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O Manuel merecia que desatassem o nó do Laço (a crónica do Boavista-Moreirense)

Este artigo tem mais de 3 anos

Boavista falhou um penálti, acertou três vezes no poste e teve nove oportunidades mas Moreirense ganhou (1-0). Do Manuel do Laço à claque no topo de um prédio, adeptos (ausentes) mereciam mais.

Filipe Soares marcou o único golo do jogo, num lance onde o desvio no defesa Ricardo Costa "enganou" guarda-redes Helton Leite
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Filipe Soares marcou o único golo do jogo, num lance onde o desvio no defesa Ricardo Costa "enganou" guarda-redes Helton Leite

LUSA

Filipe Soares marcou o único golo do jogo, num lance onde o desvio no defesa Ricardo Costa "enganou" guarda-redes Helton Leite

LUSA

É sócio praticamente desde que nasceu por influência da mãe, aos quatro anos já tentava ajudar nas coisas mais terrenos possíveis do clube como a marcação do campo com cal ou a tratar os equipamentos, aos sete fazias bolas de algodão com as quais jogava como se estivesse a representar a sua equipa. Pouco depois da adolescência, fazia parte de uma Comissão que organizava autocarros para os jogos fora. Já na casa dos 30, foi por amor para os EUA, onde trabalhou numa fábrica de calçado e numa companhia de pintura, mas continua a ouvir os relatos dos jogos através de rádios (plural, porque partiu pelo menos três devido às interferências que lhe paravam a alegria da semana, como contou ao DN). Voltou em 2001, ano em que o futebol português teve um pequeno milagre e fez capas com uma formação que não os “grandes”. Viu depois a descida. Esteve em mais de mil jogos.

“Foi um milagre o Boavista não acabar. Lutei muito por este clube que vai fazer 110 anos. Antes de o Boavista descer nós corríamos o país todo. Todo. E sentia que o povo estava connosco. Sou católico, mas respeito todas as pessoas e todas as religiões. Ando aí pelas ruas e faço questão de ajudar as pessoas. Seja para subir para o autocarro ou o que for. Uma vez, o Pedroto disse-me: ‘Dá-me um abraço, tu és o homem da paz.’ Faço questão de ser assim. Sou preto e branco. Por dentro e por fora, dos pés à cabeça. Tenho 39 laços e 27 pares de sapatos. Mas respeito os outros independentemente de tudo isso, de todas as cores. Todo o desporto foi feito para ganhar, empatar e perder. Havíamos de entrar para os estádios a rir e sairmos abraçados. Quando isso acontecer não haverá relações cortadas entre clubes, não haverá presidentes a dizer mal uns dos outros e haverá mais crianças no futebol. Ando a dizer isto há anos. É claro que me custa ver o meu clube perder. Mas aceito. Só quando é injusto é que é mais complicado”, escrevia em 2015, num texto publicado na página do Facebook “Porto Olhos nos Olhos”.

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Manuel de Sousa, mais conhecido como o Manuel do Laço, é o adepto mais conhecido do Boavista e também um dos mais mediáticos do Campeonato. Tão depressa chorou de emoção quando viu o clube ser pela primeira vez campeão como iniciou uma greve de fome em frente à Liga quando houve a descida administrativa da equipa recordando as muitas pessoas que com aquela decisão perderiam o seu emprego. Voltou a rejuvenescer com o regresso ao principal escalão (e cortou o cabelo numa espécie de promessa que tinha feito seis anos antes), esta temporada falhou dois ou três jogos no Bessa por uma crise de ciática. Mas também esteve noutros momentos extra futebol, como a inauguração da Ponte da Arrábida, a condecoração com a Medalha de Mérito da Cidade do Porto ou aquele abraço fora do protocolo que conseguiu arrancar a Marcelo Rebelo de Sousa em 2016.

Manuel do Laço tem lugar cativo há mais de 50 anos e já assistiu a mais de mil jogos do Boavista. Hoje, ficou de fora (Foto: Global Imagens)

Esta noite deveria ser mais uma noite para o Manuel do Laço. Não foi. Acompanhou o jogo pela rádio por não ser um adepto do futebol na televisão mas nem por isso deixou de colocar o maior dos quase 40 laços que tem. Para ele, como confidenciou esta semana, “um estádio de futebol sem adeptos é como um céu sem estrelas ou um jardim sem flores”. Assim, num Bessa com quase 30 mil cadeiras vazias entre tarjas gigantes do clube e da claque Panteras Negras – que se fez ouvir no exterior por alguns elementos, colocados no topo de um prédio adjacente, sobretudo quando estava tudo mais em silêncio – e as imagens e cachecóis de sócios com lugares cativos, o espaço deste adepto especial que tem cativo há mais de cinco décadas entre o antigo e o atual recinto estava por preencher.

Ficha de jogo

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Boavista-Moreirense, 0-1

25.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Bessa, no Porto

Árbitro: Vítor Ferreira (AF Braga)

Boavista: Helton; Carraça, Ricardo Costa (Marlon, 77′), Neris, Fabiano; Carraça, Ackah (Yusupha, 77′), Bueno, Paulinho; Sauer, Heriberto (Cardozo, 64′) e Cassiano

Suplentes não utilizados: Bracali, Dulanto, Idris e Mateus

Treinador: Daniel Ramos

Moreirense: Mateus Pasinato; João Aurélio, Rosić, Iago, D’Alberto; Fábio Pacheco (Sori Mané, 90′), Alex Soares, Filipe Soares; Bilel, Gabrielzinho (Pedro Nuno, 66′) e Fábio Abreu

Suplentes não utilizados: Trigueira, Halliche, Nuno Santos, Nenê e Singh

Treinador: Ricardo Soares

Golo: Filipe Soares (48′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gabrielzinho (13′), Bilel (62′), Ackah (71′), Fabiano (88′ e 90+5′), Fábio Pacheco (89′), Pedro Nuno (90+1′), Neris (90+5′) e Rosic (90+5′); cartão vermelho por acumulação a Fabiano (90+5′)

Para tentar disfarçar o silêncio ensurdecedor, houve um curto foto de artifício na entrada das equipas. Ficou mais uma vez provado que Manuel do Laço acaba por personificar uma massa adepta que andou alguns adormecida após a descida de divisão mas que faz de tudo para apoiar a sua equipa. E que esta noite, a ouvir pela rádio, a ver pela televisão ou a apoiar no topo de um prédio, mereciam melhor do que a derrota com o Moreirense.

O Moreirense teve uma entrada melhor, com personalidade, de linhas subidas. Após uma recuperação na primeira fase de construção do Boavista, Alex Soares rematou forte de fora da área mas Helton Leite encaixou à primeira (3′) e logo no minuto seguinte foi Gabrielzinho a receber descaído na esquerda e a arriscar mas com a bola a desviar num defesa e a sair pela linha de fundo. Ricardo Soares aplaudia e gostava do que via mas bastou um livre direto de Sauer que acertou nas malhas laterais de Pasinato para a tendência do encontro sofrer uma viragem (9′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Boavista-Moreirense em vídeo]

Abdicando de um meio-campo mais de combate para colocar elementos com capacidade criativa como Paulinho ou Bueno e aproveitando a versatilidade de Neris que permitia ir alternando uma defesa a quatro com uma linha de três que dava mais profundidade ao jogo pelos corredores laterais, o Boavista tomou conta do jogo e criou mais duas boas oportunidades a marcar, com Sauer a tentar de novo a meia distância para defesa de Pasinato para canto (12′) e Heriberto, aberto na esquerda da área após assistência de Bueno, também podia ter feito melhor (20′). Mais uns minutos e Sauer, brasileiro de 27 anos formado no Joinville que passou por Arménia, Coreia do Sul e Bulgária, voltou a visar a baliza em busca do primeiro golo da época quando já leva um total de 21 jogos (25′).

Até ao intervalo não haveria mais nenhuma chance clara apesar de duas más saídas de Pasinato em bolas paradas que poderiam ter causado problemas ao Moreirense, que até tinha mais bola mas perdia a luta no meio-campo que permitia ao Boavista ir tentando visar a baliza contrária (9-2 em remates). No entanto, o segundo tempo começou como o arranque do jogo e os cónegos chegariam mesmo à vantagem, com Filipe Soares a aproveitar um corte defeituoso para ficar com a bola na área, tentar cruzar, ver a bola desviar no central axadrezado e passar por cima de Helton Leite, num lance confuso mas que acabaria por mudar o resto do encontro (48′).

Mantendo a paciência e a estratégia gizada para este encontro apesar da desvantagem, o Boavista conseguiu criar quatro grandes oportunidades em menos de 20 minutos para chegar ao empate que merecia: Heriberto surgiu sozinho ao segundo poste na esquerda a desviar de primeira mas a levar a bola a passar por cima raspando ainda na trave (55′); Sauer voltou a arriscar a meia distância fora da área de pé esquerdo mas a bola acabou por bater no poste da baliza dos cónegos (59′); Carraça apareceu também em zonas mais adiantadas para desviar de cabeça mas Pasinato conseguiu defender para canto (63′); Bueno tentou de fora da área mas não teve sucesso (73′).

Daniel Ramos ainda arriscou mais com as entradas de Marlon e Yusupha, os nervos começaram a tomar conta dos jogadores mas estava guardada para os descontos aquela que seria a derradeira e mais flagrante oportunidade: acabado de entrar em campo para substituir o incansável Fábio Pacheco (com marcas bem visíveis na coxa após uma entrada mais dura), Sori Mané cortou um remate na área com o braço mas Carraça atirou de penálti ao poste e, na recarga, o desvio de Pasinato foi ainda bater mais uma vez no ferro antes de sair da zona de perigo – e tudo já em período de descontos, que se viria a prolongar um pouco mais pelas várias paragens. Ainda houve tempo para um lance de confusão a envolver vários jogadores, um lance com o jogo partido em que Fábio Abreu podia ter feito mas não mais o 1-0 para o Moreirense seria desfeito, num castigo demasiado pesado para o Boavista.

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