Para Jorge Nuno Pinto da Costa, um jogo de futebol sem público “é quase” como “a sensação de ir a um bom restaurante e depois servirem-nos a comida sem sal”. O ainda presidente do FC Porto, e candidato à reeleição, deu uma entrevista a uma comunidade online de adeptos portistas, o “Portal dos Dragões”, e questionado logo na primeira pergunta sobre o jogo recente dos azuis em Famalicão lamentou a ausência de adeptos:

A falta de público realmente é uma anormalidade e direi mesmo que é um exagero. Quando vimos um ou dois dias antes o Campo Pequeno com noites seguidas com mais de 2 mil pessoas numa lotação de 4 mil — 50% —, ter depois um estádio sem gente e uma bancada em que não pode estar nem meia dúzia de pessoas acho que é uma tristeza e quase roça a insensatez”, referiu.

Na entrevista de esta quinta-feira, gravada em vídeo e partilhada nos canais oficiais do “Portal dos Dragões”, Pinto da Costa fez um balanço do atual mandato mas antes deixou uma alfinetada ao maior rival, o Benfica, que tinha acabado de empatar com o Tondela não aproveitando a derrota do FCP para se isolar na classificação do campeonato: “Um dirigente do Benfica dizia que o Benfica era o único clube que só dependia dele para ser campeão. E é verdade, falou verdade até há dez minutos… mas hoje posso dizer aqui e podemos dizer todos que o FCP é o único clube que só depende de si para ser campeão”, apontou, logo acrescentando: “Espero que só possam estar líderes como estiveram este fim de semana, durante 24 horas”.

A entrevista serviu também como revisão do passado recente e Pinto da Costa considera o atual mandato positivo. “Numa altura de investimentos do clube em que a banca portuguesa nos fechou completamente as portas e a torneira, resistir e conseguir manter o clube ao nível que está desportivamente, chegar a esta altura mesmo depois da pandemia e ser líder do campeonato e estar apurado para final da Taça de Portugal, acho que é positivo”.

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O presidente dos dragões lembrou que o FC Porto foi campeão há dois anos e recusa que a equipa não tenha renovado o título na última época por culpa própria: “Só não estamos neste momento a disputar o tri porque toda a gente sabe o que aconteceu no Feirense-Porto, no Feirense-Benfica e no Rio Ave – Benfica do campeonato anterior, que ditaram a vitória do Benfica no campeonato. Portanto tenho de considerar [o mandato] positivo”.

Presidenciais FC Porto 2020: Entrevista a Jorge Nuno Pinto da Costa

FC Porto – Presidenciais 2020Entrevista a Jorge Nuno Pinto da CostaEmissão em simultâneo Portal dos Dragões / Rádio Portuense

Posted by Portal dos Dragões on Thursday, June 4, 2020

Na entrevista, Pinto da Costa assumiu ainda que a pandemia tirou ao FC Porto, como a outros clubes, “receitas tremendas” mas desdramatizou a possibilidade dos dragões continuarem em incumprimento com as regras do fair-play financeiro: “Tem sido sempre apresentado como um papão. O FCP resolveu sempre com a UEFA e continua a resolver os problemas para a tempo e horas sair no tempo devido. Se não sairmos este ano está tudo encaminhado para sairmos para o ano”.

Entre outras alfinetadas a alguns “inimigos” — como “o jornal A Bola e o Correio da Manhã”, mas também “toupeiras” e a “juízes que são suspensos e retirados de processos por fanatismo e falta de independência” (uma possível referência ao julgamento de Rui Pinto) —, o presidente dos dragões desvalorizou ainda a falência técnica do clube, que considera apenas contabilística e “um problema facilmente resolvido”. Isto porque “o plantel está [contabilisticamente] avaliado em 93 milhões de euros e toda a gente sabe que vale muito mais, [só] dois ou três jogadores fazem essa verba”.

A renovação de Tomás Esteves e o leque de cinco com um ano de contrato

Outro tema discutido foi a renovação de jogadores da equipa de futebol dos dragões que terminam contrato em breve. Sobre Tomás Esteves, jovem lateral-direito que já é internacional sub-21 e é considerado uma das grandes promessas da formação do FC Porto — como o era Diogo Dalot, também defesa-direito mas já transferido para o Manchester United —, deu uma novidade: “Julgo que já há acordo para renovar”. E sobre outros atletas que terminam contrato dentro de um ano, nomeadamente Alex Telles, Soares, Sérgio Oliveira, Otávio e Marega, apontou: “Vamos tentar renovar. Já estamos em conversações com alguns, nalguns casos até já bem encaminhadas, mas não é no momento crucial em que estamos no campeonato que vamos tirar concentração de jogadores. Quando terminar a época e antes de começar a próxima, esses jogadores têm de ter a sua posição definida”.

Casa Pia AC v FC Porto - Allianz Cup

Tomás Esteves é uma das grandes promessas da formação do F. C. Porto (@ Gualter Fatia/Getty Images)

Já quanto às críticas à saída de jogadores a custo zero, referiu-se especificamente ao caso de Hector Herrera, dizendo que a SAD começou a tentar renovar com o médio mexicano “dois anos antes” do término do contrato mas surgiram dificuldades: “Quando contactámos Herrera e um empresário com quem tive várias reuniões, não saíam de um vencimento para renovar de 3 milhões de euros net [limpos], o que equivalia a 6 milhões e 200 mil euros brutos que o FC Porto tinha de pagar. Era impossível, inviável, o FC Porto não tem possibilidades de pagar esse salário. Quisemos negociar. Para fazer qualquer negócio é preciso um clube ter um jogador, o jogador querer e haver um comprador. No último ano, não apareceu nenhum comprador. Apareceu um ou outro que dava uma ridicularia. Entre não ter participação do jogador ou ter [e sair a zero], resolvemos mantê-lo. O que íamos receber e nada era a mesma coisa”. E disse mais: “Não posso ir de pistola dizer: ou assinas por isto ou dou-te um tiro. Não sei dar tiros, nunca dei tiro nenhum, não posso usar esse argumento”.