Custou a arrancar mas não se perdeu pela demora. Jadon Sancho não é propriamente um avançado de raiz como Robert Lewandowski nem tem a capacidade de surgir de trás em zonas de finalização como Timo Werner mas era o terceiro melhor marcador da Bundesliga antes da paragem devido à pandemia, fazendo-se valer da velocidade e dos movimentos a explorar a profundidade para ser uma constante ameaça às defesas contrárias. No regresso, começou como suplente, fez uma assistência saído do banco no jogo com o Wolfsburgo, voltou a começar de fora na derrota do B. Dortmund com o Bayern mas abriu o livro na primeira vez que chegou à titularidade, fazendo um hat-trick na goleada do atual segundo classificado da prova frente ao Paderborn (6-1).

Em condições normais, esse regresso aos golos deveria ser o principal destaque mas o inglês quis marcar também uma posição e tirou a camisola num dos festejos para mostrar uma mensagem que pedia justiça por George Floyd. Não foi castigado pela Liga, que percebeu a homenagem (embora tenha visto na altura o cartão amarelo), mas não fugiu agora à sanção após ter colocado uma imagem a cortar o cabelo. “Desrespeitou as medidas de saúde e higiene que estão impostas a todos os clubes”, justificou-se. “Isto é uma piada absoluta”, reagiu o jogador através das redes sociais, numa mensagem que pouco depois acabaria por ser apagada pelo próprio para evitar males maiores.

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A Bundesliga foi o primeiro grande Campeonato da Europa a regressar mas todas as regras e obrigatoriedades que foram impostas na altura começam agora a ser colocadas em causa por várias vozes entre clubes e jogadores, um pouco à semelhança do que se está a verificar em Portugal. Também nisso, Jadon Sancho foi o exemplo. E um dos muitos exemplos que tiveram mais uma atitude marcante esta tarde no Westfalenstadion antes do apito inicial do encontro, com todos os jogadores de B. Dortmund e Hertha Berlim, bem como todos os elementos presentes no banco de suplentes, a ajoelharem-se numa forma de apoio ao movimento “Black Lives Matter” contra o racismo.

Depois, começou a partida. Mais uma que acaba por ser inglória mas que ainda assim trazia coisas a ganhar, após a derrota caseira frente ao Bayern que deixou a equipa a sete pontos da liderança. “Dissemos tudo na semana depois desse encontro que perdemos e não mudamos: do nosso ponto de vista, o título está entregue. Não acreditamos que o Bayern possa escorregar porque são demasiado bons, temos de admitir isso. Estamos nesta altura no segundo lugar e queremos manter esse lugar até ao final”, admitiu Michael Zorc, diretor desportivo e uma das figuras mais marcantes na história do B. Dortmund que esteve na equipa vencedora da Champions em 1996. E já se fala na possibilidade de Lucien Favre ser substituído do comando técnico no final desta temporada.

À beira do oitavo título seguido, a sonhar com a Champions, com um motor chamado Davies: este Bayern voltou ainda mais forte

Olhando para o encontro em si, ou sobretudo para os 45 minutos inicias, percebe-se que o B. Dortmund continua a viver o seu Groundhog Day, o Dia da Marmota. Não necessariamente por não ter desfeito o nulo na primeira parte porque se mantém num meio termo desde a saída de Jürgen Klopp onde os treinadores vão passando (e já foram quatro desde 2015, com Thomas Tuchel, Peter Bosz, Peter Stogger e Lucien Favre) mas a equipa está num limbo onde tem valor para lutar pelo título mas acaba sempre à sombra do poderio do Bayern – daí para cá ganhou uma Taça e uma Supertaça. Mas em contrapartida tem jogadores para mais, como Hummels, Raphael Guerreiro, Piszczek, Schulz, Akanji, Emre Can, Marco Reus, Jordan Sancho, Brandt ou mais recentemente Haaland.

Este sábado, foi mais uma vez a inspiração individual que resgatou o coletivo de um dia de menor qualidade: já depois de uma oportunidade falhada por Jadon Sancho na pequena área onde tinha apenas de encostar mas falhou o alvo, foi dos pés do inglês de 20 anos (que tem números melhores do que Ronaldo e Messi com essa idade, como foi falado esta semana) que nasceu a jogada do primeiro e único golo, com Brandt a surgiu numa diagonal para assistir de cabeça Emre Can que rematou e desfez o nulo naquele que foi o primeiro golo pelo B. Dortmund jogando como visitado mas que foi celebrado sozinho e sem os aplausos dos adeptos (51′).

Até ao final, o Hertha Berlim ainda se tentou aproximar da baliza contrária mas não mais o resultado voltaria a mexer, apesar de mais uma grande oportunidade inventada com uma finta de sonho de Sancho antes de rematar contra a muralha defensiva após assistência de Guerreiro. Não foi a exibição mais conseguida do inglês mas bastou aparecer duas ou três vezes para fazer a diferença no encontro. E também não é por acaso que Zorc já tinha deixado o aviso de que não está disponível para negociar Sancho por menos de 100 milhões de euros.

De Götze nem sinal. Depois de ter sido muito criticado por ter saído do B. Dortmund para o Bayern em 2013 por 37 milhões de euros, o valor da cláusula de rescisão, o avançado foi resgatado pela equipa apenas três anos depois por 27 milhões de euros (já depois de ter sido o herói do Mundial de 2014) mas não voltou ao patamar mais elevado e na presente temporada leva apenas 611 minutos em 21 jogos entre Campeonato, Taça e Champions. Também por isso, o clube já anunciou que não irá renovar contrato com o jogador, sendo que, de acordo com a imprensa germânica, o comportamento do internacional nas redes sociais terá sido a última gota numa relação que se tinha vindo a quebrar. Ainda assim, este sábado houve uma boa razão para não jogar: segundo o anúncio do próprio B. Dortmund, Götze foi dispensado porque estará prestes a ser pai. Também por aí, foi dia diferente.