Após uma visita a fábricas de calçado, em Felgueiras, o líder do CDS defendeu esta sexta-feira que era necessário “patriotismo económico” para ajudar as empresas a sair da crise. Entre os críticos de Francisco Rodrigues dos Santos, incluindo antigos dirigentes do CDS, começaram a circular mensagens entre si dando conta que o atual presidente centrista estaria a seguir a mesma linha de Marine Le Pen nas presidenciais de 2017, quando a líder da extrema-direita francesa defendeu um “patriotismo económico”, pedindo o repatriamento das fábricas de montagem das construtoras francesas.  Nessas mensagens, sabe o Observador, alguns democratas-cristãos dizem-se “chocados” com as semelhanças e acreditam que se está perante uma “linha deliberada”. Contactado pelo Observador, Francisco Rodrigues dos Santos nega e diz que a sua inspiração nas declarações que fez esta sexta-feira foi “no ministro da economia de Macron, que utilizou essa expressão há dois meses” e “no programa eleitoral de Paulo Portas em 2011”.

Mas, afinal, o que disse, em rigor, o presidente do CDS? A frase, citada pela agência Lusa, foi a seguinte: “O CDS está hoje nesta empresa que representa a indústria do calçado para afirmar, categoricamente, que este é o tempo de haver patriotismo económico, que significa uma aposta radical nos setores produtivos“.

Relativamente ao “patriotismo económico”, Francisco Rodrigues dos Santos diz que não o defende nos mesmos termos de Le Pen, que não anda a ver “quem usou expressões parecidas” e que “uma breve pesquisa permite concluir que quem usou essa expressão foi o Governo de Macron, através do seu Ministro da Economia, Bruno Le Maire.”

Sobre o que significa o seu patriotismo económico, o líder do CDS diz que passa por uma “aposta radical nos nossos sectores produtivos e na valorização da nossa indústria e marcas portuguesas, bem como na criação de um clima fiscal que atraia investimento para Portugal e que diminua impostos sobre quem gera emprego e cria atividade económica no nosso país.”

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Francisco Rodrigues dos Santos disse ainda que o “apelo ao patriotismo económico é dirigido também à grande distribuição para que compre a produtores portugueses, sejam industriais, agricultores, ou nas pescas.” Isto foi o que Bruno Le Maire referiu, num apelo à grande distribuição. Nas frases citadas pela agência Lusa não há referências a qualquer apelo à grande distribuição.

O líder do CDS disse, de facto, nessas declarações que o patriotismo significa uma “aposta radical nos setores produtivos”. E aí também nega ligações a Trump ou Le Pen e diz que se “inspirou no programa económico de Paulo Portas em 2011.”

O programa de Paulo Portas em 2011, não faz, no entanto, qualquer referência ao conceito de protecionismo económico, mas refere a frase utilizada pelo atual líder centrista sobre a “aposta radical”. “Para aumentar as exportações e diminuir as importações é fundamental que Portugal faça uma aposta radical nos sectores produtivos. Para além das indústrias e serviços exportadores, é crucial que as políticas públicas se concentrem em áreas em que temos vantagens naturais diferenciadoras e em que, portanto, temos grande potencial competitivo”, diz o programa eleitoral de Paulo Portas em 2011.

O excerto do programa eleitoral do CDS de Paulo Portas em 2011, onde consta a frase tirada a papel químico por Francisco Rodrigues dos Santos

O patriotismo económico, ou nacionalismo económico, como conceito de economia está normalmente associado a uma intervenção do Estado para favorecer os setores produtivos desse país. Regra geral, os defensores do patriotismo económico olham com desconfiança para a globalização e têm tendência a serem protecionistas (uma vez que defendem a opção pelos produtos nacionais em detrimento dos outros). A par disso, os defensores do patriotismo económico também são defensores de apoios estatais ao setor da indústria, que acreditam ser importante para fortalecer a economia do país. O conceito tem sido ampalamente discutiso e tem várias interpretações, como mostra este artigo da The Economist, este artigo do Financial Times ou como tenta explicar este artigo do Washington Post.

Olhando aos vários conceitos, só se enquadram em parte daquilo que defendeu Francisco Rodrigues dos Santos esta sexta-feira (na parte de defender apoios estatais para a indústria portuguesa).

CDS defende “patriotismo económico” e “aposta radical” para salvar emprego

Paralelamente, olhando para a discussão académica sobre a matéria, também não é possível afirmar que o conceito de patriotismo económico é limitado àquilo que foi defendido por Marine Le Pen e Donald Trump (que defendeu que as fábricas da Ford no México deveriam ser repatriadas para solo nacional).