Peixes, gnus, zebras, porcos-espinhos, aves, mulheres a lavar a roupa no rio, crianças a mergulhar, homens a pescar. Eis quão diversificada pode ser a dieta alimentar do Crocodylus niloticus, que, como o nome científico indica, é uma espécie africana, comum no Nilo e noutros rios, lagos, pântanos e represas abaixo do Saara e em Madagáscar, mas que está desde este fim de semana a ser procurado pelas autoridades espanholas, perto de Valladolid, na zona em que o Pisuergas encontra o Douro.

Avistado por dois adolescentes, terá cerca de 250 quilos e será “muito agressivo”, informaram entretanto os media espanhóis, dando eco aos avisos das autoridades, que querem toda a gente fora da água e longe das margens.

Diz a literatura científica sobre o animal, terão toda a razão: o crocodilo do Nilo pode viver até 45 anos e aguentar até um ano inteiro sem comer. Mas, quando o faz, não é propriamente esquisito ou seletivo. De acordo com a National Geographic, estima-se que, todos os anos, sejam cerca de 200 as pessoas mortas pelas mandíbulas desta espécie de crocodilo, a maior do continente. Não há estatísticas sobre os restantes animais de que se alimentam, mas é sabido que até outras espécies de crocodilos, mais pequenas, o Crocodylus niloticus poderá comer.

“Se estiveres a tomar banho num rio lamacento perto do crocodilo e ele tiver fome, ele vai aproximar-se e vai agarrar-te”, explicou em julho de 2015, à BBC, o sul-africano Simon Pooley, investigador do Imperial College, em Londres.

É sua a autoria de um estudo que, depois de reunir informação sobre os ataques de crocodilos do Nilo a humanos na África do Sul e na Suazilândia, entre 1984 e 2014, concluiu que a maior parte das investidas ocorreu em rios, quando as vítimas estavam a nadar ou tomar banho. Ao todo, ao longo dessas três décadas, foram registados 96 ataques e 101 vítimas — só 44 morreram.

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Outra das conclusões de Pooley: crianças são presas mais apetecíveis, por causa do tamanho, e é nos meses de maior calor que se dão todos os ataques contra humanos — o que deverá estar relacionado com o sangue frio dos crocodilos, que as temperaturas mais elevadas aquecem e dão mais energia. “Se estiver mais frio é considerado seguro, se estiver mais quente as pessoas nem sequer entram na água”, disse o investigador, explicando que em ambos os países esta informação já faz parte do senso comum. Se as temperaturas estiverem abaixo dos 19.ºC, é possível mergulhar, acima disso nem pensar.

Podem ter até 6 metros e pesar 750 quilos

Por conseguirem manter-se submersos durante períodos longos, que podem atingir os 60 minutos, os crocodilos do Nilo são conhecidos como predadores sorrateiros e perigosos — que tanto atacam na água como em terra. Em média, podem atingir os 6 metros de comprimento e os cerca de 750 quilos; medidas que ajudam a dar alguma dimensão ao espécime neste momento à solta no Douro espanhol: será grande mas poderia ser bem maior.

Os jornais locais dividem-se entre duas versões sobre como o animal africano poderá ter ali chegado: uns dizem que terá sido libertado pelo dono que o mantinha em cativeiro depois de ter crescido demasiado; outros que terá fugido da casa onde receberia honras de animal de estimação.

Seja como for, as regras são as mesmas: se avistar um crocodilo do Nilo, trate de fugir o mais rápida e silenciosamente possível. “Há pessoas que acham que fazer muito barulho pode assustá-los. É um conselho terrível”, avisou Simon Pooley, já em 2015. Outras dicas, para usar no caso de tudo correr mal e ser apanhado por um destes animais: os olhos e o nariz são zonas sensíveis, portanto bater-lhe pode dar resultado. Tentar atirar-lhe com qualquer coisa pela garganta abaixo, e fazer com que se engasgue, também.

Adorado pelos antigos egípcios, que veneravam (e temiam) Sobek, o deus com corpo de homem e cabeça de crocodilo, o Crocodylus niloticus esteve em vias de extinção entre os anos 40 e 60 do século passado, mas, graças a programas de conservação, como o implementado no Lago Nasser, justamente no sul do Egito, desde 2010 que, ao contrário de outros, já não corre risco de desaparecer.