmou Marta Temido.

A ministra respondia a uma questão sobre se não haveria disparidade de tratamento nas duas situações, face ao enorme dispositivo policial que foi acionado no sábado para o chamado Bairro da Jamaica. Para Marta Temido, no caso do Bairro da Jamaica a situação prendia-se “com utilização inadequada de espaços de consumo, como restaurantes, cafés ou bares, onde o não acatamento das indicações de utilização” levaram “a determinar o encerramento e depois as autoridades aplicam-no”.

As autoridades de saúde encerraram no sábado oito estabelecimentos comerciais, entre cafés e bares, em Vale de Chícharos, conhecido como Bairro da Jamaica, no Seixal, devido à pandemia da covid-19, numa ação que contou com um forte dispositivo policial. Já no caso da Sonae da Azambuja, “as circunstâncias são de tipo empresarial, onde a abordagem também é no sentido do cumprimento das regras, mas em contexto laboral”, salientou a ministra da Saúde.

“São dois tipos de intervenção distintos”, acrescentou.

Graça Freitas: “Não existe reincidência face às pessoas que estão curadas, nem aqui nem noutros países”

Questionada sobre se já houve pessoas consideradas curadas com casos de reincidência, Graça Freitas garantiu que “não existe reincidência face às pessoas que estão curadas, nem aqui nem noutros países”. “O que tem acontecido nalguns países é que quando as pessoas repetem testes, às vezes, os testes dão positivo porque ainda existem pequenas partículas”. A diretora-geral da Saúde disse não ter conhecimento de casos portugueses deste género.