Após meses de paragem forçada devido à Covid-19, os barcos turísticos estão prontos para pôr os motores a trabalhar e os clientes começam a chegar timidamente, a conta-gotas, ao cais do Pinhão, no coração do Douro vinhateiro.

Várias empresas marítimo-turísticas estão instaladas na vila do Pinhão, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. As embarcações atracadas no cais, desde veleiros a barcos rabelo, esperam pelos turistas que, nos anos anteriores, invadiam este território provenientes dos mais diferentes países.

Na segunda-feira, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) informou o restabelecimento da atividade marítimo-turística na Via Navegável do Douro (VND), ressalvando que esta deve cumprir as recomendações emanadas pelas autoridades de saúde.

Na terça-feira, a Magnífico Douro teve os primeiros dois clientes após a pandemia.

Muito reduzido, não tem nada a ver com os anos anteriores, temos tido um passeio de barco por dia e são sempre casais ou famílias. A parte do distanciamento social está automaticamente assegurada”, afirmou Rui Ferreira, que trabalha naquela empresa.

A agência Lusa abordou uma família que fez um passeio de uma hora pelo rio Douro num barco rabelo.

“Viemos passar quatro dias ao Douro. A viagem de barco foi ótima, fomos só nós, só a nossa família, foi muito bom”, disse Fernanda Pires.

São brasileiros, vivem no Porto há dois anos e procuraram o Douro que já conhecem bem por causa do calor e pela segurança que inspira.

“Por enquanto está tudo muito organizado, não assusta. Tem lugares com muita gente e aí nos retraímos”, acrescentou Maria Amélia Pires, também da mesma família.

Rui Ferreira acredita que “aos poucos o movimento vai começar a crescer”, no entanto ressalvou que a maior parte do negócio era feita com turistas internacionais. “Não esperamos ter os números do ano passado, mas acreditamos que já vai dar para trabalhar”, salientou.

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Segundo dados da APDL, em 2019 a Via Navegável do Douro atingiu os 1.644.937 passageiros, com uma taxa de crescimento de 26,92% .

A maioria dos passageiros optou pelos cruzeiros na mesma albufeira (81%), seguindo-se os cruzeiros de um dia, os barcos hotel e as embarcações de recreio.

Em 2019, contabilizaram-se 85 operadores (77 em 2018 e 61 em 2017), 186 embarcações e uma capacidade total de 11.007 passageiros.

Enquanto se aguardava pela reativação da atividade, foram sendo preparados os procedimentos de segurança agora obrigatórios, como as máscaras, o álcool gel e os produtos para a desinfeção que é feita após cada viagem.

A Companhia Turística do Douro arrancou no sábado. “Felizmente já temos algumas reservas, não são muitas, comparando com o ano passado não tem nada a ver, mas as pessoas começam a vir aos pouquinhos. A partir do momento em que souberam que íamos reabrir já caíram algumas reservas”, afirmou à Lusa Vânia Ramos.

A quebra de clientes “está a ser muito grande este ano”, mas, para esta responsável, “continuar parados é que já não dava mais“.

“Mais vale trabalharmos com o público daqui, aos poucos vão reabrindo os aeroportos e penso que vai haver uma maior procura principalmente na época das vindimas”, frisou.

Com a reativação da atividade, a empresa vai retirando os treze funcionários do layoff, tendo decidido manter as mesmas tarifas até 2021.

A maior embarcação da Companhia tem capacidade para 60 passageiros, mas a bordo, agora, só poderão seguir 40. Com saídas regulares, são feitos passeios de uma hora e de duas horas.

“Temos algumas marcações para a próxima semana, poucas. Está a começar timidamente, mas está a arrancar”, afirmou Paulo Mesquita, da Ânima Durius.

Esta empresa de animação turística só faz passeios privados para famílias ou pequenos grupos de amigos, pelo que, segundo o responsável, “o risco de contacto é muito menor”.

“Temos vindo gradualmente a aumentar e a crescer ao longo dos anos e prevíamos para 2020 um excelente ano, talvez o melhor de todos”, sublinhou Paulo Mesquita.

António Pinto, da Douro à Vela, está preparado para arrancar e a aguardar os clientes. “O nosso mercado efetivamente é o internacional, projetamos o negócio nesse sentido, trabalhamos para quem vem fazer férias a Portugal e visita o Douro”, afirmou. As suas embarcações estão atracadas mais abaixo no rio, no Cais da Folgosa.

As nossas energias estão já a apontar para 2021. Estamos atentos à evolução da pandemia e a esperar que não haja uma segunda vaga até ao final do ano porque, a acontecer, 2020 seria um ano menos dois. É preocupante”, salientou.

Portugal, que se encontra em situação de calamidade devido à pandemia, depois do estado de emergência, está a concretizar um plano faseado de desconfinamento e de reativação da economia.