O regresso em força às filmagens em Hollywood deverá acontecer em setembro, disseram esta terça-feira executivos de estúdios de filmes e televisão na sessão “Perspetiva de crescimento futuro”, apesar de a Califórnia ter autorização para retomar a 12 de junho.

“É um começo ter autorização do governador e isso é entusiasmante”, afirmou Jesse Sisgold, presidente da Skydance Media (“Exterminador Implacável – Destino Sombrio”, “Grace and Frankie”, “Jack Ryan”), na sessão ‘online’ “Perspetiva de crescimento futuro”, organizada esta terça-feira pela revista de entretenimento Variety.

“Mas agora, para nós, será uma análise caso a caso”, indicou Jesse Sisgold, durante a sessão. “É preciso olhar para o elenco, as condições de saúde”, disse. “Estamos a caminho de voltar a rolar as câmaras em setembro, é o nosso objetivo”.

A vice presidente sénior de Entretenimento e Conteúdo da Telemundo, Romina Rosado, apontou para um calendário semelhante. “Em termos de voltar em força a produção com ‘script’, antecipamos que seja em setembro”, declarou.

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O governador da Califórnia, Gavin Newsom, anunciou que as produções de filmes e televisão serão autorizadas novamente a partir de 12 de junho, sexta-feira, três meses depois da suspensão, devido à pandemia de Covid-19.

Mas tal não acontecerá de imediato para a Lionsgate Television (“Outlander”, “Orange Is the New Black”), disse a presidente Sandra Stern, apesar de referir que as equipas estão muito entusiasmadas com a ideia de voltarem.

“Não vamos poder regressar à produção em força até que tenhamos uma noção maior de que podemos fazê-lo em segurança e proteger os elencos, equipas e empregados que trabalham para nós”, explicou.

Stern disse que não será possível ter uma solução de “tamanho único” para todos os programas, e que a Lionsgate Television está a trabalhar com especialistas para desenvolver protocolos de segurança para o regresso ao trabalho.

As medidas discutidas pelos vários estúdios incluem a utilização de aplicações móveis de rastreamento de contactos, testes à Covid-19, medição de temperatura à entrada e saída, isolamento das equipas em quarentena e limite no número de pessoas em gravação.

Quando o regresso acontecer, considerou Julie McNamara, diretora de programação da CBS All Access (“Star Trek: Discovery”, “The Good Fight”), os condicionamentos terão influência no tipo de séries em que os estúdios vão investir. “As nossas decisões de programação vão provavelmente ser baseadas no que é que pode regressar à produção rapidamente, porque é mais fácil de produzir e mais limitado”, afirmou, “por oposição às séries que requerem interação com centenas de pessoas”. Isso, disse, será improvável num futuro próximo.

Jesse Sisgold considerou, por causa dos atrasos e limitações, que as produções dos próximos seis meses serão semelhantes ao que a audiência viu no último ano, refletindo as dificuldades de voltar ao trabalho enquanto a pandemia não for debelada. “O interessante será ver a lista de produções dentro de um ano a um ano e meio”.

Os executivos consideraram que várias tendências aceleradas pela Covid-19 e o movimento de protestos que se seguiu à morte de George Floyd, que estão a acontecer em simultâneo, vão trazer mudanças permanentes à indústria.

O especialista em médias e comunicações, Greg Boyer, analista principal da PwC, afirmou que a tecnologia terá um papel preponderante e que muita da inovação “a que as pessoas tinham resistido antes” será agora incontornável.

“É uma oportunidade para ‘reimaginar’ a forma como fazemos isto”, disse Sandra Stern, referindo-se às alterações forçadas pelo confinamento. “Estamos a descobrir que este é um período muito frutuoso e criativo”.

A executiva afirmou também que o levantamento popular contra o racismo e a rápida reação de artistas e estúdios, alinhando-se com o movimento Black Lives Matter, marcam “um ponto de inflexão”.

“Antes de Floyd tínhamos começado a ter conversas em torno da diversidade e de ter programação que refletisse melhor a audiência”, afirmou. “Isto intensificou e acelerou essas conversas para as levar à ação”.

Julie McNamara também frisou que, embora as empresas costumem ser cautelosas neste tipo de assuntos, o momento mostrou que tal não era possível. “Não me parece que vamos voltar ao habitual”, afirmou. “Penso que este é um momento de mudança”.

As “alterações tectónicas” que estão a acontecer na cultura, disse McNamara, vão refletir-se nas propostas de pessoas criativas e vozes diversificadas que terão mais possibilidades de serem ouvidas pela indústria.

Romina Rosado acrescentou que essa mudança “é um imperativo económico e demográfico”.