Em 2018, as startups associadas ao ecossistema de inovação do Porto atingiram um volume de negócios superior a 126 milhões de euros, com uma taxa de crescimento anual próxima dos 28% entre 2015 e 2018. No entanto, nem tudo é positivo: com o contexto da pandemia de Covid-19, mais de 30% das startups da região diz ter apenas até três meses de capital disponível. Os dados fazem parte do estudo “Re:think | Re:build | Re:load. Caracterização do Ecossistema de Empreendedorismo da Região do Porto”, apresentado esta sexta-feira pelo ScaleUp Porto, com o objetivo de monitorizar e caracterizar o ecossistema na cidade.

Os dados deste estudo — realizado com 168 startups das mais de 350 que constituem o ecossistema portuense — englobam fatores desde as vendas e internacionalização ao impacto que a pandemia da Covid-19 teve no negócio destas empresas. O cluster de Tecnologias de Informação e Comunicação, refere o documento, contribui para 62% do valor total do volume de negócios e o valor total de EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) destas empresas teve um crescimento anual de 26,6% também entre 2015 e 2018.

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No que diz respeito ao emprego e salário, o estudo do ScaleUp Porto concluiu que a taxa de criação de emprego no ecossistema de startups do Porto “tem-se mantido acima da média nacional” e apresentou, entre 2015 e 2018, um aumento de 35% do número de colaboradores, correspondendo à criação de 7.018 empregos — tendo mais de metade desse valor (3.693) ocorrido entre 2017 e 2018.

Também no campo salarial, refere o estudo, “verificou-se um aumento da competitividade”, com uma evolução do número de empresas “que paga remunerações médicas mais elevadas, especialmente nos intervalos entre os 20 e os 30 mil euros anuais”.

Já quanto ao investimento público, os dados revelam que a fase inicial (early stage) é a que atrai um maior número de investimentos, sendo que entre 2015 e 2019 o investimento público foi de cerca de 5,6 milhões de euros e uma média de 27% do valor total alcançado pelas empresas da região do Grande Porto.

“A Tecnologia e Telecomunicações destaca-se como o vetor principal de investimento, mas o setor da Saúde tem vindo a ganhar relevância no volume, com uma tendência de crescimento acentuada desde 2017”, refere o estudo.

Numa caracterização do perfil dos fundadores, o documento do ScaleUp Porto concluiu que a idade média dos empreendedores é de 31 anos, 93% possui licenciatura, mestrado ou doutoramento e 76% já tinha algum tipo de experiência na área de atuação da empresa no momento em que a fundou.

“Em linha com a tendência europeia, os fundadores são na sua maioria do sexo masculino (98% na área CleanTech & Indústria 4.0; 87% na área de Consumidor & Web e na área de Tecnologias de Informação e Comunicação; 82% na área de Dispositivos Médicos & Tecnologia da Informação aplicada à Saúde)”, acrescenta o documento. Apenas 18% dos fundadores são mulheres.

31% das startups apenas tem capital para os próximos três meses

Apesar do crescimento apresentado, as startups do Porto também têm alguns desafios a superar. De acordo com este relatório, a “falta de cultura empreendedora e a aversão ao risco” são os principais entraves à criação de startups. Já dentro do crescimento dos negócios, o acesso aos clientes é a maior barreira, seguindo-se o acesso ao talento (difícil retenção face à concorrência salarial de empresas de grande dimensão) e mão de obra qualificada.

“A necessidade de programas de apoio às startups ou o facto de os programas existentes necessitarem de reduzir a sua abrangência, são também identificados como oportunidades de melhoria”, refere ainda o documento.

Os problemas também aumentaram com o contexto da pandemia de Covid-19. No caso do ecossistema portuense, o ScaleUp Porto avaliou o impacto desta pandemia nas empresas através de um questionário a 41 diretores e fundadores de startups da região, entre 27 de abril e 6 de maio. Resultado principal: 31,7% das startups disseram ter apenas até 3 meses de capital disponível. Ou seja, 3 em cada 10 destas empresas corre o risco de encerrar caso o contexto não se altere.

Há ainda a informação de que 61% das startups diz ter tido impacto negativo nas suas vendas e 14,6%, pelo contrário, fala num impacto positivo. No que toca à redução de vendas, uma em cada quatro startups diz ter reduzido até 20% as vendas, um terço sofreu quebras superiores a 50% e 16,7% fala num impacto de mais de 80%. O estudo concluiu ainda que há mais de 70% de startups que foram obrigadas a reduzir custos, sobretudo na contratação de serviços externos. E 39% está preocupada com o potencial encerramento.

Ainda assim, e num aspeto mais positivo, 95% das empresas do ecossistema de empreendedorismo do Porto diz não ter feito despedimentos e 97,6% refere que não o tenciona fazer nos próximos três meses, havendo até quem pretenda contratar — 36,6%.