A poucos dias do início do verão ainda há equipas de sapadores na serra algarvia em ações de limpeza para garantir a criação de faixas de segurança e travar a propagação de incêndios, protegendo a floresta e as populações.

A 20 quilómetros de cidade de Loulé, na localidade de Barranco do Velho, os trabalhos concentram-se numa colina a uma centena de metros do aglomerado urbano, numa zona onde a orografia do terreno — em vale —, e a densidade da floresta a tornam mais suscetível à ocorrência de incêndios.

O barulho das máquinas faz-se ouvir no vale onde estão encaixadas algumas das casas desta aldeia da serra do Caldeirão, que por aqui viu passar o fogo em 2004, num incêndio que teve início em Almodôvar, no distrito de Beja, no qual arderam 25,7 mil hectares de floresta.

Isto é um trabalho em contínuo durante todo o ano, com o levantamento exaustivo dos aglomerados para proteger as pessoas e os seus bens e definimos o raio de 100 metros onde fazemos a limpeza” revela à Lusa João Matos Lima, da Proteção Civil de Loulé.

No terreno, vários operadores com roçadoras fazem “a descontinuidade dos combustíveis”, que se traduz na limpeza da vegetação e do mato entre as árvores, assim como a “desramação”, retirando todos os troncos e “evitando que as copas se toquem”, adianta.

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Uma máquina de rastro com destroçador e um triturador de ramos fazem os acabamentos finais, deixando o terreno limpo e com uma “considerável redução do material combustível”, dificultando a progressão do incêndio e permitindo “um acesso mais fácil a quem o for combater”.

Estes homens fazem parte da equipa de sapadores florestais da Associação de Produtores Florestais da Serra do Caldeirão e da Equipa Municipal de Intervenção Florestal que garante a “silvicultura preventiva e uma primeira intervenção caso seja necessário”.

Com uma vasta região serrana, a autarquia louletana tem estabelecido parceiras com várias entidades, como a associação de caçadores local, a quem foram fornecidos “‘kits’ de primeira intervenção” para a vigilância e um primeiro combate a um foco de incêndio, acrescenta.

O Regimento da Infantaria do Exército já deu por terminados os trabalhos que permitiram “a abertura de 80 quilómetros de aceiros para beneficiar a rede viária florestal”, sublinha João Matos Lima.

O Algarve tem sido afetado por vários grandes incêndios nos últimos anos, como o de 2018, em Monchique, o maior da Europa nesse ano, com 27 mil hectares ardidos, num concelho que já tinha sido fustigado em 2003 com 16 mil hectares queimados. Em 2012 um fogo na serra de Tavira fez desaparecer 24,8 hectares de floresta e em 2004 foram 25,7 hectares ardidos entre os concelhos de Almodôvar, Loulé, Silves e São Brás de Alportel.

Para o comandante operacional distrital da Proteção Civil do Algarve “a orografia do terreno e os ventos de montanha e marítimos” dão aos incêndios da região “uma apetência para percorrerem grande áreas, caso não sejam dominados numa fase inicial”.

Por isso, segundo Vítor Vaz Pinto, “a melhor forma de combater é prevenir” e cada um tem de interiorizar, nas áreas de risco, “as medidas de autoproteção e implementá-las”.

Para aquele responsável, a tarefa da proteção no combate aos incêndios “estaria facilitada se os espaços rurais e florestais estivessem ordenados e devidamente limpos” até porque nem sempre os meios “chegam a tempo onde fazem falta”.

Ao nível do combate, o responsável garante que a população “deve estar consciente que tem um dispositivo de resposta profissional com provas dadas” e que “vai responder com eficiência a todas as situação com que se deparar”.

Este ano registou-se uma redução no número de ignições, no entanto, a área ardida na região já é superior à do ano passado, devido a um incêndio que deflagrou a 3 maio, em Vila do Bispo, afetando um área superior a 25 hectares.

Num análise a vários anos, Vítor Vaz Pinto indicou ter havido, nos últimos tempos, “uma certa inversão” no número de ignições, no que classifica como “uma maior consciência das pessoas e do seu comportamentos de risco”, destacando que “só assim, se poderá cuidar deste património que é de todos”.

No período mais crítico de prevenção ao combate a incêndios no Algarve, entre 1 de julho e 30 setembro, estarão em prontidão um total de 883 operacionais e 206 veículos em 166 unidades operacionais.

O dispositivo é complementado por sete meios aéreos: quatro helicópteros bombardeiros ligeiros, que operam a partir de Monchique, Loulé, Cachopo (Tavira) e Ourique (Beja), um pesado, que irá operar a partir de Loulé, e dois aviões bombardeiros médios, sediados na Base Aérea de Beja.