Nem a reabertura dos restaurantes, permitida a partir de 18 de maio, está a deixar o setor otimista quanto à manutenção de postos de trabalho. Segundo o estudo “ManpowerGroup Employment Outlook Survey”, que será divulgado esta terça-feira e ao qual o Observador teve acesso, quase duas em cada cinco (38%) empresas dos setores da restauração e da hotelaria antecipam reduzir a força de trabalho no terceiro trimestre do ano, ou seja, entre julho e setembro. Apenas 9% preveem contratar, outras 9% não sabem e 44% dizem que não haverá alterações no número de trabalhadores (ou seja, nem contam despedir nem consideram contratar mais pessoal).

Aliás, só 13% das empresas de restauração e hotelaria esperam recuperar, nos próximos três meses, os níveis de emprego pré-Covid. E 41% das empresas do setor apenas prevê retomar esses valores em 2021.

O estudo inquiriu 387 empresas em Portugal de sete setores: construção, finanças e serviços, indústria, restauração e hotelaria, venda a retalho ou por grosso, outras atividades produção (onde se inclui a agricultura e eletricidade, gás e água) e outras atividades de serviços (como o setor dos transportes, logística e comunicações e o subsetor Estado). Ao todo, as empresas preveem uma redução da criação líquida de emprego (diferença entre a percentagem de empregadores que planeiam aumentar a sua força de trabalho e a percentagem de empregadores que planeia reduzi-la) na ordem dos 9% no terceiro trimestre do ano — a previsão mais baixa desde que o estudo começou a ser feito, em 2017. Trata-se de uma redução de 22 pontos percentuais face às estimativas do trimestre anterior e de 21 pontos em relação ao mesmo período do ano passado.

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Por outras palavras, das 387 empresas inquiridas, 19% antecipam uma diminuição da força de trabalho no terceiro trimestre de 2020, 62% não avançam qualquer alteração e apenas 10% anteveem um aumento das intenções de contratação.

Depois da hotelaria e da restauração, o setor mais pessimista é o das finanças e serviços, que prevê um quebra da criação líquida de emprego de 19% — 28% antecipa despedir e 9% irá, provavelmente, contratar trabalhadores. Seguem-se a indústria (-12%); a venda a retalho ou por grosso (-10%); a construção (-6%); outras atividades de serviços (-2%) e outras atividades produção (-1%).

Por outro lado, o subsetor agrícola tem uma projeção otimista e estima mesmo uma criação de emprego na ordem dos 2%. Já o subsetor público tem a “mais elevada perspetiva de crescimento de emprego de todos os setores analisados” (criação líquida de emprego de 11%). Ao Observador, Rui Teixeira, chefe de operações da ManpowerGroup Portugal, diz que “os profissionais de saúde serão sem dúvida a parte mais significativa das contratações antecipadas no setor público”.

Além disso, 56% das empresas estima que apenas vai recuperar os níveis de emprego dentro de 12 meses — e nem o consumo interno será suficiente para mudar as perspetivas. “Apesar da gradual redução nas medidas de confinamento, o aumento da atividade será maioritariamente alimentado pelo consumo interno, o que, acompanhado pelas restrições que exige a garantia do distanciamento social, não permitirá um crescimento que justifique a abertura de novas contratações“, adianta ainda Rui Teixeira.

Pessimismo é menor no sul, nas pequenas e nas grandes empresas

Apesar de a região sul estar muito dependente do setor da hotelaria e da restauração é, no entanto, a que está menos pessimista quanto à contratação: 15% das empresas inquiridas diz que vai despedir e 11% vai contratar (66% não prevê mudanças), ou seja, a região estima uma redução da criação líquida de emprego de 4%. “Note-se que vimos de um trimestre onde, segundo os dados do IEFP, já houve um forte aumento na taxa de desemprego nesta região (41,4% durante o mês de março) e portanto este números traduzem a continuidade nessa tendência”, explica a ManpowerGroup.

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Por outro lado, 16% das empresas do Norte adiantam que vão dispensar funcionários e apenas 7% deverá contratar mais. Para Rui Teixeira, este cenário mais negativo do que no sul deve-se ao facto de o norte concentrar “uma grande percentagem do setor produtivo industrial em Portugal —  representa 51% do total das empresas do setor industrial, segundo dados de 2019 do Banco de Portugal, bem como  40% do volume de negócios gerado pelos setores da indústria e da construção”. “Nestes dois setores há uma forte quebra nas perspetivas de contratação, com reduções de mais de 20 pontos percentuais com respeito às projeções do trimestre anterior, pré-Covid”, explica ainda.

Além disso, os números podem também refletir o “impacto das projeções das empresas exportadoras“, que viram a atividade afetada pelo confinamento internacional, e que representam cerca de 19% do total das empresas da região, também segundo o Banco de Portugal.

Por último, as pequenas e as grandes empresas são as que deverão ter uma menor redução da criação líquida de emprego (-5% em ambos os casos). No lado oposto, estão as médias empresas: 30% deverá diminuir a força de trabalho e 13% contratar (ou seja, uma redução de 17% na criação de emprego).