A diretora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África alertou hoje que a Guiné Equatorial é dos países mais afetados pela propagação da pandemia face ao número de habitantes e confirmou a substituição da representante no país.

“Segundo os números que temos, a Guiné Equatorial é dos países mais afetados pela propagação da pandemia da covid-19 tendo em conta a relativamente pequena população; as nossas estimativas apontam para mais de mil casos”, disse Matshidiso Moeti, durante uma conferência organizada pelo Fórum Económico Mundial. O país faz parte da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) desde 2014.

Em resposta a questões colocadas pela Lusa relativamente à evolução da pandemia na Guiné Equatorial, Moeti salientou o “trabalho que está a ser feito na implementação das medidas de saúde pública defendidas pela OMS”, afirmando que a organização está a trabalhar “muito de perto com o Governo para estabelecer medidas de isolamento, gestão e pesquisa de casos”.v”É relativamente cedo na evolução da situação, mas por habitante temos um grande número de casos”, alertou a responsável.

Sobre a iniciativa do Governo da Guiné Equatorial, que exigiu a substituição da representante da OMS no país, Moeti confirmou o pedido e admitiu que haverá uma substituição, mas não adiantou mais detalhes.

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“Confirmo que o Governo pediu para mudarmos a representante e estamos a trabalhar para fazer isso; estamos empenhados em trabalhar com o Governo para apoiar as pessoas, de forma a que sejam protegidas da pandemia e para garantir que a saúde da população é melhorada com o apoio da OMS”, respondeu.

Durante a conferência, Matshidiso Moeti defendeu as vantagens do isolamento social apesar das dificuldades económicas, e admitiu que pode haver um aumento de casos com o início do desconfinamento, mas garantiu que este é o melhor curso de ação.

“Não tenho conhecimento científico de que as medidas de isolamento social não sejam eficazes, porque permitem ganhar tempo para os países aumentarem a capacidade dos seus sistemas de saúde; o abrandamento da taxa de infeção no início da pandemia, devido às medidas de isolamento social, deu aos governos a oportunidade de aumentarem as capacidades públicos e agora que o isolamento está a ser levantado, a capacidade de tratamento de algum aumento de casos que pode haver já lá está”, disse Moeti.

Em carta datada de 26 de maio, a que a agência Lusa teve acesso, o ministério das Relações Exteriores e Cooperação da Guiné Equatorial transmite ao escritório regional para África da OMS, com sede em Brazzaville, “a urgente necessidade de pôr termo às funções” de Triphonie Nkurunziza como representante residente da organização no país.

O ministério pede ainda à organização para “proceder à sua retirada imediata de Malabo” e recomenda que seja nomeada outra pessoa para o lugar.

Na carta, Malabo não indica qualquer razão para o pedido, mas, na sexta-feira, perante o senado, o primeiro-ministro da Guiné Equatorial, Pascual Obama Asué, acusou a representante da OMS de “ter falsificado os dados de pessoas contaminadas” com o novo coronavírus.

“Não temos um problema com a OMS, temos um problema com a representante da OMS em Malabo”, acrescentou durante a sessão transmitida pela televisão pública. A agência Lusa contactou a representante da OMS em Malabo, bem como o escritório da OMS África, mas até ao momento não obteve resposta ao pedido de esclarecimento.

Um responsável do sistema das Nações Unidas em Malabo, citado pela agência France-Presse sob anonimato, confirmou, entretanto, que o Governo pediu formalmente a saída de Triphonie Nkurunziza, mas escusou-se a comentar a acusação de que esta é alvo.

Segundo a mesma fonte, a responsável ainda não deixou Malabo por não existirem voos que lhe permitam sair do país. Na Guiné Equatorial, a saída de Triphonie Nkurunziza está a ser diretamente ligada à considerada “gestão caótica e desastrosa” da resposta governamental à pandemia de covid-19.

“A OMS era uma testemunha incómoda da falsificação dos dados dos contágios e das mortes por covid-19”, disse à agência Lusa o médico equato-guineense Wenceslao Mansogo, adiantando que os números apresentam “incongruências desde o início”.

Em causa estará, segundo fontes locais, o facto de a responsável da OMS continuar a atualizar os dados relativos à pandemia na Guiné Equatorial depois de o Governo ter alegadamente optado por deixar de tornar esses dados públicos diariamente.

O número de mortos em África devido à covid-19 subiu hoje para 4.601, mais 108, em mais de 162 mil casos, nos 54 países, segundo os dados da pandemia no continente.

Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné-Bissau lidera em número de infeções (1.339 casos e oito mortos), seguida da Guiné Equatorial (1.306 casos e 12 mortos), São Tomé e Príncipe (484 casos e 12 mortos), Cabo Verde (502 casos e cinco mortes), Moçambique (316 casos e dois mortos) e Angola (86 infetados e quatro mortos).