Do Douro ao Barroso, aumentam aos poucos as taxas de ocupação das unidades de alojamento que possuem piscina e proporcionam uma maior privacidade e isolamento aos turistas portugueses que procuram um desconfinamento seguro.

Entre vinhas em socalcos no Douro, pelas escarpas do rio Corgo ou na serra do Barroso, entre um Património Mundial da UNESCO e um Património Agrícola Mundial, são muitas, variadas e para todas as carteiras as propostas para uma estadia no distrito de Vila Real. E os turistas começam a chegar, aos poucos, timidamente, após os meses de confinamento provocado por uma pandemia mundial que fechou as pessoas em casa e as fronteiras.

Na Quinta de la Rosa, no concelho de Sabrosa e muito próxima do Pinhão (Alijó), os primeiros hóspedes chegaram na sexta-feira, dia da reabertura deste hotel.

“Vai ser um ano difícil, temos esperança de conseguir recuperar uma parte, mas sabemos que não vamos conseguir ter os níveis que eram esperados para este ano”, afirmou à agência Lusa Alina Pereira, responsável pelo enoturismo da propriedade.

As perspetivas apontavam para que, em 2020, fossem batidos todos os recordes no turismo no Douro, mas a Covid-19 parou tudo. Alina Pereira revelou que nesta semana, que inclui dois feriados na quarta e quinta-feira, a taxa de ocupação do hotel é de 60%. Até a crise pandémica ter levado a sucessivos adiamentos e cancelamentos, a taxa de ocupação rondava entre os “85 e os 90%” para toda a época alta e era maioritariamente de turistas estrangeiros.

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A Quinta de la Rosa tem 23 quartos espalhados ao longo da propriedade, com vista para o rio e as vinhas, mas só abriu reservas para 18. O hotel distingue-se pelas suites com entrada independente, mas a quinta possui também mais três casas, todas com piscina, uma das soluções de alojamento muito procurada, neste momento, pelos portugueses.

“A própria distribuição da quinta, o facto de termos entradas individuais para os quartos, não estar tudo concentrado no mesmo edifício ajuda-nos também a nível da higienização e traz mais segurança para os clientes. O cruzamento nos corredores é mínimo”, afirmou Alina Pereira.

A responsável disse que, nos contactos prévios, os turistas perguntam se podem usufruir da piscina e de caminhadas pelas vinhas. Por aqui podem também passear de bicicleta, de barco ou comboio. “Notamos que procuram espaços mais abertos, mais ao ar livre, em que consigam circular e aproveitar o sol e sossego na piscina”, salientou.

A propriedade reabriu o hotel, mas também os restaurantes, Cozinha da Clara e Tim’s Terrace, bem como a loja e centro de visitas, mas as provas de vinho, que eram feitas com 20 pessoas, agora são apenas com oito.

Alina Pereira referiu que foram implementados rigorosos procedimentos de higiene, porque agora a palavra de ordem é a segurança. Pela propriedade foram espalhados doseadores de álcool gel, o uso de máscara é obrigatório para os funcionários e os clientes são também aconselhados a usar nos espaços comuns.

Apesar dos custos acrescidos com os novos equipamentos e materiais, a responsável disse que foi decidido “manter as tarifas que estavam a ser aplicadas para este ano”.

Como se estivesse escondida dentro da cidade de Vila Real, entre o rio Corgo, árvores e muros de pedra, a Casa Agrícola da Levada Eco Village possui nove casas rústicas espalhadas pela propriedade e todas elas estão ocupadas para esta semana de feriados — Dia de Portugal e Corpo de Deus.

Inês Albuquerque encara, por isso, a semana como uma espécie de “prova de fogo”, de teste a todos os procedimentos de segurança que foram sendo implementados ao longo das últimas semanas. A propriedade praticamente não fechou durante a crise pandémica, foi recebendo alguns hóspedes, pessoas que se deslocavam a Vila Real em trabalho. Os primeiros turistas começaram a chegar em maio, em que faturou apenas 12% do mês homólogo do ano passado.

Na Casa Agrícola da Levada os turistas ficam completamente independentes, numa casa autónoma. Se quiserem podem fazer compras ali mesmo, na “Loja Honesta”, de onde levam o que precisam como carne maronesa, alheiras, compotas, vinhos, frutas ou legumes colhidos na horta. Se preferirem as compras são-lhes entregues nas casas, tal como o pequeno-almoço que deixou de ser servido em ‘buffet’.

Para além da desinfeção do espaço, o check-in é feito online, a forma de contacto é preferencialmente por telemóvel, SMS ou WhatsApp. Para junho, a responsável disse já ter “bastantes reservas”, mas números “muito abaixo” dos anos anteriores, em que, aos turistas portugueses se juntavam também franceses, americanos ou canadianos.

A opção passou por manter as tarifas praticadas e também a já aplicada redução do preço por mais noites passadas na propriedade, uma forma de tentar manter os visitantes mais tempo no território.

Inês Albuquerque criou um espaço que lhe aviva as memórias de quando, em criança, vinha passar férias a Vila Real. Durante o confinamento trabalhou na horta onde juntou as flores aos legumes e frutas.

Ali as crianças são desafiadas a fazer jogos didáticos, podem ir buscar ovos ao galinheiro onde vivem 60 galinhas, tomar banhos de piscina, passear junto ao Corgo ou partir à descoberta do Douro, das serras do Alvão, Marão ou mais lá em cima, do Barroso. Na bagagem podem levar um cesto de piquenique com as iguarias de Vila Real: os covilhetes, cristas, pitos e a bola de carne.

No Boticas Parque — Natureza e Biodiversidade há 60 hectares de natureza para explorar. Aqui os visitantes podem caminhar, ajudar a alimentar os animais, como as vacas, cavalos e burros, ovelhas, galinhas ou os dois cães de gado transmontano. Podem também pescar trutas, refrescarem-se nas águas do rio Beça e até ir à horta colher o que a época estiver a dar.

No meio do parque, estão instalados dois bungalows, tipologias T1 e T2, e a lotação “está praticamente esgotada” até ao “final de agosto”. Nuno Teixeira, da Associação Celtiberus, dinamizadora do Boticas Parque, disse à Lusa que, depois de alguns cancelamentos em março, as reservas começaram a chegar no final de maio.

“Começamos a receber reservas para junho e julho. Por norma, aqui, agosto é um mês cheio, mas este ano esgotou mais depressa. Estamos a notar estadias mais longas, de quatro, cinco ou seis noites, o que não era normal anteriormente”, afirmou.

Os equipamentos reabriram a 1 de junho. Primeiro começaram a vir visitantes do Norte e agora são de todo o país. Este ano ficam de fora os espanhóis, que já representavam 40% dos clientes. “Aqui podem ficar isolados, mas livres no meio da natureza e em plena segurança”, salientou Nuno Teixeira.

E, segundo acrescentou, ao chegar nem precisam de passar pela receção, pois, no momento da reserva, é-lhes atribuído um código que permite a entrada nos alojamentos, onde têm à sua espera um pão tradicional e ervas aromáticas colhidas, ali mesmo, no parque. Também neste espaço foi decidido manter as tarifas praticados.

Douro preparado para pôr os barcos a trabalhar e à espera dos turistas

Após meses de paragem forçada devido à Covid-19, também os barcos turísticos estão prontos para pôr os motores a trabalhar. Várias empresas marítimo-turísticas estão instaladas na vila do Pinhão, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. As embarcações atracadas no cais, desde veleiros a barcos rabelo, esperam pelos turistas que, nos anos anteriores, invadiam este território provenientes dos mais diferentes países.

Na segunda-feira, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) informou o restabelecimento da atividade marítimo-turística na Via Navegável do Douro (VND), ressalvando que esta deve cumprir as recomendações emanadas pelas autoridades de saúde.

Na terça-feira, a Magnífico Douro teve os primeiros dois clientes após a pandemia. “Muito reduzido, não tem nada a ver com os anos anteriores, temos tido um passeio de barco por dia e são sempre casais ou famílias. A parte do distanciamento social está automaticamente assegurada”, afirmou Rui Ferreira, que trabalha naquela empresa.

A agência Lusa abordou uma família que fez um passeio de uma hora pelo rio Douro num barco rabelo. “Viemos passar quatro dias ao Douro. A viagem de barco foi ótima, fomos só nós, só a nossa família, foi muito bom”, disse Fernanda Pires.

São brasileiros, vivem no Porto há dois anos e procuraram o Douro que já conhecem bem por causa do calor e pela segurança que inspira. “Por enquanto está tudo muito organizado, não assusta. Tem lugares com muita gente e aí nos retraímos”, acrescentou Maria Amélia Pires, também da mesma família.

Rui Ferreira acredita que “aos poucos o movimento vai começar a crescer”. No entanto ressalvou que a maior parte do negócio era feita com turistas internacionais. “Não esperamos ter os números do ano passado, mas acreditamos que já vai dar para trabalhar”, salientou.

Segundo dados da APDL, em 2019 a Via Navegável do Douro atingiu os 1.644.937 passageiros, com uma taxa de crescimento de 26,92% . A maioria dos passageiros optou pelos cruzeiros na mesma albufeira (81%), seguindo-se os cruzeiros de um dia, os barcos hotel e as embarcações de recreio.

Em 2019, contabilizaram-se 85 operadores (77 em 2018 e 61 em 2017), 186 embarcações e uma capacidade total de 11.007 passageiros. Enquanto se aguardava pela reativação da atividade, foram sendo preparados os procedimentos de segurança agora obrigatórios, como as máscaras, o álcool gel e os produtos para a desinfeção que é feita após cada viagem.

A Companhia Turística do Douro arrancou no sábado. “Felizmente já temos algumas reservas, não são muitas, comparando com o ano passado não tem nada a ver, mas as pessoas começam a vir aos pouquinhos. A partir do momento em que souberam que íamos reabrir já caíram algumas reservas”, afirmou à Lusa Vânia Ramos.

A quebra de clientes “está a ser muito grande este ano”, mas, para esta responsável, “continuar parados é que já não dava mais”. “Mais vale trabalharmos com o público daqui, aos poucos vão reabrindo os aeroportos e penso que vai haver uma maior procura principalmente na época das vindimas”, frisou.

Com a reativação da atividade, a empresa vai retirando os treze funcionários do layoff, tendo decidido manter as mesmas tarifas até 2021. A maior embarcação da Companhia tem capacidade para 60 passageiros, mas a bordo, agora, só poderão seguir 40. Com saídas regulares, são feitos passeios de uma hora e de duas horas. “Temos algumas marcações para a próxima semana, poucas. Está a começar timidamente, mas está a arrancar”, afirmou Paulo Mesquita, da Ânima Durius.

Esta empresa de animação turística só faz passeios privados para famílias ou pequenos grupos de amigos, pelo que, segundo o responsável, “o risco de contacto é muito menor”. “Temos vindo gradualmente a aumentar e a crescer ao longo dos anos e prevíamos para 2020 um excelente ano, talvez o melhor de todos”, sublinhou Paulo Mesquita.

António Pinto, da Douro à Vela, está preparado para arrancar e a aguardar os clientes. “O nosso mercado efetivamente é o internacional, projetamos o negócio nesse sentido, trabalhamos para quem vem fazer férias a Portugal e visita o Douro”, afirmou.

As suas embarcações estão atracadas mais abaixo no rio, no Cais da Folgosa. “As nossas energias estão já a apontar para 2021. Estamos atentos à evolução da pandemia e a esperar que não haja uma segunda vaga até ao final do ano porque, a acontecer, 2020 seria um ano menos dois. É preocupante”, salientou.